quarta-feira, 30 de março de 2011

O SUBLIME ENCONTRO NO DESERTO.

“Para alguém poder receber e conservar as inspirações de Deus tem que apreciar a solidão, o sossego, o silêncio interior e exterior, caso contrário, ou não vai recebê-las, ou elas, recebidas, vão se enfraquecer e se dissipar”.

São Gaspar Bertorni Fundador dos estigmatinos


Em várias tradições religiosas e filosóficas o deserto é o lugar de purificação, decisão, mudanças, abissais meditações e renascimento de uma nova vida. As condições ambientais de despojamento, próprias do deserto, são favoráveis as profundas reflexões do interior. Assim, a viagem da alma é levada ao imensurável.


Esta é a experiência autotranscendental. A vida dos grandes homens foram impactadas no encontro com Deus no deserto: Moisés (Ex 3,1-6); Davi (1Sm 24,1; Sl 55,7); Elias (1 Rs 19, 8-14); João Batista (Lc 1, 80; 3,2); Paulo (Gl 1, 15-21).


O deserto é o lugar sublime do encontro do “eu” frágil, finito e pecador com o Senhor Deus Santo, Eterno e Todo-Poderoso. Essa é a verdadeira prova que o deserto propício à revelação das nossas incompatibilidades. Todo o nosso ser é descoberto, desnudado e nada pode ser escondido ou negado. “Aqui estão às tentações do deserto: “Eu”, as minhas misérias e os anjos” (Ex 23,20; Dt 8,2.3; Mt 4,11). A exortação é muito forte no deserto. Somos agraciados com a humilhação, perdão, reconciliação e comunhão com Deus. O grande místico São João da Cruz dizia: “Que quanto mais perto de Deus chega à alma, tanto mais consciência terá de sua imperfeição”. No deserto só há uma lugar para ficar perto: de Deus.


SOLIDÃO E SILÊNCIO


O mundo não sabe da solidão e do silêncio. O silêncio desconstrói o mito dialogal humano. O ser humano não é apenas extroversão, comunicação e conexão. Ele é também silêncio, incomunicabilidade e mistério. Silêncio e solidão nada têm a ver com o quadro psicopatológico. Fuga, paliativo, placebo e panacéia estão desconectados com a realidade do nosso silêncio e recolhimento. Isolamento por desacertos psicológicos não pode ser tomando como caminho espiritual do silêncio sagrado e fecundo, porque o contexto da solidão está bem acompanhada: da consciência do “eu”, dos santos, dos anjos e da Santíssima Trindade. O solitário e o individualista materialista estão sempre sozinhos e infelizes.


O silêncio e a solidão aqui tratados são na dimensão mística – contemplativa. Caminhamos com ascese e a hesychia (palavra grega para a oração do coração, significando quietude e silêncio). O exercício do bendito silêncio leva o fim do estiolamento da mente e a limpeza da alma tisnada. A alma deseja profundamente o mistério, o silêncio para ter mais intimidade com Deus. É por demais dialogante o silêncio da alma. A belíssima e a grande Santa Teresinha do Menino Jesus dizia: “Muitas vezes apenas um silêncio sem palavras expressa a minha oração. Deus a compreende”.




por Pe. Inácio José do Vale, Professor de História da Igreja - Faculdade de Teologia de Volta Redonda Católicos na Rede

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