Ó Tu, meu refúgio e minha força, leva-me, como outrora levaste o teu
servo Moisés, ao interior do teu deserto, ao lugar onde a sarça arde sem
se consumir (cf Ex 3), onde a alma, invadida pelo fogo do Espírito
Santo, se torna ardente sem se consumir, mas purificando-se.
Leva-me a esse lugar onde não é possível permanecer e por onde não se
avança sem antes se terem desatado as correias dos entraves carnais,
onde Aquele que é não Se deixa certamente
ver tal como é, mas onde, no entanto, se pode ouvi-Lo dizer: «Eu sou
Aquele que sou!» Nesse lugar, temos de cobrir o rosto para não ver o
Senhor face a face (1Rs 19,13), mas também temos de nos esforçar por
escutar com humildade e obediência, para discernir o que Deus nos diz no
interior do coração.
Enquanto espero, esconde-me, Senhor, no recôndito da tua tenda (Sl 26,5)
no dia da desgraça; esconde-me ao abrigo da tua face longe das línguas
provocadoras (Sl 30,21), porque me impuseste o teu jugo suave e o teu
fardo leve (Mt 11,30). E, quando me fazes medir a distância entre o teu
serviço e o do mundo, com voz terna e doce me perguntas se é mais
agradável servir-Te a Ti, o Deus vivo, do que a deuses estranhos (2Cr
12,8). Então, eu adoro essa mão que pesa sobre mim e exclamo: «Já me
dominaram por demasiado tempo outros mestres, que não Tu! Só a Ti desejo
pertencer, porque o teu braço me mantém erguido!»
Comentário de Guilherme de Saint-Thierry
monge beneditino, depois cisterciense
Meditações
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