É preciso ter a coragem de voltar; é preciso vencer o medo e a desconfiança do pai!
Ernest Renan, que foi um filósofo e
historiador francês, racionalista, que não aceitava Jesus como Deus, no
entanto escreveu no seu livro “A vida de Jesus”, que “a história do
Filho Pródigo é a mais bela página da literatura universal”. De fato,
não há página mais emocionante e que revele tanta bondade, mansidão,
perdão e misericórdia. Com esta parábola Jesus quis revelar toda a
misericórdia de Deus, que muito mais do que perdoar os pecados do
pecador, perdoa o pecador. Não há como esgotar todo o ensinamento desta
parábola.
Muitos se converteram meditando esta
página do Evangelho de São Lucas. Diante da misericórdia de Deus Pai,
tão magistralmente revelada por Jesus, não há coração que permaneça
endurecido, e que não tenha o desejo de voltar para a casa do Pai.
Aquele
filho desnorteado, sem vida e sem rumo, perdido no mundo, que parte
iludido pelas fantasias do mundo, deixa em frangalhos o coração do pai,
que não pode tirar-lhe a liberdade, e que o deixa partir, mas ficando
com o coração sangrando, esperando-o um dia voltar. Deus não pode tirar a
nossa liberdade, senão perdemos a sua semelhança.
A história do filho pródigo é assim com
cada pecador longe de Deus. Mas Deus não desiste de nenhum deles; espera
que volte, mesmo que seja movido pela dor, pelas lavagens do mundo,
pelas traições dos amigos e pela desilusão das riquezas. Deus sabe
esperar sem desesperar.
Aquele moço partiu cheio de vida, de encanto, achando que ia
encontrar o céu na terra; e acabou encontrando o inferno. Bento XVI
disse um dia que todos os que quiseram construir o céu na terra,
acabaram criando o inferno. É uma lição que os homens precisam aprender.
Hitler, Marx, Engels, Stalin, Lenin, Fidel Castro, Che Guevara, Mao Tse
Tung, etc… quiseram o céu na terra e criaram o inferno do assassinato
em massa.
O filho dissipou toda sua fortuna com os
falsos amigos e com as prostitutas, e se viu nas no limiar do
desespero, passando fome teve de se sujeitar a tratar de porcos e comer
sua lavagem quando lhe permitiam. Que miséria! Restava-lhe apenas uma
saída, pensava, voltar como escravo para a casa do pai, não mais como
filho, pois já tinha recebido sua herança. Bendito hora que teve esta
intuição! Entrou em si, se examinou e reconheceu o seu erro.
Viu a besteira que tinha feito, deixar a
casa calorosa do pai, onde tinha de tudo, para se aventurar nas
amarguras do mundo. Loucamente trocou as alegrias da casa paterna pela
miséria em que se afundou; foi chocante demais. Tomou, então, a sábia
decisão de voltar; viu seu orgulho quebrado e jogado na terra pela fome,
e certamente já conhecia o bom coração do pai. Isso ele teve de bom,
foi sincero, reconheceu seu pecado, pediu perdão, e quis apenas ser um
escravo; se redimiu. Se reconheceu indigno de ser filho, pelo que
fizera: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”. Se deu conta que só
teria tranquilidade junto da proteção paterna; não tinha outra opção. É a
lição eterna que cada homem precisa aprender: não pode haver paz e
felicidade fora da casa do Pai, longe de Deus. A meta do Mal é nos
afastar de Deus e do seu amor.
A cena do reencontro daquele pai com o
filho é algo de comovente, de encantador, faltam palavras para narrá-lo.
Rembrandt retratou belamente em seu quadro. Certamente o moço esperava
broncas, lições de moral, e estava com a alma preparada para isso. A
fome aceita tudo para ser saciada. Mas, que nada, encontra, ao
contrário, a compreensão e a misericórdia nunca vista antes. Longe de
ser desprezado, humilhado, xingado, ele encontra o carinho e o amor de
um pai manso e compassivo, com um coração sangrando e com lágrima nos
olhos. O filho pode deixar de ser filho, mas o pai não deixa de ser pai.
É a mais bela imagem de Deus misericordioso, “rico em misericórdia”,
que espera cada filho com os braços e o coração abertos, desde que ele
volte arrependido, ainda que seja mais pela dor do que por amor ao
sofrimento causado ao pai por seus pecados. Num abraço o pai sufoca as
palavras do filho perdido. Ele só pensa nisso: é meu filho, estava
perdido, foi salvo; o resto não me interessa. A misericórdia não faz
cálculos, não tem balança. Ninguém entende essa misericórdia sem
limites; por isso o filho mais velho ficou tão irritado; não entendeu o
que é a misericórdia do pai.
O pai lhe troca os farrapos por uma rica
túnica. Manda colocar sandálias novas nos seus pés feridos pelas pedras
do caminho, um anel no dedo e um banquete! Só mesmo um pai para fazer
isso! Só mesmo um coração divino para nos ensinar tanta misericórdia e
tanto amor por cada filho.
Bastou o filho voltar, arrependido, decidido, para ser premiado. O
pai percebe a sua sinceridade nesta admirável declaração: “Não sou digno
de ser mais chamado teu filho”. Ele confessou abertamente sua falta:
“Pai, pequei contra o céu e contra ti”. É tudo que o pecador precisa
fazer para ser premiado com o abraço paterno. É preciso ter a coragem de
voltar; é preciso vencer o medo e a desconfiança do pai.
A
conduta do filho mais velho, contudo, merece uma reflexão. Toma atitude
diametralmente oposta à do pai. Deixa-se levar pela indignação; é
egoísta. Fechado dentro de si mesmo. Não teve pena do irmão e faltou com
a caridade para com ele, além de desrespeitar e obedecer o bom pai, a
quem ele censura por ser tão generoso. O pai não se irrita. Mas o pai
não se irrita também bom o filho mais velho. Tem o mesmo gesto de
bondade e lhe pede participe da festa em honra do irmão que se perdera,
mas que voltara.
Assim é Deus, em todas as ocasiões,
clemente e misericordioso. Aqueles que se transviam, agindo como o filho
pródigo, encontram junto Dele o perdão, a misericórdia e a paz, quando
há a conversão autêntica do coração. É a “metanoia” salvadora, mudança
completa de vida e de atitudes. Não podemos julgar o próximo como o
filho mais velho da parábola, com severidade, com dureza, sem compaixão.
Jesus disse que veio salvar o que estava
perdido. Veio buscar os doentes e não os sãos. Por isso, deixa as 99
ovelhas no aprisco e vai buscar a tresmalhada nos abismos e espinheiros.
E Ele bate à porta do coração do pecador de maneiras diversas. É
preciso responder-Lhe sem demora, confiando na Sua misericórdia.
Prof. Felipe Aquino
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