Apesar de não saberem nem por onde anda o Sol, os astrólogos dizem prever o seu futuro e o da humanidade...
© Dennis van de Water/SHUTTERSTOCK
A Nova Era (New Age) é, segundo os místicos e astrólogos, o advento da Era de Aquário.
Para eles, estamos no final da Era de Peixes, dominada pelo pensamento
cristão “repressivo, retrógrado e preconceituoso”. O próximo Eon (ou
Era) será o fim da “dominação cristã” e o início de um tempo de luz,
tecnologia e paz. As bases para estas ideias mirabolantes provêm da
astrologia, e esta, por sua vez, rouba (e não sabe como usar) conceitos
da astronomia. É preciso, portanto, compreender um pouco desta ciência
milenar para poder apreciar a falta de nexo das afirmações dos astrólogos e dos adeptos da Nova Era.
Antes de chegar à noção de “Eras”, é preciso relembrar os três principais (mas não os únicos) movimentos da Terra:
- O primeiro é o de rotação em torno do próprio eixo, que dura aproximadamente 24 horas e determina os dias e as noites.
- O segundo movimento é o de translação, em torno do Sol, que dura um pouco mais que 365 dias. Ele determina quais partes do céu estão visíveis à noite: se no movimento da Terra o Sol fica na frente de alguma constelação, não podemos vê-la; é preciso esperar alguns meses para estarmos em outro ponto da órbita. Desta forma, falamos de “céu de inverno” e “céu de verão”, por exemplo. Quem gosta de espiar o céu sabe: as três Marias aparecem bem no verão e o Escorpião no inverno.
- O terceiro movimento é o de precessão. É o mesmo movimento executado por um pião quando está próximo de parar: uma pequena oscilação (rodopio) do eixo de rotação.
Resumindo, a Terra gira em torno do próprio eixo, que oscila
levemente, e ao mesmo tempo gira em torno do Sol. Complicado? Não
esqueça que o eixo de rotação terrestre é inclinado cerca de 23°, ou
seja, a Terra gira um pouco “deitada” na sua órbita em torno do Sol.
Estes são os movimentos necessários para compreendermos o que os
místicos chamam de “Nova Era de Aquário”. Só mais um item: as constelações.
Para demarcar o céu e as estações do ano, os astrônomos o dividiram em
regiões. São as constelações. As estrelas de uma mesma constelação não
precisam estar ligadas entre si. É apenas uma divisão aparente do céu,
para facilitar a localização das estrelas. Desde tempos remotos, os
homens criaram essas divisões e, atualmente, a União Astronômica
Internacional divide o céu em 88 constelações, de tamanhos diversos.
Muitos nunca se interrogaram sobre isto, mas não é só à noite que
temos estrelas. De dia também elas estão sobre nós, embora a luz
espalhada do Sol nos impeça de vê-las a olho nu: o céu azul é mais
brilhante do que elas. O Sol, durante o dia, está sempre na frente de
alguma constelação. Durante o ano, ele passa na frente de 13
constelações. São as constelações do Zodíaco. Tenho
certeza de que você conhece pelo menos 12 delas: são os signos, Áries,
Peixes, Touro, Escorpião etc. Não há nada de especial com elas, exceto o
fato de que o Sol passa pela sua frente. Se você nasceu entre fevereiro
e março, os astrólogos dizem que o seu signo é Peixes porque o Sol
estaria na frente de Peixes de fevereiro a março. Usei este tempo verbal
porque, na verdade, o Sol não está na frente de Peixes durante o
período que eles citam. Parece que eles não fazem observações nem sabem
fazer contas. Alguns, alertados disto, inventaram conceitos esdrúxulos
como “constelações teóricas” (as deles) e “constelações naturais” (as
reais). O fato é que aquilo que eles “calculam” não bate com a
realidade.
Voltemos à questão da Terra e do seu giro um pouco inclinado. Isto
faz com que o Sol cruze, em março e setembro, o equador celeste, uma
linha imaginária que divide o céu em duas calotas, uma norte e outra
sul. O ponto exato em que o Sol cruza este equador em março se chama
Ponto de Áries. Hoje, este ponto está sobre a constelação de Peixes, não
de Áries. Ele mudou (e continua mudando) de posição
por causa do terceiro movimento que citei, o da precessão dos
equinócios. Este movimento tem um período de 25.800 anos. Ao longo desse
tempo, o Ponto de Áries passa durante alguns milênios sobre algumas
constelações. É daí que os astrólogos tiram a estória das Eras. De
Áries, este ponto passou para Peixes (agora) e, por volta de 2.600,
estará na constelação de Aquário.
Se os astrólogos não sabem nem quando o Sol está de verdade na frente
de uma constelação, imagine-os calculando a época em que o Ponto de
Áries estará sobre a constelação de Aquário! Alguns dizem que isto já
ocorreu na década de 1960; outros, que será neste ano; os mais
precavidos põem a data mais além. Nenhum deles, no entanto, parece
consultar uma tabela astronômica.
Se tantos termos novos são um pouco confusos para você, não se preocupe. O que precisa ficar claro é que as constelações são apenas delimitações do céu criadas pelo homem
por motivos diversos, mas todos práticos, como marcar o início e o fim
dos períodos de colheita, por exemplo. Devido aos vários movimentos da
Terra, o Sol passa por alguns locais do céu que nós consideramos
especiais meramente porque marcam posições interessantes, como o Ponto
de Áries na passagem do Hemisfério Sul para o Norte. Estes pontos não
são fixos: eles se movem como a Terra.
Os astrólogos e os místicos usam estes termos técnicos sem propriedade e de forma errônea. Apesar de não saberem nem por onde anda o Sol, eles dizem prever o seu futuro e o da humanidade…
O prof. Alexandre Zabot, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é físico e doutor em Astrofísica. Aleteia lhe agradece pela generosidade de compartilhar conosco os seus artigos sobre as relações entre fé e ciência e convida os leitores a conhecerem o rico blog do professor, AlexandreZabot.
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