A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum convida-nos a olhar para a
vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano
de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana
para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilônia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilônia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.
LEITURA I – Ez 17, 22-24
Leitura da profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor Deus: «Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos, Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou plantá-lo num monte muito alto.
Na excelsa montanha de Israel o plantarei e ele lançará ramos e dará frutos e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos.
E todas as árvores do campo hão-de saber que Eu sou o Senhor; humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta, faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca.
Eu, o Senhor, digo e faço».
Na excelsa montanha de Israel o plantarei e ele lançará ramos e dará frutos e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos.
E todas as árvores do campo hão-de saber que Eu sou o Senhor; humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta, faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca.
Eu, o Senhor, digo e faço».
AMBIENTE
No ano de 609 a. C., o faraó Necao derrotou o rei Josias e colocou no
trono de Judá Joaquim, que durante algum tempo foi vassalo do Egipto.
Contudo, em 605 a.C., Nabucodonosor derrotou as tropas assírias e
egípcias em Carquemish, prosseguiu a sua campanha em direcção ao Egipto e
assumiu o controlo da Síria e da Palestina. Joaquim ficou a pagar
tributo aos babilónios. Quando, em 601, Nabucodonosor não conseguiu
conquistar o Egipto, Joaquim julgou chegada a hora de se libertar do
domínio babilónico. Contudo, Nabucodonosor reagiu sitiando Jerusalém, em
598 a. C., e Joaquim morreu durante o cerco, ou foi deportado para a
Babilónia. Sucedeu-lhe Jeconias que, ao fim de três meses de
resistência, se rendeu aos babilônios (597 a.C.).
Nabucodonosor instalou, então, no trono de Judá um tal Sedecias. Durante algum tempo, Judá manteve-se tranquilo, pagando pontualmente os tributos devidos aos babilónios; mas, ao fim de algum tempo, aproveitando a conjuntura política favorável, Sedecias aliou-se com os egípcios e deixou de pagar o tributo. Nabucodonosor enviou imediatamente um exército que cercou Jerusalém. Apesar do socorro de um exército egípcio, Jerusalém teve de se render aos babilônios. Sedecias, aproveitando as sombras da noite, tentou fugir da cidade; mas foi feito prisioneiro, viu os seus filhos serem assassinados e ele próprio foi levado prisioneiro para a Babilônia, onde acabou os seus dias.
Ezequiel, o “profeta da esperança”, exerceu o seu ministério na Babilônia no meio dos exilados judeus. O profeta fez parte de uma primeira “leva” de exilados que, em 597 a.C., chegou à Babilônia, após a derrota de Jeconias.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e um novo grupo de exilados foi encaminhado para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
É precisamente neste contexto que Ezequiel propõe “um enigma”, “uma parábola”, que nos é apresentada ao longo do capítulo 17 do seu livro. Fala de uma “águia” (provavelmente o rei Nabucodonosor), que “veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais elevado” (provavelmente o rei Jeconias) e levou-o para o país dos comerciantes (isto é, a Babilónia). Em seu lugar, plantou outra árvore (provavelmente Sedecias). Esta árvore, uma “videira”, não irá, contudo, prosperar, apesar das tentativas de aliança com o Egipto. Mais, será levado prisioneiro para a Babilônia e lá morrerá (Ez 17,10).
A mensagem deste “enigma” é óbvia: os exilados não devem alimentar ilusões ao ver as jogadas políticas de Sedecias, aliado com os egípcios. A política de Sedecias, em Jerusalém, não significará a liberdade dos exilados, mas, pelo contrário, conduzirá a uma nova catástrofe.
Estará então tudo terminado? Já não há esperança? Deus abandonou definitivamente o seu Povo e esqueceu as suas promessas de salvação?
É precisamente aqui que se encaixa o oráculo de salvação que a primeira leitura deste domingo nos apresenta: não, apesar das dramáticas circunstâncias do tempo presente, Deus não abandonou o seu Povo, mas irá construir com ele uma história nova, de salvação e de graça.
