A devoção ao Coração de Jesus tem um
duplo objetivo. Principalmente, honrar, pela adoração e o culto público,
o Coração de carne de Jesus Cristo, e, depois, o amor infinito de que
este coração se abrasou por nós desde a sua criação, e que ainda O
consome no Sacramento de nossos altares.
Tudo o que pertence à pessoa do Filho de
Deus é infinitamente digno de veneração. A menor parcela de seu Corpo,
uma gotazinha de seu Sangue, merece as adorações do Céu e da Terra. Até
mesmo as coisas desprezíveis em si mesmas se tornam veneráveis ao mero
contato com sua Carne, tais como a cruz, os cravos, os espinhos, a
esponja, a lança e todos os instrumentos de seu suplício.
Quanto não se deve, pois, venerar seu
Coração, cuja excelência se baseia na sublimidade das funções que
exerce, na perfeição dos sentimentos que produz e das ações que inspira!
Poucas pessoas meditam nas virtudes, na
vida, no estado de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Quantas O
consideram como uma estátua, e pensam que Ele aí está somente para nos
perdoar e receber as nossas súplicas. É um erro. Nosso Senhor aí vive e
opera. Contemplai-O, estudai-O, imitai-O!
Podemos dirigir ao Divino Coração de Jesus as orações, homenagens e adorações que oferecemos ao próprio Deus.
Ah! Quanto se enganam os que, ouvindo
estas palavras: “Ó Coração de Jesus”, dirigem todos os seus pensamentos
ao órgão material, considerando esse Coração um membro sem vida e sem
amor, tratando-O apenas como relíquia santa.
Enganam-se ainda os que pensam que esta
devoção divide Jesus Cristo, e, assim, restringem ao seu Coração um
culto que deve ser prestado à sua Pessoa toda. Não se convencem de que
não excluímos as outras partes do composto divino do Homem-Deus, quando
honramos o Coração de Jesus, porquanto, venerando-Lhe o Coração,
queremos celebrar todos os atos, a vida total de Jesus Cristo, que é a
manifestação exterior de seu Coração.
Ao Coração de Jesus, vivo no Santíssimo
Sacramento, honra, louvor, adoração e realeza por todos os séculos dos
séculos! (cf. Ap 5,12-13).
Cerquemos portanto a Eucaristia de nossas adorações, de nosso amor.
Assim como se formam no sol e dele se
irradiam os raios ardentes que fertilizam a terra e conservam a vida, do
mesmo modo é do coração que emanam as doces e fortes influências que
comunicam o calor vital e o vigor a todos os membros do corpo.
Se o corpo enfraquece, o corpo todo
definha; se o coração sofre, os membros sofrem também, os órgãos não
funcionam regularmente e o organismo todo se abala.
A função do Coração de Jesus foi
vivificar, fortificar, sustentar todos os seus membros, órgãos e
sentidos, por influências contínuas, como o princípio das ações, dos
afetos, das virtudes e de toda a sua vida do Verbo Encarnado. É que o
coração, no dizer dos filósofos, é o foco do amor, e visto que foi o
amor o móvel da vida de Jesus, é ao seu Coração que devemos referir
todos os seus mistérios e todas as suas virtudes.
Assim como os olhos veem e os ouvidos
ouvem, o coração ama. É o órgão da alma na produção dos afetos e do
amor, tanto que, na linguagem vulgar, confundem-se estas duas
expressões, designando-se o coração para exprimir o amor e este para
significar aquele.
Quereis conhecer a vida do Coração de Jesus? Ela se divide entre o Pai Celeste e nós.
Protege-nos,
e, enquanto encerrado numa Hóstia frágil, o Salvador parece dormir o
sono da impotência, o seu Coração vela. “Ego dormio et cor meum vigilat”
(Ct 5,2).
Vela quando pensamos n’Ele e quando não
pensamos. Não tem repouso; dirige constantemente ao Pai clamores de
perdão em nosso favor. Jesus nos encobre com o Coração e nos preserva
dos golpes da cólera divina provocada por nossos incessantes pecados.
Seu Coração aí está como sobre a Cruz, aberto e deixando correr sobre as
nossas cabeças torrentes de graça e de amor. Aí está para nos defender
dos nossos inimigos, qual mãe que, a fim de proteger o filho de um
perigo, o estreita ao coração pata que ele somente seja atingido depois
dela.
“E mesmo que a mãe esquecesse o filho, nos diz Jesus, jamais vos esquecerei!” (Is 49,15)
Conservai-vos, portanto, bem pequenino
sobre o Coração do Divino Mestre, como a criancinha, amedrontada, se
refugia no regaço materno.
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