COMO ALGUÉM PODE MUDAR SUA VIDA?

 

Tenho visto muita gente querendo mudar de vida. Esperamos, ansiamos por essa mudança, pois a vida não está boa: às vezes não conseguimos o que gostaríamos… outras vezes não conseguimos ser quem gostaríamos… outras vezes simplesmente não gostamos da situação em que estamos, da solidão que sentimos…

Tenho visto soluções muito diferentes e curiosas a essa ânsia de mudar de vida: Vejo pessoas que pintam os cabelos, compram carros ou roupas, mudam de cidade, ou de telefone, ou de namorado, e outras que até fazem cirurgias extremamente delicadas… mas essas parecem ser “soluções” bem superficiais, que enganam, mas não resolvem nada.

Tenho visto também pessoas que esperam um milagre nas suas vidas. Pessoas que se voltam para Deus em busca da graça em suas vidas. São pessoas que demonstram já ter entendido que a mudança precisa ser mais profunda, precisa atingir o coração. Mas percebo que entre essas pessoas existem algumas que literalmente: esperam que “caia do céu” o milagre que tanto aguardam. Muitas vezes se relacionam com Deus como se estivessem em um balcão de encomendas, dizendo: “Quero uma vida que me traga uma satisfação assim…”; e delegam toda a responsabilidade a Deus. Fico preocupado com essa forma de se eximir da responsabilidade de fazer algo pela própria vida.

Penso então: Como alguém pode mudar sua vida? O que buscar? Para onde ir? E considero: Uma mudança, em primeiro lugar, pede a definição de metas. Acredito que todos buscamos a felicidade, e me lembro do que nossa Igreja ensina: “O desejo que o homem tem de felicidade é, na verdade, saudade de Deus, que é a fonte de todo o bem”. Concluo então: Ele tem de ser a meta! Assim, talvez possa entender que mudança é essa que se busca: Afinal, cada coisa que faço, me aproxima ou me afasta Dele? Esse dia de hoje me tornou mais íntimo Dele? Minhas ações aumentaram nossa união?

Mas lembro então que talvez eu precise ser mais concreto. Afinal, meu desejo de mudar de vida passa pelas minhas realidades: família, trabalho, amizades, namoro, etc. E volto à minha pergunta: Como pode alguém mudar sua vida (tendo Deus como meta)? E me lembro de Francisco de Assis:
Francisco foi o homem do último milênio. Foi alguém como nós, que também quis mudar de vida. E não apenas mudou sua vida, mas também mudou a igreja, e abalou o mundo. Francisco, em primeiro lugar, conheceu Jesus e o amou. Entregou-se a Deus e ao evangelho de uma forma perturbadora e admirável. Mas Francisco não esperou uma mudança “cair do céu”. Ele a buscou incessantemente ao longo de toda a sua vida. Abandonou-se; mas seu abandono foi sinônimo de dar passos firmes, de lançar-se, e não de acomodar-se. Buscou a Deus; viveu o evangelho. Buscou mais compreender que ser compreendido. Buscou mais dar, que receber. Amou! Será que ele sabia se seus passos eram os certos? Nem sempre! Tinha certeza do que fazer? É possível que tenha se questionado até seu último momento! Mas também mantinha vigília diária nas suas intenções, suas motivações. Vigiou seu coração: não interessava o que viesse a acontecer, contanto que estivesse em Deus e com a igreja. Foi obediente e foi ousado.

Viver o abandono em Deus, talvez seja a resposta a nosso desejo de mudança. Contudo, abandonar-se não significa passividade. Talvez seja o nosso momento de amar mais que sermos amados, compreender mais que ser compreendidos. Como isso fica hoje na sua vida? Talvez seja hora de dar aquele abraço naquela pessoa tão difícil, mas que é tão amada! Talvez seja hora de para um pouco e escutar o que o outro! Tempo de dar o perdão! Tempo de pedir perdão! Há quanto tempo falta tempo para a família? Qual é a iniciativa necessária para mudar hoje? Qual é o gesto de afeição que é necessário dar para meu próximo (pai, mãe, amigo, vizinho, namorado…)? Abandonar-se também implica em dar passos, sabendo que Deus não só corrige o passo dado, mas pode corrigir até o caminho. Só precisamos manter a docilidade, para acolher as correções que virão. Os milagres acontecem, e realmente caem do céu. Mas talvez Deus esteja esperando a hora certa de nos dar esses presentes. Presentes que não apenas nos alegrem; mas que também nos ensinem qual é a fonte de toda a felicidade.