quinta-feira, 11 de julho de 2019

Cristo, sempre vivo, intercede por nós.

Antes do mais, chama-nos a atenção que, na conclusão das orações, dizemos: “por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho” e nunca: “pelo Espírito Santo”.


Não é sem motivo que a Igreja Católica o repete, por causa do mistério “do mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem, sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, que com seu próprio sangue entrou uma vez por todas no santuário, não feito por mãos de homens, figura do verdadeiro, mas no próprio céu, onde está à direita de Deus e intercede por nós”.
Contemplando esta função pontifical, diz o Apóstolo: “Por ele ofereçamos sempre o sacrifício de louvor, o fruto dos lábios daqueles que confessam seu nome”. Por conseguinte, por ele oferecemos o sacrifício de louvor e da prece, pois, mediante a sua morte, fomos reconciliados, nós os inimigos. Por ele, que se dignou tornar-se sacrifício em nosso favor, o nosso sacrifício pode ser bem aceito diante de Deus. São Pedro adverte-nos, dizendo: “E vós, quais pedras vivas, entrais na edificação deste edifício espiritual, no sagrado sacerdócio, oferecendo vítimas espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo”. É esta a razão que nos faz dizer: “Por nosso Senhor Jesus Cristo”.

Quando se menciona o sacerdote, que vem à mente a não ser o mistério da encarnação do Senhor? Mistério do Filho de Deus que, embora “de condição divina, aniquilou-se a si mesmo, assumindo a forma de escravo; em sua humilhação, fez-se obediente até a morte; a saber, feito um pouco menor do que os anjos”, possuindo, embora, a igualdade com Deus Pai. O Filho se diminuiu, permanecendo igual ao Pai, porquanto se dignou assemelhar-se aos homens. Tornou-se o menor, quando se aniquilou a si mesmo, tomando a forma de servo. A diminuição de Cristo é seu aniquilamento, mas o aniquilamento consiste na aceitação da forma de servo.
Cristo, permanecendo na forma de Deus o unigênito de Deus, a quem juntamente com o Pai oferecemos sacrifícios, tomou a forma de servo, tornando-se sacerdote. Assim, por ele, podemos oferecer um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Nunca nos seria possível oferecer tal sacrifício se Cristo não se houvesse tornado, ele mesmo, sacrifício para nós. Nele, a própria natureza do gênero humano é o verdadeiro sacrifício de salvação.
Com efeito, quando nos apresentamos para oferecer, mediante nosso eterno sacerdote e senhor, nossas orações, afirmamos ter ele a verdadeira carne de nossa raça. O Apóstolo já dissera: “Todo pontífice é escolhido dentre os homens e a favor dos homens é constituído para as coisas que dizem respeito a Deus, a oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”. Quando, porém, dizemos: “Vosso filho” e crescentamos: “que convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo”, comemoramos aquela unidade naturalmente existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Daí se deduz ser o Cristo o que exerce a função sacerdotal para nós, o mesmo a quem pertence, por natureza, a unidade com o Pai e o Espírito Santo.


São Fulgêncio de Ruspe, Bispo – Século VI
Retirado do livro: “No Coração da Igreja”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

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