quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O DEMÔNIO ODEIA A IGREJA.

Se o mundo odeia a Igreja, é porque primeiro odiou a sua cabeça. Quem diz não à Igreja, diz não ao próprio Jesus Cristo.
O Papa Pio XII ensina que o inimigo, “que se tornou cada vez mais concreto”, vociferou três gritos contra Deus. Ao destacar isso, ele lembra que, embora seja uma invenção angélica, o pecado também encontra seus servidores em meio aos homens. Muitos deles, com as suas ideias e atitudes, realmente se revestem de Satanás, semeando o erro e introduzindo a confusão entre as próprias ovelhas do redil de Cristo.
O primeiro grito de que fala o Papa – “Cristo sim, a Igreja não!” [1] – é uma rebeldia conhecida. Embora sua grande manifestação tenha acontecido no século XVI, com Martinho Lutero e os chamados “reformadores” protestantes, essa forma de pensar parece estar na moda hoje em dia. É frequente ler ou ouvir pessoas defendendo que se pregue “mais Jesus, menos religião”, como se Nosso Senhor não tivesse verdadeiramente fundado uma só Igreja: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” [2] e não se tivesse vinculado a ela como a cabeça se vincula ao corpo humano: “Cristo, salvador do Corpo, é a cabeça da Igreja” [3].
O Papa Paulo VI recorda que não é possível amar Cristo sem a Igreja, chamando tal dicotomia de absurda: “Como se poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o mais belo testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes termos: ‘Ele amou a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela’ (Ef 5, 25)?” [4]. Também o Papa Francisco, em seus discursos e meditações na Casa Santa Marta, tem repetido esse ensinamento. E ainda Pio XII, ao destacar que Jesus podia distribuir as graças “diretamente por si mesmo a todo o gênero humano”, ensina que Ele:
“Quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por homens, a fim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da Igreja para continuar perenemente a obra começada.” [5]
O grande escândalo que as pessoas experimentam em relação à necessidade da Igreja diz respeito especialmente ao fato de ela, ainda que indefectivelmente santa, possuir em seu seio membros pecadores, que não raras vezes maculam a sua imagem e ação no mundo. Sobre isso, Pio XII explica que, “se às vezes na Igreja se vê algo em que se manifesta a fraqueza humana, isso não deve atribuir-se (...) [senão] àquela lamentável inclinação do homem para o mal”. E remata dizendo que, “se alguns de seus membros estão espiritualmente enfermos, não é isso razão para diminuirmos nosso amor para com ela, mas antes para aumentarmos a nossa compaixão para com os seus membros” [6].
À luz disso, é possível entender o significado correto do adágio Ecclesia semper reformanda est. As reformas genuínas brotam dos corações que amam Nosso Senhor, dos espíritos apaixonados de homens e mulheres que não temem renunciar a seus desejos e suas ideias para se configurarem totalmente a Cristo, que é a cabeça da Igreja [7]. É por Ele que acontecem as verdadeiras reformas: se, pelos pecados dos homens, a Igreja está em constante renovação, é sempre por iniciativa divina que ela se renova; se, pelas faltas dos membros, o Corpo fica ferido, é sempre pela ação da graça que acontece a cura.
O agir de Deus, no entanto, se faz necessitado da liberdade humana. Assim como Ele fez depender do fiat de uma Virgem a sua entrada no mundo, faz depender do “sim”de cada um de nós a Sua ação providente. Se destemida e generosamente nos lançamos a esta misteriosa aventura que é a vontade de Deus, santificamo-nos e edificamos a Cidade de Deus; se, ao contrário, mesquinha e covardemente nos fechamos no comodismo de nossos caprichos e veleidades – apegando-nos ciosamente a nós mesmos, para usar a expressão do Apóstolo [8] –, destruímo-nos e regressamos à perecível cidade dos homens, na qual só reinam o erro e a confusão.
Não desanimemos se o demônio odeia a Igreja. Lembremo-nos, antes, da advertência de Nosso Senhor aos Apóstolos: “Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como ama o que é seu; mas, porque não sois do mundo, (...) o mundo vos odeia” [9]. 












Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Pio XII, Discorso agli uomini di Azione Cattolica, 12 ottobre 1952
  2. Mt 16, 18
  3. Ef 5, 23
  4. Evangelii nuntiandi, 16
  5. Mystici Corporis, 12
  6. Ibidem, 64
  7. Cf. Papa Bento XVI, Homilia na Santa Missa Crismal, 5 de abril de 2012
  8. Cf. Fl 2, 6
  9. Jo 15, 18-19

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