Por Vladimir Gjorgiev/Shutterstock
A nossa fé católica é cega? Ela nos é imposta pela Igreja? Somos por acaso proibidos de investigar os fundamentos de nossa fé?
“O
católico brasileiro já não raciocina com a cabeça alheia, já não aceita
o regime da fé cega, imposta pela Igreja, que nega até o direito de
procurar-lhe os fundamentos”.
Não é certamente a declaração de um verdadeiro e sincero católico
brasileiro, mas desses católicos que o são apenas de nome, e que na
realidade são espíritas, isto é, anticatólicos. Temos aí três acusações a
serem tomadas em consideração: a) que a nossa fé católica é cega; b) que ela nos é imposta pela Igreja; e c) que somos proibidos de investigar os fundamentos de nossa fé. Vejamos tudo isso.
Primeira acusação: É cega a fé dos católicos?
Pode esta cegueira ou obscuridade referir-se a duas coisas: ou ao
objeto de fé, ou aos seus motivos. Se os espíritas querem dizer que é
cega a nossa fé porque cremos sem motivos suficientes, então estão
erradíssimos e mostram grande ignorância. Falaremos logo mais sobre
isso. Mas se eles pensam que a nossa fé é cega porque é obscuro seu objeto, aí eles têm razão. Isso, todavia, de modo nenhum pode ser censurado. É essencial à fé.
É por isso que o crer se contrapõe ao ver. Quantas
coisas nós cremos sem ver e só por testemunho humano! Irrazoável,
blasfemo e pecaminoso seria não crer na palavra de Deus, apesar de saber
que Deus falou e que é infinitamente sábio e veraz.
Segunda acusação: A fé nos é imposta pela Igreja?
Absolutamente não! A Igreja apenas continua a missão de Cristo e dos
Apóstolos: “Ide, ensinai a todas as gentes a observar tudo o que vos
tenho mandado” (Mt 28, 20); “quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado” (Mc 16, 16).
Cumprindo esta sua missão, a Igreja propõe a doutrina e os mandamentos de Cristo. O ato de fé deve ser sempre livre e
espontâneo da parte de quem o aceita. Queres salvar-te? — pergunta a
Igreja ao homem. — Então crê o que Cristo ensinou. Não queres crer? Não
te obrigo contra tua vontade; mas não te salvarás… “Quem não crer será
condenado”. É palavra de Cristo, do Salvador e não da Igreja. Ela apenas repete.
Terceira acusação: Somos proibidos de procurar os fundamentos de nossa fé? Isso é repetido mil vezes pelos espíritas, ou porque são ignorantes, ou porque querem caluniar.
Dizem que nós não pensamos nem estudamos; que nós cremos sem nada
examinar, sem verificar o conteúdo da nossa fé; que qualquer indagação
um pouco mais aprofundada dos nossos dogmas teria como resultado uma mão
cheia de verdades quebradas, desconexas, contraditórias, irracionais
etc.; que, portanto, nós aceitamos as ideias mais abstrusas, não nos
preocupando nem com a lógica, nem com o bom senso, nem tendo a menor
ideia das recentes descobertas feitas pelas ciências exatas; que nós nos
entrincheiramos pertinazmente atrás dos dogmas, tendo um pavor imenso
de qualquer pessoa que sabe pensar e cerrando obstinadamente os olhos
para não ver os resultados dos estudos modernos.
Assim podemos ler em Leão Denis que a Igreja Romana, durante quinze
séculos, sufocou o pensamento; que ela sempre se esforçou por impedir o
homem de usar do direito de pensar; que ela se nos apresenta
despoticamente com as palavras “crê e não raciocines; ignora e
submete-te; fecha os olhos e aceita o jugo” (Cristianismo e Espiritismo, 50.ª ed., p. 126s).
Mas a verdade é que a Igreja, desde o princípio, tem favorecido de todos os modos o estudo sério e aprofundado das verdades da fé.
Homens houve, inteligentes, sérios e santos, em todos os tempos, que, amparados e fomentados pela Igreja, dedicaram a vida inteira ao estudo das verdades da fé. A ciência que se dedica a este estudo chama-se teologia. E só o ignorante em história pode repetir as acusações ineptas de Denis.
Nunca a Igreja proibiu ou impediu a investigação séria da fé.
Os livros para estudar as bases da fé católica estão à disposição de
todos. E a Igreja insiste mesmo nestes estudos. Pois ela bem conhece a
admoestação do Príncipe dos Apóstolos: “Guardai santamente em vossos
corações a Cristo Senhor, sempre prontos a satisfazer a quem quer que
vos peça razões da esperança que vos anima” (1Pd 3, 15).
E quanto mais penetramos nas verdades que Deus se dignou nos revelar, tanto mais nos sentimos seguros de abraçar a verdade;
quanto mais estudamos sobre os dados da fé, tanto mais exultamos na
santa alegria de filhos de Deus; quanto mais enfrentamos as objeções que
a impiedade e o orgulho dos homens sem fé nos lança em rosto, tanto
mais nos vemos confirmados naquilo que Deus realmente nos falou.
Não! Não temos motivos para envergonhar-nos da nossa fé, nem precisamos temer os ataques da incredulidade. Não é a verdadeira ciência que conduz os homens à apostasia:
é a falta de estudos sérios, é a vida desregrada, é o coração
desprendido de Deus e demasiadamente apegado aos bens passageiros que
leva à perda da fé e à incredulidade.
A inteligência esclarecida, o coração reto e a vida imaculada só podem levar a Deus e à fé em Deus. Não, a nossa fé não é irracional nem nos proíbe o raciocínio. Não, a Igreja não impede o estudo, nem cremos que algum dos nossos leitores jamais terá recebido semelhante proibição.
Se há católicos que não mostram interesse por sua fé; se existem até
intelectuais que se dizem católicos e que desconhecem as noções mais
elementares de sua fé, a culpa não será da Igreja que lhes proibiu esse
estudo ou lhes sonegou os necessários livros, mas a culpa será deles
mesmos: o seu desinteresse pelas coisas santas e a sua negligência em se
instruir é que são os únicos responsáveis.
Um última acusação: Mas a Igreja proíbe até a leitura da Bíblia! Falsíssimo. Semelhante afirmação, além de implicar uma injuriosa calúnia, é outro atestado de grande ignorância. A Igreja até recomenda vivamente a leitura diária da Sagrada Escritura.
Eis algumas recomendações de alguns Papas: “Os mais preciosos
serviços”, diz Bento XV, “são prestados à causa católica por aqueles
que, em diferentes países, puseram e põem ainda o melhor de seu zelo em
editar, sob formato cômodo e atraente, e em difundir os livros do Novo
Testamento e uma seleção dos livros do Antigo” [1]. E um pouco antes
dissera: “Nunca cessaremos de exortar todos os cristãos a fazerem sua
leitura cotidiana principalmente dos santíssimos Evangelhos de Nosso
Senhor” [2].
E Pio XII admoesta aos Bispos que “favoreçam e auxiliem as
associações que têm por fim difundir entre os fiéis exemplares da
Sagrada Escritura, particularmente dos Evangelhos, e procurar que nas
famílias cristãs se leiam regularmente todos os dias com piedade e
devoção” [3].
Nenhum comentário:
Postar um comentário