Nabucodonosor instalou, então, no trono de Judá um tal Sedecias. Durante algum tempo, Judá manteve-se tranquilo, pagando pontualmente os tributos devidos aos babilónios; mas, ao fim de algum tempo, aproveitando a conjuntura política favorável, Sedecias aliou-se com os egípcios e deixou de pagar o tributo. Nabucodonosor enviou imediatamente um exército que cercou Jerusalém. Apesar do socorro de um exército egípcio, Jerusalém teve de se render aos babilônios. Sedecias, aproveitando as sombras da noite, tentou fugir da cidade; mas foi feito prisioneiro, viu os seus filhos serem assassinados e ele próprio foi levado prisioneiro para a Babilônia, onde acabou os seus dias.
Ezequiel, o “profeta da esperança”, exerceu o seu ministério na Babilônia no meio dos exilados judeus. O profeta fez parte de uma primeira “leva” de exilados que, em 597 a.C., chegou à Babilônia, após a derrota de Jeconias.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e um novo grupo de exilados foi encaminhado para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
É precisamente neste contexto que Ezequiel propõe “um enigma”, “uma parábola”, que nos é apresentada ao longo do capítulo 17 do seu livro. Fala de uma “águia” (provavelmente o rei Nabucodonosor), que “veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais elevado” (provavelmente o rei Jeconias) e levou-o para o país dos comerciantes (isto é, a Babilónia). Em seu lugar, plantou outra árvore (provavelmente Sedecias). Esta árvore, uma “videira”, não irá, contudo, prosperar, apesar das tentativas de aliança com o Egipto. Mais, será levado prisioneiro para a Babilônia e lá morrerá (Ez 17,10).
A mensagem deste “enigma” é óbvia: os exilados não devem alimentar ilusões ao ver as jogadas políticas de Sedecias, aliado com os egípcios. A política de Sedecias, em Jerusalém, não significará a liberdade dos exilados, mas, pelo contrário, conduzirá a uma nova catástrofe.
Estará então tudo terminado? Já não há esperança? Deus abandonou definitivamente o seu Povo e esqueceu as suas promessas de salvação?
É precisamente aqui que se encaixa o oráculo de salvação que a primeira leitura deste domingo nos apresenta: não, apesar das dramáticas circunstâncias do tempo presente, Deus não abandonou o seu Povo, mas irá construir com ele uma história nova, de salvação e de graça.
MENSAGEM
Deus não esqueceu a promessa feita, por intermédio do profeta Natan
(cf. 2 Sm 7), e na qual assegurou a David a continuidade do seu trono. É
verdade que a dinastia de David (o “ramo mais elevado” do “cedro” – Ez
17,3-4) foi arrancada; mas Deus não abandonou o seu Povo: Ele próprio
vai tomar um “ramo novo”, plantá-lo na montanha de Israel, fazê-lo dar
frutos e torná-lo uma árvore resistente e de grande porte (Ez 17,22-23) –
ou seja, irá restabelecer a dinastia davídica em Jerusalém, assegurando
ao seu Povo um futuro pleno de vida, de felicidade e de paz sem fim.
O texto sublinha, antes de mais, a presença onipotente de Deus na história da humanidade. Ele preside à história humana, tem um projeto de salvação e conduz sempre a caminhada dos homens de acordo com o seu plano. O poder orgulhoso dos impérios humanos nada pode contra esse Deus que é o Senhor da história e que, com paciência e amor, vai concretizando o seu projeto.
Além disso, Ezequiel assegura aos exilados a “fidelidade” de Deus às suas promessas. Deus não falha, não esquece os seus compromissos, não abandona esse Povo com quem se comprometeu. Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às suas promessas e aos compromissos que assumiu com o seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.
