Desde os primórdios da humanidade Maria
recebeu de Deus o poder e a missão de esmagar a cabeça da serpente
maligna. Disse Deus a ela no paraíso:
“Porei inimizade entre ti e a mulher
entre a tua descendência e a dela. Ela te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar” (Gn 3,15).
Os Santos Padres afirmam que assim como o
pecado entrou no mundo por meio da mulher, assim também a salvação
haveria de chegar à humanidade pela mulher. E esta mulher, a nova Eva, a
nova Virgem, desde toda a eternidade Deus escolheu que fosse Maria.
Quando
Jesus se dirige à Sua Mãe e lhe chama de “mulher”, em vez de chamá-la
de mãe, em Caná da Galileia (Jo 2) e aos pés da Cruz (Jo 19,25-27), é
para nos indicar qual é a “Mulher” a que Deus se referiu no Gênesis.
Esta “Mulher” é Sua Mãe. Assim, nas bodas de Caná, Jesus lhe diz:
“Mulher, isso nos compete a nós? Minha hora ainda não chegou (Jo 2,4). E
depois, na cruz, momentos antes de morrer, quando Jesus nos dá Sua Mãe
para nossa Mãe, Ele diz a ela: “Mulher, eis aí teu filho” (Jo 19, 26).
Fica assim, muito claro, que a “mulher”
do Gênesis que esmagaria a cabeça da serpente maligna é Maria. Como nos
ensina São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja no século V, Deus usou
Maria para ludibriar a sagacidade da serpente, como já dissemos. Por sua
virgindade e por sua concepção imaculada desconhecidas do tentador,
Deus fez com que Maria concebesse Jesus, Deus e homem, por obra do
Espírito Santo, livre das garras do pecado e do demônio. Assim Jesus,
livre e soberano, homem e Deus, pôde destruir o império do Mal. É o que
São João nos garante:
“Eis por que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do demônio” (1Jo 3,8).
Mesmo com essa afirmação categórica de
São João, ainda há infelizmente muitos que, em total desobediência à
Palavra de Deus, ao Magistério da Igreja e à Sagrada Tradição, teimam em
afirmar que o demônio não existe, ou, o que é pior ainda, menosprezam
sua ação sobre as pessoas.
Na verdade, esta é sua maior cilada,
fazer-se desacreditado pelos homens, como se não existisse ou não agisse
com sagacidade. Seu intuito é que as pessoas não se defendam contra
suas tentações com a ordem expressa de Jesus: “Vigiai e orai”.
São Paulo nos adverte sobre isto: “Não quero que sejamos vencidos por Satanás, pois não ignoramos suas maquinações” (2Cor 2,11).
Em outra passagem, mais clara ainda, São
Paulo nos alerta para o fato de que ele se transfigura em “anjo de
luz”, isto é, lobo disfarçado de cordeiro. E é então que ele faz muito
estrago na vida das pessoas e no reino de Deus. Falando dos falsos
profetas que se disfarçam em apóstolos de Cristo, São Paulo diz:
“O que não é de se espantar: pois, se o
próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que
seus ministros se disfarcem em ministros da justiça…” (2Cor 11,14-15).
Os Santos Padres ensinavam que no
Gênesis o demônio é identificado com a serpente porque age como ela;
isto é, às escondidas, esperando a hora certa para dar o bote sobre os
desprevenidos e neles injetar todo seu veneno mortífero. Ninguém tem
medo de uma cobra num pátio limpo; ela é perigosa quando está escondida
no meio do mato.
Também São Pedro, a quem o Senhor confiou o encargo de “confirmar os irmãos na fé” (Lc 22,32), fala muito claro sobre isto:
“Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de
vós como o leão que ruge, buscando a quem possa devorar. Resisti-lhe
fortes na fé” (1Pd 5,8-9).
Estas são palavras que não deixam margem à dúbia interpretação.
Também os outros Vigários de Cristo na
terra, sucessores de São Pedro, falaram do assunto. Por exemplo, o Papa
Paulo VI, na alocução Livrai-nos do Mal, explicando este último pedido que Jesus nos ensinou a fazer ao Pai na oração do Pai-Nosso, em 15 de novembro de 1972 disse:
“O Demônio é a origem da primeira
desgraça da humanidade: foi o tentador pérfido e fatal do primeiro
pecado, o pecado original. Com a falta de Adão, o Demônio adquiriu um
certo poder sobre o homem, do qual só a Redenção de Cristo nos pode
libertar… Sabemos, portanto, que este ser mesquinho e perturbador existe
realmente e que ainda atua com astúcia traiçoeira; é o inimigo oculto
que semeia erros e desgraças na história dos homens”.
É preciso, portanto, lembrar uma vez mais o que São João nos ensina: “Cristo veio para destruir as obras do demônio”.
Mas isto Deus tornou-se possível por
Maria; por isso ela é odiada por Satanás, porque trouxe no seio Aquele
que seria o Salvador da humanidade, o Vencedor de Satanás.
O
demônio já não tem mais poder sobre aqueles que creem em Jesus e lhe
entregaram sua vida, mediante a fé e o Batismo. Neste sacramento, afirma
São Paulo, nós morremos com Cristo para o pecado e o demônio, e
ressuscitamos para Deus. Pelo Batismo aplica-se a cada um a salvação que
Cristo nos conquistou por Sua Cruz. Ouçamos o Apóstolo:
“Ou ignorais que todos os que fomos
batizados em Jesus Cristo fomos batizados com Ele em Sua morte pelo
Batismo, para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai,
assim também vivamos uma vida nova (…) Sabemos que nosso velho homem foi
crucificado com Ele, para que seja reduzido à impotência o corpo
(outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado. Pois
quem morreu, libertado está do pecado… O pecado já não vos dominará”
(Rm 6,4-14).
Para São Paulo, ser liberto do pecado é
ser liberto da morte e do demônio; e isto, só o Cristo nos pode
conceder. E Cristo veio por Maria.
Certa vez uma criança pequena entrou num
quarto escuro e sem perceber pisou a cabeça de uma serpente venenosa.
Tentou esmagar a cabeça da cobra que lhe queria dar o golpe mortal, mas
era fraca e impotente para vencer a batalha. Que fez ao ver-se perdida?
Gritou por sua mãe. Esta, ao ver o perigo em que se encontra a sua
filhinha, colocou seu pé sobre o da pequenina e ambas, então esmagam a
cabeça da serpente. A filha estava salva.
É assim que nossa Mãe Santíssima faz
para conosco nas horas de tentações. Nesses horas é preciso rogar a Ela:
“A vós bradamos os degradados filhos de Eva. A vós suspiramos gemendo
neste vale de lágrimas… Esses vossos olhos misericordiosos a nós
volvei…”. Não tenha dúvidas de que a Imaculada virá em nosso socorro e
esmagará a cabeça da serpente.
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