“ O propósito da disciplina é, no entanto, dar-nos uma consciência crítica em relação às limitações da própria linguagem da vida espiritual e das idéias sobre essa vida. Em nível elementar, a disciplina nos torna críticos quanto aos falsos valores da vida social (por exemplo, faz-nos perceber experimentalmente que a felicidade não está nos costumeiros rituais de consumo de uma sociedade afluente). Em um nível mais elevado, revela-nos as limitações das idéias espirituais formalistas e toscas. A disciplina desenvolve nossa visão crítica e nos mostra como é inadequado o que antes aceitávamos como válido em nossa vida religiosa e espiritual. Permite que abandonemos e descartemos, por serem irrelevantes, certos tipos de experiência que, no passado, tinham grande significado para nós. Faz-nos ver aquilo que antes servia de verdadeira ‘inspiração’ agora como rotina gasta, que devemos ultrapassar em busca de outra coisa. A disciplina nos dá coragem para enfrentar o risco e a angústia da ruptura com nosso nível anterior de experiência. Ela nos permite, na linguagem de São João da Cruz, enfrentar a Noite Escura com plena consciência da necessidade de sermos despojados do que antes nos gratificava e ajudava.”
Contemplation in a World of Action, de Thomas Merton
(Garden City, NY: Doubleday), 1971. p.128-129
No Brasil: Contemplação num Mundo de Ação (Ed. Vozes, Petrópolis), 1975, p. 116
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