O nosso texto contém ainda uma indicação sobre a forma de atuar de Deus, sobre a “estranha” lógica de Deus: Ele toma aquilo que é pequeno aos olhos dos homens (“um ramo novo” – Ez 17,22) e, através dele, vence o orgulho e a prepotência, confunde os poderosos e exalta os humildes. Deus prefere os pequenos, os débeis, os pobres (aqueles que na sua humildade e simplicidade estão sempre disponíveis para acolher os desafios e os dons de Deus); e é através deles que concretiza os seus projetos de salvação e de graça.
Estes poucos versículos contêm um imenso capital de esperança, que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada do Povo de Deus pela história.
O texto sublinha, antes de mais, a presença onipotente de Deus na história da humanidade. Ele preside à história humana, tem um projeto de salvação e conduz sempre a caminhada dos homens de acordo com o seu plano. O poder orgulhoso dos impérios humanos nada pode contra esse Deus que é o Senhor da história e que, com paciência e amor, vai concretizando o seu projeto.
Além disso, Ezequiel assegura aos exilados a “fidelidade” de Deus às suas promessas. Deus não falha, não esquece os seus compromissos, não abandona esse Povo com quem se comprometeu. Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às suas promessas e aos compromissos que assumiu com o seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.
O nosso texto contém ainda uma indicação sobre a forma de atuar de Deus, sobre a “estranha” lógica de Deus: Ele toma aquilo que é pequeno aos olhos dos homens (“um ramo novo” – Ez 17,22) e, através dele, vence o orgulho e a prepotência, confunde os poderosos e exalta os humildes. Deus prefere os pequenos, os débeis, os pobres (aqueles que na sua humildade e simplicidade estão sempre disponíveis para acolher os desafios e os dons de Deus); e é através deles que concretiza os seus projetos de salvação e de graça.
Estes poucos versículos contêm um imenso capital de esperança, que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada do Povo de Deus pela história.
ATUALIZAÇÃO
¨ Essencialmente, o texto de Ezequiel que a liturgia deste domingo
nos propõe garante que Deus conduz sempre a história humana de acordo
com o seu projeto de salvação e mantém-se fiel às promessas feitas ao
seu Povo. Esta “lição” não pode ser esquecida e essa certeza deve
levar-nos a encarar os dramas e desafios do tempo atual com confiança e
esperança. Não estamos abandonados à nossa sorte; Deus não desistiu
desta humanidade que Ele ama e continua a querer salvar. É verdade que a
hora atual que a humanidade atravessa está marcada por sombras e
graves inquietações; mas também é verdade que Deus continua a acompanhar
cada passo que damos e a apontar-nos caminhos de vida. A última palavra
– uma palavra que não pode deixar de ser de salvação e de graça – será
sempre de Deus. Ancorados nessa certeza, temos de vencer o medo e o
pessimismo que, por vezes, nos paralisam e dar aos homens nossos irmãos
um testemunho de esperança, de serena confiança.
¨ A referência – mil vezes repetida ao longo da Bíblia – à tal
“estranha lógica” de Deus, que se serve do que é débil e frágil para
concretizar os seus projetos de salvação, convida-nos a mudar os nossos
critérios de avaliação e a nossa atitude face ao mundo e face aos que
nos rodeiam. Por um lado, ensina-nos a valorizar aquilo e aquelas
pessoas que o mundo, por vezes, marginaliza ou despreza; ensina-nos, por
outro lado, que as grandes realizações de Deus não estão dependentes
das grandes capacidades dos homens, mas antes da vontade amorosa de
Deus; ensina-nos ainda que o fundamental, para sermos agentes de Deus,
não é possuir brilhantes qualidades humanas, mas uma atitude de
disponibilidade humilde que nos leve a acolher os apelos e desafios de
Deus.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 91 (92)
Refrão: É bom louvar-Vos, Senhor.
É bom louvar o Senhor e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo, proclamar pela manhã a vossa bondade e durante a noite a vossa fidelidade.
O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano; plantado na casa do Senhor, florescerá nos átrios do nosso Deus.
