Precisamos
pedir a Deus, a graça de penetrar no grandioso mistério encerrado na
Encarnação do Verbo, para que colhamos os frutos deste que é o maior ato
de amor da história. O Natal de Jesus revela-nos um pouco do grande
mistério, “escondido desde o princípio dos séculos em Deus” (Ef 3,9), e
que agora foi revelado. Vamos mergulhar um pouco na beleza desse
mistério que o Natal no revela.
O pecado gerou entre Deus e o homem uma distância infinita, um abismo
insuperável, o rompimento da amizade. Mas, a misericórdia de Deus, que
ama a sua criatura humana com amor eterno, sobre o abismo gerado pelo
pecado, ergueu uma Ponte maravilhosa que une a terra ao céu e, que
restabelece as relações de intimidade entre Deus e os homens.
Só a Mediação de Jesus tem todas as prerrogativas para ser
perfeitamente agradável a Deus, pois Ele é verdadeiro Deus e satisfaz,
da mesma maneira, as condições necessárias para pagar as dívidas da
humanidade pecadora, pois é também verdadeiro homem e, como tal,
representa o gênero humano inteiro. Na Pessoa do Verbo humanado,
abraça-se a divindade e a humanidade de Cristo.
Jesus é esta Ponte maravilhosa, o Pontífice, o “único Mediador entre
Deus e os homens, une de modo deveras admirável, a terra ao céu”, como
disse Pio XII na Mystici Corporis Christi. Só Jesus pode ser o Mediador
entre Deus e os homens, porque só Jesus é Deus e homem, e assim Ele pode
oferecer um Sacrifício necessário e suficiente, de valor infinito, para
reparar a ofensa infinita que o pecado da humanidade fere a Majestade
Infinita de Deus. Por isso, disse São Pedro, “não nos foi dado outro
Nome no qual tenhamos salvação” (At,12).
Nele e por Ele todos os homens são admitidos de novo à amizade com o
Pai; Nele todos podem reencontrar o caminho para chegar à união com a
Santíssima Trindade.
O Pai eterno dignou-Se revelar este admirável mistério a Santa Catarina de Sena:
“Eu desejo que olhes para a Ponte que construí no meu Unigênito Filho
e observes a Sua grandeza que vai da terra ao céu, pois Nele a grandeza
da divindade está unida à terra da vossa humanidade. Isto foi
necessário para refazer o caminho que estava interrompido e para
permitir chegar, através das amarguras deste mundo, à vida eterna”
(Diálogos,22).
“Foi do agrado do Pai que residisse Nele toda a plenitude da
divindade e que por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas,
pacificando pelo Sangue da sua cruz, tanto as coisas da terra como as
coisas do céu” (Col 1, 19-20).
Disse o Concílio Vaticano II: “Com efeito, o Verbo de Deus, por quem
tudo foi feito, fez-se homem, para homem perfeito, a todos salvar e a
todos recapitular” (GS,45).
A obra de Jesus Mediador completa-se no Calvário onde Ele derramou
todo o Seu Sangue, preço do nosso resgate; mas esta obra começou na
manjedoura de Belém, onde o Verbo, num gesto de amor infinito ao homem,
desceu do céu à terra, e se fez homem e Deus.
O terrível abismo que o pecado tinha criado entre Deus e os homens já
foi preenchido por este Menino que, no Presépio, nos estende os braços.
Tudo aquilo que o pecado danificara e destruíra, é assim, por vontade
de Deus, salvo e “restaurado em Cristo” (Ef, 1. 10). No Presépio à
ternura se une uma imensa admiração, e surge espontaneamente a
necessidade de louvar e adorar este Menino.
A graça que Adão havia recebido de Deus, e que não pode nos
transmitir, recebemos só por meio de Jesus Mediador. Todas as graças,
tudo o que de sobrenatural chega às nossas almas, vem-nos sempre das
Suas mãos. E se quisermos alcançar a Deus, não temos outro meio senão
agarrar-nos a Jesus, passar através Dele. O próprio Jesus disse: “Eu sou
o caminho. Eu sou a porta; se alguém entrar por mim será salvo” (Jo 14,
6; 10, 9). Eis a única condição, o caminho único de salvação e
santidade.
A Virgem Maria não é uma ponte medianeira que substitui a única que é
Jesus. Ela apenas faz os seus filhos atravessarem a única Ponte
essencial, insubstituível, que é Jesus. De Maria a Jesus, de Jesus ao
Pai, sem confusão.
A grande guerra que o homem tinha com Deus transformou-se em grande
paz; Jesus puniu no Seu corpo, a nossa iniquidade e a desobediência de
Adão, fazendo-se obediente até à morte da cruz.
“Ó Cristo Deus, doce amante dos homens, eu Vos invoco, rogo e suplico
a fim de que caminhe por Vós, chegue a Vós, descanse em Vós que sois o
Caminho, a Verdade e a Vida; sem Vós ninguém chega ao Pai” (Santo
Agostinho).
Como os grandes santos da Igreja, precisamos meditar
longamente este santo mistério de nossa salvação e nos encantamos, como
por exemplo, São Gregório de Nissa:
“Tu, Senhor, és verdadeiramente uma fonte de bondade pura e
inesgotável; recusaste-nos e novamente nos acolheste com misericórdia;
odiaste-nos e reconciliaste-Te conosco; expulsaste-nos do paraíso e nos
devolveste a ele; tiraste-nos a roupagem e folhas silvestres para nos
revestir com um manto real; abriste as portas da prisão para dares
liberdade aos condenados… Para nós, herdeiros do pecado, tudo mudou em
deslumbrante alegria e vemos abrir-se o paraíso. A criação – terra e céu
– cuja unidade fora desfeita, entoam a nova amizade” (Orações dos
primeiros cristãos).
Prof. Felipe Aquino
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