quarta-feira, 16 de março de 2011

QUARENTENA ESPIRITUAL.


Quando os primeiros astronautas foram ao espaço, um procedimento era obrigatório ao retornarem à Terra: a quarentena. Sem conhecerem o que o mundo sideral poderia oferecer-lhes de ruim ou que tipo de bactérias o contacto com o desconhecido poderia contaminá-los, ficavam isolados de tudo e de todos durante quarenta dias.
Mas a prática e o simbolismo numérico dessa prática remontam às mais remotas eras. Já a própria caminhada libertadora do Povo de Deus no deserto, durante quarenta anos, não deixa de ser uma referência à quarentena espiritual com sua ação purificadora diante da perspectiva de vida nova em terra de promissão. Ou seja: a plenitude espiritual só é possível após vencermos os desertos de nossas limitações e provações terrenas. Ninguém experimenta a plenitude de uma conquista sem lutar e fazer por merecê-la.

Também Cristo nos ensinou a respeito. E o fez de uma maneira bem pedagógica, antes mesmo de iniciar seu próprio ministério. Retirou-se para o deserto e durante quarenta dias abandonou-se à oração e ao jejum. Praticou um verdadeiro retiro, preparando-se espiritualmente para o embate que viria depois, numa clara referência à necessidade que temos de, como humanos, buscar forças na sabedoria divina.
Cristo nos ensinou a assumir nossa responsabilidade missionária com o mundo de maneira submissa, porém nunca negligente com as revelações da fé. Estas só serão autênticas quando vazias dos dilemas e inseguranças próprias da nossa humanidade. Sem nossa purificação, nossa assepsia espiritual, dificilmente saborearemos em sua totalidade as alegrias de um mundo novo, uma vida nova, cujo significado está presente nos ensinamentos de Cristo. Portanto, viver o cristianismo é penetrar nas alegrias de sua doutrina.

Por isso, de quando em quando, é salutar e primordial uma quarentena que nos purifique das mazelas do mundo. A quaresma nos dá essa oportunidade. Tempo de maior proximidade com Deus e conosco mesmo, ela nos confronta com o mundo numa perspectiva de vida nova, renovação espiritual. Por isso, a Igreja nos convida a uma atitude de conversão neste tempo litúrgico, sugerindo-nos maiores atenções aos exemplos do Mestre, à sua prática do jejum e abstinência, ao sereno enfrentamento das tentações mundanas, para nos dizer que não somos melhores do que Ele próprio. Mesmo isento do pecado e das fraquezas humanas, Jesus se deixou tentar e se mortificou tão somente para nos deixar esse exemplo.

Num passado não tão remoto, a Igreja se vestia de roxo total. As matracas substituíam o belo sibilar de seus sinos. Velas e incensos cobriam seus átrios. Até os meios de comunicação, em especial muitas emissoras de rádios, deixam de lado as músicas profanas para irradiar apenas músicas sacras ou eruditas. Jejum era questão de honra durante quarenta dias. A mística do povo aflorava com maiores vibrações durante a Semana Santa, o auge desse tempo litúrgico. O que mudou? Nada. Talvez não sejamos mais tão ostensivos na prática de manifestações religiosas, mas o essencial ainda permanece: é preciso conversão. É preciso mudança de vida.
Ainda bem. Porque somente assim poderemos entender a sequência do ministério redentor. Passado o martírio, a crucificação que nos redimiu e resgatou nossa identidade de filhos de Deus, eis que surge Pentecostes, o tempo da semeadura e da colheita. E, mais um detalhe: o Espírito Santo de Deus nos é dado quarenta dias depois da Ressurreição, da vida nova em Cristo. Então nossa quarentena purificadora se torna tempo de unidade, de revelação, de amor renovado, de tudo o mais...




Fonte: Wagner Pedro Menezes
Local:Assis (SP)


catolicanet.com

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