Mesmo na velhice dará o seu fruto, cheio de seiva e de vigor, para proclamar que o Senhor é justo: n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade.
LEITURA II – 2 Cor 5, 6-10
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos: Nós estamos sempre cheios de confiança, sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como exilados, longe do Senhor, pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara.
E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo, para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido, enquanto esteve no corpo, quer o bem, quer o mal.
E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo, para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido, enquanto esteve no corpo, quer o bem, quer o mal.
AMBIENTE
Por volta de 56/57, chegam a Corinto missionários itinerantes que se
apresentam como apóstolos e criticam Paulo, lançando a confusão na
comunidade. Provavelmente, trata-se desses “judaizantes” que queriam
impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei de Moisés (embora também
possam ser cristãos que condenam a severidade de Paulo e que apoiam o
laxismo da vida dos coríntios). De qualquer forma, Paulo é informado de
que a validade do seu ministério está a ser desafiada e dirige-se a toda
a pressa para Corinto, disposto a enfrentar o problema. O confronto é
violento e Paulo é gravemente injuriado por um membro da comunidade (cf.
2 Cor 2,5-11; 7,11). Na sequência, Paulo abandona Corinto e parte para
Éfeso. Passado algum tempo, Paulo envia Tito a Corinto, a fim de tentar a
reconciliação. Quando Tito regressa, traz notícias animadoras: o
diferendo foi ultrapassado e os coríntios estão, outra vez, em comunhão
com Paulo. É nessa altura que Paulo, aliviado e com o coração em paz,
escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma tranquila apologia do seu
apostolado.
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da Carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo reflete e escreve sobre a grandeza e as dificuldades, os riscos e as compensações do ministério apostólico.
Na perícopa que vai de 4,16 a 5,10, Paulo defende a ideia de que, apesar de tudo, vale a pena acolher os desafios de Deus: no final do caminho percorrido nesta terra, espera-nos uma vida nova, uma vida plena e eterna. Para pintar o contraste entre a vida nesta terra e a vida futura, Paulo utiliza (cf. 2 Cor 5,1-4) a imagem da tenda que se monta e desmonta (que representa a vida transitória e corruptível desta terra) e da casa solidamente construída (que representa a vida plena e eterna).
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da Carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo reflete e escreve sobre a grandeza e as dificuldades, os riscos e as compensações do ministério apostólico.
Na perícopa que vai de 4,16 a 5,10, Paulo defende a ideia de que, apesar de tudo, vale a pena acolher os desafios de Deus: no final do caminho percorrido nesta terra, espera-nos uma vida nova, uma vida plena e eterna. Para pintar o contraste entre a vida nesta terra e a vida futura, Paulo utiliza (cf. 2 Cor 5,1-4) a imagem da tenda que se monta e desmonta (que representa a vida transitória e corruptível desta terra) e da casa solidamente construída (que representa a vida plena e eterna).
MENSAGEM
A vida terrena, passageira e mortal é, para Paulo, um exílio “longe
do Senhor” (vers. 6). Esse tempo de exílio neste mundo caracteriza-se
por um conhecimento de Deus parcial: é o tempo da fé. Paulo – como todos
os verdadeiros crentes – anseia pelo tempo “da visão” – isto é, pelo
tempo do encontro face a face com Deus. Então, a vida caduca e
transitória dará lugar a uma vida gloriosa e indestrutível.
Uma leitura simplista destes versículos poderia transmitir a ideia de que Paulo negligencia a vida terrena; contudo, essa ideia não é exata… Para Paulo, a perspectiva dessa outra vida nova, plena e eterna, não significa um alhear-se das responsabilidades que temos, como crentes, enquanto caminhamos neste mundo finito e transitório. Aos crentes compete, enquanto “habitam este corpo” mortal, viver de acordo com as exigências de Deus, caminhar à luz da fé, assumir as suas responsabilidades enquanto discípulos comprometidos com Cristo e com o seu Reino. A perspectiva dessa vida plena que nos espera para além desta terra deve estar permanentemente no horizonte do crente que caminha pela história, fundamentar e iluminar o seu compromisso e a sua fidelidade a Jesus Cristo e ao Evangelho.
