“Jamais
tocar no nome de Deus” parece ser o novo mandamento da modernidade.
Nenhuma ideologia, porém, pode cancelar a sede de Deus do coração
humano.
Quando Pio XII denunciou o desprezo da humanidade por Cristo, em 1952, a Segunda Guerra Mundial já havia acabado.
No conflito bélico que durou de 1939 a 1945, guerrearam entre si duas
grandes ideologias anticristãs: o nazismo, do lado do Eixo, e o
socialismo, entre os Aliados. A primeira havia sido denunciada pela encíclica do Papa Pio XI, Mit Brennender Sörge ("Com ardente preocupação");
a segunda foi um dos sistemas mais reprovados pelo Magistério na
história da Igreja – de todos os Papas do século XX, só João Paulo I não
condenou o comunismo ateu, e só não o fez porque não teve tempo.
Da ideologia de Adolf Hitler, restaram tão somente cinzas. Felizmente, o
aparelho político que condenou milhares de judeus ao extermínio veio
abaixo – e com a ajuda de todo o Ocidente. O socialismo, porém, até por
estar do lado vitorioso, não só não foi destruído, como experimentou
seus "anos de glória". No auge da Guerra Fria, o sistema soviético
alcançou a simpatia de muitos facínoras sedentos pelo poder, penetrando
violentamente em vários lugares do mundo.
No decorrer do tempo, todavia, especialmente com Antônio Gramsci e a
influência da Escola de Frankfurt, os comunistas substituíram a
iniciativa da revolução armada pela infiltração cultural.
Os ideólogos marxistas não falavam mais de profanar igrejas, assassinar
sacerdotes ou aprisionar religiosos – embora em várias partes do mundo
eles continuassem a fazê-lo, sem remorsos. O seu novo plano era mais
discreto: destruir a religião cristã por dentro, minar as próprias bases
da sociedade, implantando a revolução de modo gradual e até
imperceptível, se possível fosse.
Hoje, 70 anos depois do fim da Grande Guerra, é possível dizer que, no
que diz respeito à religião – a qual os comunistas sempre reputaram como
"o ópio do povo" –, o seu intento foi largamente alcançado. Se eles não
conseguiram, é verdade, extinguir dos corações humanos o pensamento de
Cristo, deram um passo que já é muito de se lamentar – banir a menção de
Deus da vida pública.
As pessoas continuam pensando n'Ele, no eterno e no transcendente, mas não podem dizê-lo,
sob pena de serem tachadas de intolerantes, atrasadas ou
"desnecessárias". O mandamento que pede que não se tome o nome de Deus
em vão foi transformado em outro: não tocar nunca no Seu nome, absolutamente.
Tome-se como exemplo a jovem estrela do futebol, Neymar. No último dia 6, ao comemorar o título da Champions League
com a camisa do Barcelona, o craque brasileiro usou uma faixa na
cabeça, com a inscrição "100% Jesus".
Essa simples e inofensiva referência ao nome de Cristo teria sido
motivo de escândalo mundo afora. No Brasil, um jornalista considerou o
gesto de Neymar "desnecessário"; outro escreveu que seria melhor que
"certas intimidades fossem como deveriam ser, isto é, apenas íntimas".
Os dois comentários, vindos do mundo dos esportes, só confirmam a ideia
que se enunciou acima. Neymar não pediu que ninguém se convertesse à fé
cristã, nem fez algum discurso eloquente em defesa de Cristo. Seu único
crime foi estampar o nome de Jesus em sua cabeça.
A acusação que pesa sobre o jogador é de "proselitismo religioso".
"Internautas tacharam a mensagem de 'ridícula' e criticaram a tentativa do brasileiro de 'impor' sua religião aos outros", diz a notícia. De que modo Neymar estaria impondo o cristianismo aos outros, é coisa que os veículos de comunicação não explicam.
Talvez o jogador devesse ser um pouco mais comedido em sua comemoração.
Ao invés de "100% Jesus", uma faixa mais larga com "50% Jesus", dando a
outra metade para Baal, Buda ou Zoroastro; quem sabe, uma com alguma
mensagem mais palatável ao crivo dos ateus, como "Deus está morto", ou
com uma inscrição exaltando Maomé – que, certamente, passaria ilesa pela
crítica jornalística.
Seja como for, o problema aqui é com uma religião específica: o cristianismo. Não se suportam nem crucifixos nos tribunais,
nem educação confessional nas escolas, nem menção a Cristo nos estádios
de futebol. Vai-se configurando, entre os próprios cristãos, o que o
Papa João Paulo II chamou de uma "apostasia silenciosa" [1], em que as
pessoas já não são mais capazes de anunciar a boa nova do Evangelho,
seja porque sequer acreditam que esta seja uma "boa nova", seja porque
não a veem mais como algo "verdadeiro".
De fato, se os cristãos realmente acreditassem em Cristo, não ficariam
calados; se verdadeiramente compreendessem a mensagem de salvação que
porta o Evangelho, não a guardariam para si; se entendessem o impacto da
vida eterna, não permaneceriam em silêncio. Seria, na verdade,
uma tremenda falta de caridade, que, preenchidos com a felicidade divina
– que nenhuma criatura pode oferecer ao homem –, eles fechassem a boca e
não anunciassem Cristo ao mundo.
Por isso, a religião cristã é essencialmente pública, porque a verdade não se pode encerrar num cubículo,
assim como "não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha,
nem se acender uma luz para colocá-la debaixo do alqueire" (Mt 5,
14-15). O ser humano só pode ser plenamente saciado por Deus, e
inquieto está enquanto não repousa n'Ele [2]. Ainda que queiram abolir o
Seu santíssimo nome das cabeças dos atletas ou das paredes dos prédios,
ele está inscrito no mais íntimo do coração humano e, daí, jamais – por
nenhuma força humana ou angélica – poderá ser apagado.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Exortação Apostólica Ecclesia in Europa (28 de junho de 2003), n. 9.
- Santo Agostinho, Confissões, I, 1.
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