Há várias razões porque Deus se fez homem, e quis habitar entre nós; mas todas elas são devido a Seu amor por nós.
O Credo niceno-constantinopolitano, diz que: “Por nós, homens, e para
nossa salvação, desceu dos Céus e se encarnou pelo Espírito Santo, no
seio da Virgem Maria, e se fez homem”. Este é o motivo principal: “para a
nossa salvação”.
O pecado da humanidade feriu e fere a Majestade infinita de Deus; e a
Justiça divina devia ser reparada por um ato de reparação de valor
infinito, porque Deus é misericordioso, mas também é justo. Ele age pelo
direito e pela justiça, diz o Salmista: “Deus governa os povos com
justiça” (Sl 95, 10). “Seu trono tem por fundamento a justiça e o
direito” (Sl 96, 2). Deus tinha de vencer o demônio no mesmo campo em
que o demônio venceu Adão e Eva, como seres humanos; por isso Jesus se
fez homem para vencê-lo.
Como
nenhum homem poderia oferecer à Justiça divina esta reparação, ainda
que fosse o mais santo, então o próprio Filho de Deus assumiu esta
missão, por amor a nós. A Carta aos Hebreus explica este mistério do
amor de Deus: “Por isso, ao entrar no mundo, Cristo afirmou: Não
quiseste sacrifício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo.
Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não foram de Teu agrado. Por isso
eu digo: Eis-me aqui… para fazer a tua vontade” (Hb 10,5-7; Sl 40,7-9
LXX)
Pelo pecado original toda a humanidade se afastou de Deus,
experimentou a danação, a condenação eterna. Ficamos todos escravos do
pecado, da morte e do demônio. São Paulo ensina que “quando éramos
pecadores, Cristo morreu por nós” (Rom 5,8). Deus não nos abandonou ao
poder da morte. Enviou o Seu Filho único para nos salvar.
São João evangelista diz que por Cristo fomos reconciliados com Deus:
“Foi Ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação
por nossos pecados” (1Jo 4,10). “O Pai enviou seu Filho como o Salvador
do mundo” (1Jo 4,14). “Este apareceu para tirar os pecados” (1Jo 3,5).
São Gregório de Nissa, Santo Padre da Igreja do século IV, expressou bem esta realidade ao dizer que:
“Doente, nossa natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida;
morta, ser ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso
no-la restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz;
cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos,
um libertador. Essas razões eram sem importância? Não eram tais que
comoveriam a Deus a ponto de fazê-lo descer até nossa natureza humana
para visita-la, uma vez que a humanidade se encontrava em um estado tão
miserável e tão infeliz?”
Também São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja (440-460) explica bem ao dizer:
“A humildade foi assumida pela majestade, a fraqueza, pela força, a
mortalidade, pela eternidade. Para saldar a dívida de nossa condição
humana, a natureza impassível uniu-se à natureza passível. Deste modo,
como convinha à nossa recuperação, o único mediador entre Deus e os
homens, o homem Jesus Cristo, podia submeter-se à morte através de sua
natureza humana e permanecer imune em sua natureza divina”.
A Igreja nos ensina que o Verbo se fez carne também para que, assim,
conhecêssemos o amor de Deus: “Nisto manifestou-se o amor de Deus por
nós: Deus enviou seu Filho Único ao mundo para que vivamos por Ele” (1
Jo 4,9).
Também o Verbo se fez carne para ser nosso “modelo de santidade”. Ele
disse: “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim que sou manso e
humilde de coração” (Mt 11,29). “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida;
ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14,6). E o Pai, no monte da
Transfiguração, ordena: “Ouvi-o” (Mc 9,7). Pois Ele é o modelo das
Bem-aventuranças e a norma da Nova Lei: “Amai-vos uns aos outros como eu
vos amei” (Jo 15,12). Jesus mostrou-nos o comportamento perfeito e pede
que O sigamos e imitemos em Sua perfeição.
São Pedro ainda nos indica que o Verbo se fez carne para
tornar-nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4). Santo Irineu de
Lião (†200), disse:
“Pois esta é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de
Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando em comunhão com o
Verbo e recebendo, assim, a filiação divina, se torne filho de Deus”.
São Tomás de Aquino afirmou que “O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos
participantes de sua divindade, assumiu nossa natureza para que aquele
que se fez homem dos homens fizesse deuses” (Cat. n. 460).
Ninguém como São Paulo expressou bem a Encarnação do Verbo, indicando a sua consequência para cada cristão:
“Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a
condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se
apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, assumiu a condição de
servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem,
humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2,5-8).
A
fé na Encarnação verdadeira do Filho de Deus é o sinal determinante de
nossa fé, disse São João, diante da heresia gnóstica que negava a
encarnação do Filho de Deus:
“Nisto reconheceis o Espírito de Deus. Todo espírito que confessa que
Jesus Cristo veio na carne é de Deus” (1Jo 4,2). Esta é a alegre
convicção da Igreja desde o seu começo, quando canta “o grande mistério
da piedade”: “Ele foi manifestado na carne” (1 Tm 3,16).
Há uma de nossas músicas que diz: “Prova de amor maior não há que
doar a vida pelo irmão…”. É exatamente isso que Jesus fez por nós, por
cada um de nós individualmente. Tudo o que fizermos por Ele será pouco
em comparação do que Ele fez e faz por nós. Abramos, então, o coração
purificado para recebê-lo como nosso único Senhor e Salvador. Que Ele
faça morada em nossa alma; que nossos sentimos, desejos e pensamentos,
sejam os Seus, e que Ele reine em nossas vidas. São João da Cruz nos
lembra que “Amor só se paga com amor!”
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