De resto, a preocupação de Paulo não é apresentar uma doutrina escatológica perfeitamente definida; mas é, sobretudo, lembrar aos cristãos a sua condição de peregrinos, que “não têm morada permanente” nesta terra: o destino final de cada homem ou mulher é o encontro com o Senhor, a vida plena e definitiva.
Uma leitura simplista destes versículos poderia transmitir a ideia de que Paulo negligencia a vida terrena; contudo, essa ideia não é exata… Para Paulo, a perspectiva dessa outra vida nova, plena e eterna, não significa um alhear-se das responsabilidades que temos, como crentes, enquanto caminhamos neste mundo finito e transitório. Aos crentes compete, enquanto “habitam este corpo” mortal, viver de acordo com as exigências de Deus, caminhar à luz da fé, assumir as suas responsabilidades enquanto discípulos comprometidos com Cristo e com o seu Reino. A perspectiva dessa vida plena que nos espera para além desta terra deve estar permanentemente no horizonte do crente que caminha pela história, fundamentar e iluminar o seu compromisso e a sua fidelidade a Jesus Cristo e ao Evangelho.
De resto, a preocupação de Paulo não é apresentar uma doutrina escatológica perfeitamente definida; mas é, sobretudo, lembrar aos cristãos a sua condição de peregrinos, que “não têm morada permanente” nesta terra: o destino final de cada homem ou mulher é o encontro com o Senhor, a vida plena e definitiva.
ATUALIZAÇÃO
¨ A cultura actual é uma cultura do provisório, que dá prioridade ao
que é efémero sobre as realidades perenes com a marca da eternidade:
propõe que se viva ao sabor do imediato e do momento, e subalterniza as
opções definitivas e os valores duradouros. É também uma cultura do
bem-estar material: ao seduzir os homens com o brilho dos bens
perecíveis, ao potenciar o reinado do “ter” sobre o “ser”, escraviza o
homem e relativiza a sua busca de eternidade. É ainda uma cultura da
facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e
luta: produz pessoas incapazes de lutar por objectivos exigentes e por
realizar projectos que exijam esforço, fidelidade, compromisso,
sacrifício. Neste contexto, a palavra de Paulo aos cristãos de Corinto
soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre diante dos
olhos a nossa condição de “peregrinos” nesta terra e que aprendamos a
dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros
– e não nos valores efêmeros e passageiros – que encontramos a vida
plena. O fim último da nossa existência não está nesta terra; o nosso
horizonte e as nossas apostas devem apontar sempre para o mais além,
para a vida plena e definitiva.
¨ Contudo, o facto de vivermos a olhar para o mais além não pode
levar-nos a ignorar as realidades terrenas e os compromissos com a
construção da cidade dos homens. O Reino de Deus – que atingirá a sua
plena maturação quando tivermos ultrapassado o transitório e o efêmero
da vida presente – começa a ser construído nesta terra e exige o nosso
compromisso pleno com a construção de um mundo mais justo, mais
fraterno, mais verdadeiro. Não há comunhão com Cristo se nos demitimos
das nossas responsabilidades em testemunhar os gestos e os valores de
Cristo.
ALELUIA
Aleluia. Aleluia.
A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo: quem O encontrar permanecerá para sempre.
EVANGELHO – Mc 4, 26-34
Naquele tempo, 26Jesus disse à multidão: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. 27Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece. 28A
terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas,
depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga. 29Quando as espigas estão maduras, o homem mete logo a foice, porque o tempo da colheita chegou”.
30E Jesus continuou: “Com que mais poderemos comparar o Reino de Deus? Que parábola usaremos para representá-lo? 31O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. 32Quando
é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e
estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua
sombra”.
33Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. 34E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer, e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer, e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
AMBIENTE
Na primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30),
Jesus é apresentado como o Messias que proclama o Reino de Deus. Marcos
procura aí demonstrar como Jesus, com palavras e gestos, anuncia um
mundo novo (o “Reino de Deus”), livre do egoísmo, da opressão, da
injustiça e de tudo o que escraviza os homens e os impede de ter acesso à
vida verdadeira.
Estamos na Galileia, nos primeiros tempos do anúncio do Reino. Uma grande multidão segue Jesus, a fim de escutar os seus ensinamentos (cf. Mc 3,7.20.32; 4,1). Para fazer chegar a todos a sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as “parábolas”.
As “parábolas” são uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o gênio oriental gosta mais de falar e instruir através de imagens, de comparações, de alegorias, do que através de um discurso mais lógico, mais frio, mais racional. De resto, a linguagem parabólica tem várias vantagens em relação a um discurso mais racional e expositivo. Que vantagens?
Em primeiro lugar, é uma excelente arma de controvérsia. A linguagem figurada permite levar o interlocutor a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. A parábola é, pois, um bom instrumento de diálogo, sobretudo em contextos polêmicos (como era, quase sempre, o contexto em que Jesus pregava).
Em segundo lugar, a imagem ou comparação que caracteriza a linguagem parabólica é muito mais rica em força de comunicação e em poder de evocação, do que a simples exposição teórica. Talvez seja uma linguagem mais vaga e imprecisa, do ponto de vista racional; mas é mais profunda, mais carregada de sentido, mais evocadora e, por isso, “mexe” mais com os ouvintes.
Em terceiro lugar, porque a linguagem parabólica – muito mais do que outro tipo de linguagem – espicaça a curiosidade e incita à busca. Na sua simplicidade, torna-se um verdadeiro método pedagógico, que leva as pessoas a pensar por si, a medir os prós e os contras, a tirar conclusões, a interiorizar soluções e a integrá-las na própria vida. É uma linguagem que, mais do que injectar nas pessoas soluções feitas, as leva a reflectir e a tirar daí as devidas consequências. Trata-se, pois, de linguagem altamente subversiva: ensina o povo a pensar, a ser crítico, a descobrir onde está a verdade. Ora, isso é altamente incômodo para os defensores do mundo velho e da ordem estabelecida.
Uma linguagem tão sugestiva não podia ser ignorada por Jesus no seu anúncio do “Reino de Deus”. É neste contexto que devemos entender as duas parábolas que o Evangelho deste domingo nos apresenta.
Estamos na Galileia, nos primeiros tempos do anúncio do Reino. Uma grande multidão segue Jesus, a fim de escutar os seus ensinamentos (cf. Mc 3,7.20.32; 4,1). Para fazer chegar a todos a sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as “parábolas”.
As “parábolas” são uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o gênio oriental gosta mais de falar e instruir através de imagens, de comparações, de alegorias, do que através de um discurso mais lógico, mais frio, mais racional. De resto, a linguagem parabólica tem várias vantagens em relação a um discurso mais racional e expositivo. Que vantagens?
Em primeiro lugar, é uma excelente arma de controvérsia. A linguagem figurada permite levar o interlocutor a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. A parábola é, pois, um bom instrumento de diálogo, sobretudo em contextos polêmicos (como era, quase sempre, o contexto em que Jesus pregava).
Em segundo lugar, a imagem ou comparação que caracteriza a linguagem parabólica é muito mais rica em força de comunicação e em poder de evocação, do que a simples exposição teórica. Talvez seja uma linguagem mais vaga e imprecisa, do ponto de vista racional; mas é mais profunda, mais carregada de sentido, mais evocadora e, por isso, “mexe” mais com os ouvintes.
