Deus
criou o homem à sua imagem e semelhança e o constituiu na sua amizade.
Criatura espiritual que é, o homem só pode viver na amizade com Deus, se
livremente for submisso ao Criador. É o que significa a proibição,
feita ao homem, de comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal”,
como Deus lhe disse: “pois no dia em que dela comeres, terás que morrer”
(Gn 2,17).
“A árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2,17) significa,
simbolicamente, o limite intransponível que o homem, como criatura, deve
livremente reconhecer e respeitar com confiança. O homem depende do
Criador, está submetido às leis da criação e às normas morais que regem o
uso da liberdade.
Tendo sido criado por Deus, cabe ao Criador dizer como a criatura
deve viver para ser feliz. Deus é o Projetista do homem e o seu criador;
logo; conhece profundamente todas as faculdades que concedeu à Sua
criatura. Se esta lhe virar as costas, será infeliz.
Imagine
uma pessoa que compre, por exemplo, um ventilador, cujo fabricante
indique no catálogo que se ligue o aparelho em 110 volts; mas que ao
usar o ventilador insista em ligá-lo em 220 volts para “funcionar
melhor”. O que vai acontecer? Vai queimar o aparelho. Por quê? Porque
desobedeceu ao catálogo do fabricante.
É exatamente isso que acontece com o homem, desde o Paraíso; preferiu
seguir a sua vontade e não a do Seu Criador; por isso, provocou o caos
na sua vida.
A liberdade do homem e o seu amor a Deus foram colocados à prova,
pois Deus quer ser amado livremente pelas criaturas que Ele criou e
colocou em sua amizade. Sem liberdade o amor não é autêntico, não tem
valor. O pecado original revela que o homem não passou nesta prova do
amor. Nosso Catecismo confirma:
“É o que exprime a proibição, feita ao homem, de comer da árvore do
conhecimento do bem e do mal, “pois, no dia em que dela comeres, terás
de morrer” (Gn 2,17)… O homem depende do Criador, está submetido às leis
da criação e às normas morais que regem o uso da liberdade” (§396).
Infelizmente, tentado pelo Diabo, o homem deixou morrer em seu
coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade,
desobedeceu ao mandamento de Deus. Quis ser como Deus, por soberba,
colocou Deus em segundo lugar, e assim destruiu o plano inicial de Deus.
Confirma o Catecismo:
“Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí
em diante, será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em
sua bondade. Neste pecado, o homem preferiu a si mesmo a Deus, e com
isso menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as
exigências de seu estado de criatura e consequentemente de seu próprio
bem. Constituído em um estado de santidade, o homem estava destinado a
ser plenamente “divinizado” por Deus na glória. Pela sedução do Diabo,
quis “ser como Deus”, mas sem Deus, e antepondo-se a Deus, e não segundo
Deus” (§397-8).
Assim o pecado é apresentado, segundo o texto bíblico, como uma
recusa pessoal a Deus, Um NÃO dito a Deus. Começa pela recusa da
confiança em Deus; progride não apenas como desobediência, mas também
como “tentativa de se apoderar, por própria força, daquilo que é
reservado a Deus e ser igual a ele. Os homens rompem suas relações
pessoais com seu maior benfeitor. Não surpreende se Deus se torna
imediatamente estranho e terrível a eles” (Mysterium Salutis II/3, pg.
314-315).
Assim explica o conceituado Tanquerey, no seu “Compêndio de Teologia
Ascética e Mística”: “Era uma tentação de orgulho, de revolta contra
Deus. O homem sucumbe e comete formalmente um ato de desobediência, como
mostra S. Paulo (Rm 5), mas inspirado pelo orgulho, e imediatamente
seguido de outras faltas. Era uma culpa grave, pois era recusar
submeter-se à autoridade de Deus; era uma espécie de negação de seu
domínio supremo e da sua sabedoria, já que este preceito era um meio de
provar a fidelidade do primeiro homem; culpa tanto mais grave, quanto
melhor conheciam os nossos primeiros pais a infinita liberalidade de
Deus para com eles, os seus direitos imprescritíveis, a gravidade do
preceito manifestado pela gravidade da sanção que lhe fora anexa; e,
como não eram arrastados pelo ímpeto das paixões, tinham tempo de
refletir sobre as consequências formidáveis dos seus atos” (idem, pg.
34).
A Bíblia de Jerusalém, em um a nota, explica a expressão “a árvore do conhecimento do bem e do mal”, assim:
“Esse
conhecimento é um privilégio que Deus se reserva e que o homem usurpará
pelo pecado (Gn 3,5.22). Não se trata, pois, nem da onisciência, que o
homem decaído não possui, nem do discernimento moral, que o homem
inocente já tinha e que Deus não pode recusar à sua criatura racional. É
a faculdade de decidir por si mesmo o que é bem e o que é mal e de agir
consequentemente: reivindicação de autonomia moral pela qual o homem
nega seu estado de criatura (cf. Is 5,19-20). O primeiro pecado foi um
atentado à soberania de Deus, um pecado de orgulho. Esta revolta
imprimiu-se concretamente pela transgressão de um preceito estabelecido e
representado sob a imagem do fruto proibido” (Bíblia de Jerusalém, E.
Paulinas, 1985, pg. 34).
“Ai daqueles que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que mudam as
trevas em luz e a luz em trevas, que tornam doce o que é amargo, e
amargo o que é doce! Ai daqueles que são sábios aos próprios olhos, e
prudentes em seu próprio juízo!” (Is 5, 19-20).
Não comer do fruto da árvore do bem e do mal, significa, pois, que o
homem deveria obedecer a Deus para ser feliz, para se manter no estado
de graça e de santidade em que foi criado. Assim, não deveria nem morrer
e nem sofrer. E hoje, a humanidade continua o mesmo caminho de recusar a
seguir a lei de a vontade de Deus; por isso, continua a sofrer e a
chorar.
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