Porque
o guardião da castidade é o amor, é praticamente impossível falar de
pureza para uma civilização que virou as costas para Deus.
Não é novidade alguma que a mensagem do Evangelho sobre a sexualidade
cause escândalo às pessoas. C. S. Lewis escreve, com razão, que "
a castidade é a menos popular das virtudes cristãs"
[1], e, ainda no século XIII, Santo Tomás de Aquino – considerando que,
"na fé cristã, são expostas as virtudes que excedem todo o intelecto
humano, os prazeres são contidos e se ensina o desprezo das
coisas do mundo" – sublinhava que é grande "milagre e claro efeito da
inspiração divina que os espíritos humanos tenham concordado com tudo
isto" [2].
Algumas épocas, no entanto, são particularmente insensíveis à virtude
da castidade. É o caso da nossa geração, que ainda experimenta os frutos
amargos da Revolução Sexual. O advento da pílula anticoncepcional – e o
consequente divórcio entre o prazer e a geração dos filhos –, as
chamadas "uniões livres", bem como a adoção do divórcio em várias
legislações mundo afora, fortaleceram a ideia de que o ser humano
poderia fazer de sua sexualidade o que bem entendesse, não dando a
mínima para as leis inscritas pelo Criador em seu próprio coração.
A destruição ocorrida nas últimas décadas, no entanto, é apenas reflexo de um mal muito maior: o afastamento de Deus.
É praticamente impossível falar de pureza para uma civilização que abandonou os valores eternos.
A castidade é, por assim dizer, a "cereja do bolo" do cristianismo. Sem
amor, ela se torna apenas uma norma a mais dentro um "moralismo" vazio.
Santo Agostinho, por exemplo, fazia notar que o que se louva nas
virgens "não é o fato de serem virgens, mas o estarem consagradas a Deus
por uma santa continência" [3]. Ou seja, a grandeza da castidade está
no amor com que é praticada, ou, como resumiu o próprio Agostinho: "A guardiã da virgindade é a caridade" [4].
Tome-se como modelo a vida da Beata Teresa de Calcutá. Mesmo em tempos
de descrença como os nossos, são muitas as pessoas a admirar o
testemunho dessa santa religiosa, inclusive fora da Igreja. E o que
tornou reluzente a sua figura, fazendo com que os próprios chefes das
nações a estimassem, e homens de letras, sem nenhum vínculo com a fé
cristã, a respeitassem? Como pode ser que uma consagrada a Deus – e, por
si só, "sinal de contradição" (
Lc 2, 34) – tenha conquistado tanta simpatia por onde passou? A
resposta está na caridade, que dá forma a todas as obras e virtudes
[5]. Por seu grande amor a Deus, Madre Teresa encheu de sentido todas as
ações que realizava: desde a oração e vivência fiel dos votos
religiosos até o extraordinário cuidado que tinha pelos doentes e
miseráveis.
Tirando Deus do centro, porém, o que resta? O escritor britânico G. K.
Chesterton, que viu o começo do século XX decretar "a morte de Deus",
profetizou, ainda em 1926: "
A próxima grande heresia será um ataque à moralidade, especialmente à moral sexual"
[6]. Dito e feito. Não foi preciso nem meio século para que a barbárie
invadisse as universidades, as igrejas e os lares. Pregou-se abertamente
a destruição da família; abandonou-se largamente a vida religiosa;
instaurou-se, enfim, no lugar onde deveriam reinar a ordem e a
concórdia, uma verdadeira "luta de classes".
Também em seu tempo,
São Paulo identificava a degradação sexual como consequência do afastamento e do abandono do verdadeiro Deus:
"Apesar de conhecerem a Deus", os homens "não o glorificaram como Deus
nem lhe deram graças". Como consequência, "Deus os entregou, dominados
pelas paixões de seus corações, a tal impureza que eles desonram seus próprios corpos" (Rm 1,
21.24). Quando se despreza o Criador, não impressiona que as criaturas
profanem os templos do Espírito Santo, que são os seus corpos (cf. 1 Cor 6, 19), e envenenem a própria fonte que dá origem ao ser humano. "Creatura enim sine Creatore evanescit – De fato, a criatura, sem o Criador, se esvai" [7].
Para que se devolva a saúde moral à nossa civilização, portanto, nada
mais eficaz que mostrar ao mundo a beleza do amor de Cristo, que é o que
dá brilho à tão esquecida virtude da castidade. Lembremo-nos das muitas
mulheres que consagraram a sua virgindade a Deus e que, no fim da vida,
foram coroadas com a palma do martírio. "Águeda e Luzia, Inês, Cecília,
Anastásia": a sua caridade era tão ardente, que não contentes em
oferecer ao Senhor o seu corpo, ofertaram-Lhe também as suas almas. Elas
preferiram enfrentar os mais terríveis suplícios a perder
a Santíssima Trindade que habitava em seus corações.
Que também nós, auxiliados pela graça, possamos dar ao mundo paganizado
do século XXI um testemunho de Deus. Vale a pena gastar-se inteiramente
por Ele, entregando mesmo a própria vida. Afinal, "ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (
Jo 15, 13).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Martins Fontes: São Paulo, 2005. p. 37.
- Suma contra os Gentios, I, 6, 2.
- Sobre a Virgindade, 11: PL 40, 401.
- Ibidem, 51: PL 40, 426.
- Cf. Suma Teológica, II-II, q. 23, a. 8.
- The Next Heresy. G. K.'s Weekly: June 19, 1926.
- Constituição Pastoral Gaudium et Spes (7 de dezembro de 1965), n. 36.
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