“A humildade é uma virtude, não é neurose.
Liberta-nos
para que possamos agir virtuosamente, servir a Deus e conhecê-lo. A
verdadeira humildade, portanto, jamais poderá inibir qualquer ação
realmente virtuosa. Tampouco pode impedir-nos de nos realizamos aderindo
à vontade de Deus. A
humildade nos torna livre para fazermos o que é verdadeiramente bom,
mostrando-nos nossas ilusões e retirando nossa vontade daquilo que era
penas um bem aparente. Uma humildade que gela o nosso ser e
frustra toda sã atividade não é, de modo algum, humildade, mas uma forma
disfarçada de orgulho. Seca as raízes da vida espiritual, tornando
impossível nossa entrega total a Deus.
Senhor, ensinaste-nos a amar a humildade, mas não aprendemos. Aprendemos somente a amar-lhe a camada externa – a humildade que torna alguém atraente e encantador.
Por vezes, fazemos uma pausa para refletir sobre essas qualidades e
muitas vezes fingimos possuí-las e tê-las adquirido “praticando a
humildade”. Se fôssemos realmente humildes, saberíamos até que ponto somos mentirosos.
Ensina-me a aceitar uma humildade que, sem cessar, me faça ver que sou um mentiroso e um fingido, e que, mesmo assim, tenho
a obrigação de procurar com esforço a verdade, de ser tão verídico
quanto me seja possível, ainda que tenha que achar, inevitavelmente,
toda a verdade de que sou capaz, envenenada pela duplicidade.
Eis o que é terrível a respeito da humanidade; nunca tem pleno êxito. Se
ao menos fosse possível ser inteiramente humilde aqui na terra. Mas
não, aí está o problema. Tu, Senhor, foste humilde. Nossa humildade,
porém, consiste em sermos orgulhosos e termos plena consciência disso e
nos sentirmos esmagados pelo peso insuportável desse fato, sem nada
podermos fazer para remediá-lo.
Como
És severo em tua misericórdia, e, no entanto, tens de ser assim. Tua
misericórdia tem de ser justa, porque a tua verdade tem de ser
verdadeira. Contudo, como és severo em tua misericórdia; pois quanto
mais nos debatemos no esforço de sermos verídicos, tanto mais
descobrimos nossa falsidade. Será misericordioso fazer-nos chegar por
tua Luz, inexoravelmente, ao desespero?
Não
– não é ao desespero que me conduzes, mas à humildade. Pois a
verdadeira humildade é , decerto modo, um desespero muito real:
desespero no que concerne a mim mesmo, a fim de que possa esperar
inteiramente em ti.“
NA LIBERDADE DA SOLIDÃO (Pag. 53-54),
Thomas Merton
Thomas Merton
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