O primeiro e o maior mandamento é este: «Amarás o Senhor teu Deus».
Mas a nossa natureza é fraca; e o nosso primeiro degrau no amor é
amarmo-nos a nós próprios, antes de mais por causa de nós próprios. […]
Para nos impedir de resvalar por este declive, Deus deu-nos o preceito
de amar o nosso próximo como a nós a mesmos. […] Ora, constatamos que
isso não é possível sem Deus, sem reconhecermos que tudo vem dele e que
sem Ele nada podemos. Neste segundo degrau, o homem volta-se para Deus,
mas ainda O ama apenas por causa de si mesmo e não por Ele. […]
Mas é preciso ter um coração de mármore ou de bronze para não sermos
tocado pelo auxílio que Deus nos dá quando nos voltamos para Ele nas
provações. Nas provações, é impossível não saborear como Ele é bom (Sl
33,9). E depressa começamos a amá-Lo mais por causa da doçura que nele
encontramos do que por causa do nosso interesse. […] Quando estamos
nessa situação, não temos dificuldade em amar o nosso próximo como a nós
mesmos. […]
Amamos os outros como somos amados, como Jesus Cristo nos
amou. É esse o amor daquele que diz com o salmista: «Louvai o Senhor
porque Ele é bom» (Sl 117,1). Louvar o Senhor, não porque Ele é bom para
nós, mas simplesmente porque Ele é bom, amar a Deus por Deus e não por
nós próprios, é o terceiro degrau do amor.
Felizes os que puderam subir até ao quarto degrau do amor: amar-se a
si mesmos só com o amor de Deus. […] Quando saberá a minha alma, voltada
para o amor de Deus, esquecida de si própria, não se julgando mais do
que um vaso quebrado, lançar-se para Deus para se perder nele e ser um
mesmo espírito com Ele? (1Cor 6,17). Quando poderá dizer de si: «A minha
carne e o meu coração desfalecem, mas o Senhor é para sempre a rocha do
meu coração e a minha herança» (Sl 72,26)? Santos e felizes os que
puderam experimentar qualquer coisa de semelhante durante esta vida
mortal, mesmo que raramente, mesmo que uma única vez. Esta não é uma
felicidade humana, é viver já no céu.
São Bernardo
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