TATJANA SPLICHAL | DRUŽINA
Aprenda a utilizá-las antes que elas te escravizem
As
telas têm algo que nos atrai. Falo sobre as telas dos celulares, dos
computadores e tablets. Elas me tiram do mundo real e me levam para
muito longe, para outro lugar. Frequentemente, são uma ajuda que me
coloca em contato com muita gente. Não quero desqualificá-las. Como li
outro dia, elas são apenas ferramentas:
“Este mundo da informação nos oferece ferramentas. E as ferramentas, em si, não são um problema ou uma bênção, mas uma oportunidade. O que temos que fazer é aprender a usá-las e detectar as armadilhas nos atraem a elas”. [1]
As telas exercem um poder sedutor sobre mim. Eu gosto da luz, do
movimento. Através delas, vou ao futuro e volto ao passado. E, como sou
curioso, continuo pesquisando. De repente, estou fora da realidade.
Deixo de escutar perguntas, de olhar nos olhos, de caminhar olhando
para as pessoas. As telas me atraem e me seduzem com uma força
irresistível.
Elas têm uma luz especial. Parece que, nelas, tudo é mágico. Posso
dizer o que penso sem tanto medo. E posso esconder o que penso sem o
medo de ser descoberto.
As telas têm algo que me tiram da tristeza. Nos jogos, me sinto o
poderoso. Nas conversas, me vejo mais bem sucedido que na vida real. As
telas me cativam e eu me deixo levar por seus convites. Desapareço da
vista dos presentes. Ausento-me, sendo ainda visível. Não consigo
desaparecer totalmente.
As telas têm algo mágico, que me faz pensar que eu tenho poderes
especiais. E me faz crer que tenho mais amplitude de mente para fazer
várias coisas por vez sem me dispersar. Vã ilusão…
As telas têm um toque quase divino. Através delas,
trago ao meu mundo o que está longe. E afasto de mim o que está perto.
Digo o que quero dizer impunemente. Ninguém pode me causar dano se eu decidir desligar a tela. É a porta de entrada e saída.
As telas têm o poder de mudar o meu ânimo. Uma notícia boa ou má. Uma mensagem que me fere ou me alegra.
Descobri que sou uma criança que está aprendendo a falar. Antes das
telas, eu pensava que sabia. Depois, quando elas apareceram, desaprendi.
Esqueci. E já não me lembro de nenhum número de telefone. Me tornei
mais preguiçoso.
Eu creio que o Google é aquele Deus que sabe tudo. E eu, por um momento, também preciso saber.
Tento cuidar mais dos que estão por perto. Mas, entre nós,
interpõe-se uma tela mágica. Não consigo vê-los como antes. Porque a
prioridade são os mil avisos que dizem que alguém, longe ou perto, me
pede algo.
E eu, não sei se por curiosidade, generosidade ou por um afã não
reconhecido de ser necessário, vou rapidamente dando respostas a quem me
espera. Porque para isso é que foi inventada essa tela invasiva, que
altera minhas condutas, meus hábitos e meus tempos.
Agora, tenho que aprender, como as crianças, a me comunicar de verdade. Mais do que com palavras e gestos, com o coração.
Os emoticons que envio não podem substituir meus abraços de antes –
ou meus beijos. Minhas palavras entrecortadas, que se deslizam pela
tela, não conseguem preencher os vazios que, antes, enchiam de vida as
minhas conversas profundas – talvez até mais verdadeiras e humanas.
Quero tocar a tela. Como uma criança que descobre algo novo em seu
brilho, em sua magia. Mas, ao mesmo tempo, preciso aprender a usá-la.
Para não ser um escravo com um peso nos pés que não me deixa andar.
Quero lutar para estreitar os vínculos que tenho. Quero viver no
presente, e não deixar o tempo passar. Quero ser eu mesmo para os
outros. E não me esconder atrás de mil caretas.
Respondo de coração. E não quero somente dar respostas rápidas. É que eu os amo. É o que eu sonho diante destas telas mágicas, que atraem o meu olhar.
Carlos Padilla Esteban
[1] José María Rodríguez Olaizola, Bailar con la soledad
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