Em terceiro lugar, porque a linguagem parabólica – muito mais do que outro tipo de linguagem – espicaça a curiosidade e incita à busca. Na sua simplicidade, torna-se um verdadeiro método pedagógico, que leva as pessoas a pensar por si, a medir os prós e os contras, a tirar conclusões, a interiorizar soluções e a integrá-las na própria vida. É uma linguagem que, mais do que injectar nas pessoas soluções feitas, as leva a reflectir e a tirar daí as devidas consequências. Trata-se, pois, de linguagem altamente subversiva: ensina o povo a pensar, a ser crítico, a descobrir onde está a verdade. Ora, isso é altamente incômodo para os defensores do mundo velho e da ordem estabelecida.
Uma linguagem tão sugestiva não podia ser ignorada por Jesus no seu anúncio do “Reino de Deus”. É neste contexto que devemos entender as duas parábolas que o Evangelho deste domingo nos apresenta.
MENSAGEM
A primeira parábola (vers. 26-29) é a do grão que germina e cresce
por si só. A parábola refere a intervenção do agricultor apenas no ato
de semear e no ato de ceifar. Cala, de propósito, qualquer menção às
demais ações do agricultor: arar a terra, regar a semente, tirar as
ervas que a impedem de crescer… Ao narrador interessa apenas que, entre a
sementeira e a colheita, a semente vá crescendo e amadurecendo, sem que
o homem intervenha para impedir ou acelerar o processo. A questão
essencial não é o que o agricultor faz, mas o dinamismo vital da
semente. O resultado final não depende dos esforços e da habilidade do
homem, mas sim do dinamismo da semente que foi lançada à terra. Desta
forma, o narrador ensina que o Reino de Deus (a semente) é uma
iniciativa divina: é Deus quem atua no silêncio da noite, no tumulto do
dia ou na turbulência da história para que o Reino aconteça; e nenhum
obstáculo poderá frustrar o seu plano. Provavelmente, a parábola é
dirigida contra todas as posturas que pretendiam forçar a vinda do Reino
– a dos zelotas que queriam instaurar o Reino através da violência das
armas, a dos fariseus que pretendiam forçar o aparecimento do Reino com a
obediência a uma disciplina legal, a dos apocalípticos que faziam
cálculos precisos sobre a data da irrupção do Reino. Não adianta forçar o
tempo ou os resultados: é Deus que dirige a marcha da história e que
fará com que o Reino aconteça, de acordo com o seu tempo e o seu
projeto. Desta forma, a parábola convida à serenidade e à confiança
nesse Deus que não dorme nem se demite e que não deixará de realizar, a
seu tempo e de acordo com a sua lógica, o seu plano para os homens e
para o mundo.
A segunda parábola (vers. 30-32) é a do grão de mostarda. O narrador pretende, fundamentalmente, pôr em relevo o contraste entre a pequenez da semente (a semente da mostarda negra tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros e era a semente mais pequena, no entendimento popular palestino; a tradição judaica celebrava com provérbios a sua pequenez) e a grandeza da árvore (nas margens do lago da Galileia alcançava uma altura de 2 a 4 metros). A comparação serve para dizer que a semente do Reino lançada pelo anúncio de Jesus pode parecer uma realidade pequena e insignificante, mas está destinada a atingir todos os cantos do mundo, encarnando em cada pessoa, em cada povo, em cada sociedade, em cada cultura. O Reino de Deus, ainda que tenha inícios modestos ou que se apresente com sinais de debilidade e pequenez aos olhos do mundo, tem uma força irresistível, pois encerra em si o dinamismo de Deus. Além disso, a parábola retoma um tema que já havíamos encontrado na primeira leitura: Deus serve-Se de algo que é pequeno e insignificante aos olhos do mundo para concretizar os seus projetos de salvação e de graça em favor dos homens.
A parábola é um convite à esperança, à confiança e à paciência. Nos factos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que actua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena.
A segunda parábola (vers. 30-32) é a do grão de mostarda. O narrador pretende, fundamentalmente, pôr em relevo o contraste entre a pequenez da semente (a semente da mostarda negra tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros e era a semente mais pequena, no entendimento popular palestino; a tradição judaica celebrava com provérbios a sua pequenez) e a grandeza da árvore (nas margens do lago da Galileia alcançava uma altura de 2 a 4 metros). A comparação serve para dizer que a semente do Reino lançada pelo anúncio de Jesus pode parecer uma realidade pequena e insignificante, mas está destinada a atingir todos os cantos do mundo, encarnando em cada pessoa, em cada povo, em cada sociedade, em cada cultura. O Reino de Deus, ainda que tenha inícios modestos ou que se apresente com sinais de debilidade e pequenez aos olhos do mundo, tem uma força irresistível, pois encerra em si o dinamismo de Deus. Além disso, a parábola retoma um tema que já havíamos encontrado na primeira leitura: Deus serve-Se de algo que é pequeno e insignificante aos olhos do mundo para concretizar os seus projetos de salvação e de graça em favor dos homens.
A parábola é um convite à esperança, à confiança e à paciência. Nos factos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que actua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena.
ATUALIZAÇÃO
¨ Antes de mais, o Evangelho deste domingo garante-nos que Deus tem
em marcha um projeto destinado a oferecer aos homens a vida e a
salvação. Pode parecer que a nossa história caminha entregue ao acaso ou
aos caprichos dos líderes; pode parecer que a história humana entrou em
derrapagem e que, no final do caminho, nos espera o abismo; mas é Deus
que conduz a história, que lhe imprime o seu dinamismo, que está
presente em todos os passos do nosso caminho. Deus caminha conosco e,
garantidamente, leva-nos pela mão ao encontro de um final feliz. Num
tempo histórico como o nosso, marcado por “sombras”, por crises e por
graves inquietações, este é um dos testemunhos mais importantes que
podemos, como crentes, oferecer aos nossos irmãos escravizados pelo
desespero e pelo medo.
¨ O projeto de salvação que Deus tem para a humanidade revela-se no
anúncio do Reino, feito por Jesus de Nazaré. Nas suas palavras, nos seus
gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova realidade; lançou a
semente da transformação dos corações, das mentes e das vontades, de
forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de acordo com
os esquemas de Deus. Essa semente não foi lançada em vão: está entre
nós e cresce por ação de Deus. Resta-nos acolher essa semente e deixar
que Deus realize a sua acção. Resta-nos também, como discípulos de
Jesus, continuar a lançar essa semente do Reino, a fim de que ela
encontre lugar no coração de cada homem e de cada mulher.
¨ Os que, continuando a missão de Jesus, anunciam a Palavra (que
lançam a semente) não devem preocupar-se com a forma como ela cresce e
se desenvolve. Devem, apenas, confiar na eficácia da Palavra anunciada,
conformar-se com o tempo e o ritmo de Deus, confiar na ação de Deus e
no dinamismo intrínseco da Palavra semeada. Isso equivale a respeitar o
crescimento de cada pessoa, o seu processo de maturação, a sua busca de
caminhos de vida e de plenitude. Não nos compete exigir que os outros
caminhem ao nosso ritmo, que pensem como nós, que passem pelas mesmas
experiências e exigências que para nós são válidas. Há que respeitar a
consciência e o ritmo de caminhada de cada homem ou mulher – como Deus
sempre faz.
¨ A referência à pequenez da semente (segunda parábola) convida-nos –
como já o havia feito a primeira leitura deste domingo – a rever os
nossos critérios de atuação e a nossa forma de olhar o mundo e os
nossos irmãos. Por vezes, é naquilo que é pequeno, débil e aparentemente
insignificante que Deus Se revela. Deus está nos pequenos, nos
humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e
de ostentação; e é deles que Deus Se serve para transformar o mundo.
Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo,
não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de
grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, estamos a frustrar o
projeto de Deus, a impedir que o Reino de Deus se torne realidade no
mundo e nas nossas vidas.
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