A liturgia do segundo domingo de Advento constitui um veemente apelo
ao reencontro do homem com Deus, à conversão. Por sua parte, Deus está
sempre disposto a oferecer ao homem um mundo novo de liberdade, de
justiça e de paz; mas esse mundo só se tornará uma realidade quando o
homem aceitar reformar o seu coração, abrindo-o aos valores de Deus.
Na primeira leitura, um profeta anônimo da época do Exílio garante aos exilados a fidelidade de Jahwéh e a sua vontade de conduzir o Povo – através de um caminho fácil e direito – em direção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de auto-suficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus.
No Evangelho, João Baptista convida os seus contemporâneos (e, claro, os homens de todas as épocas) a acolher o Messias libertador. A missão do Messias – diz João – será oferecer a todos os homens esse Espírito de Deus que gera vida nova e permite ao homem viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão, de transformação, de mudança de vida e de mentalidade.
A segunda leitura aponta para a parusia, a segunda vinda de Jesus. Convida-nos à vigilância – isto é, a vivermos dia a dia de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo e na construção do Reino. Se os crentes pautarem a sua vida por esta dinâmica de contínua conversão, encontrarão no final da sua caminhada terrena “os novos céus e a nova terra onde habita a justiça”.
Na primeira leitura, um profeta anônimo da época do Exílio garante aos exilados a fidelidade de Jahwéh e a sua vontade de conduzir o Povo – através de um caminho fácil e direito – em direção à terra da liberdade e da paz. Ao Povo, por sua vez, é pedido que dispa os seus hábitos de comodismo, de egoísmo e de auto-suficiência e aceite, outra vez, confrontar-se com os desafios de Deus.
No Evangelho, João Baptista convida os seus contemporâneos (e, claro, os homens de todas as épocas) a acolher o Messias libertador. A missão do Messias – diz João – será oferecer a todos os homens esse Espírito de Deus que gera vida nova e permite ao homem viver numa dinâmica de amor e de liberdade. No entanto, só poderá estar aberto à proposta do Messias quem tiver percorrido um autêntico caminho de conversão, de transformação, de mudança de vida e de mentalidade.
A segunda leitura aponta para a parusia, a segunda vinda de Jesus. Convida-nos à vigilância – isto é, a vivermos dia a dia de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-nos na transformação do mundo e na construção do Reino. Se os crentes pautarem a sua vida por esta dinâmica de contínua conversão, encontrarão no final da sua caminhada terrena “os novos céus e a nova terra onde habita a justiça”.
LEITURA I – Is 40,1-5.9-11
Leitura do Livro de Isaías
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus.
Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados.
Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus.
Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos
e aplanem-se as veredas escarpadas.
Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou».
Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião!
Grita com voz forte, arauto de Jerusalém!
Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus.
O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará.
Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa.
Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados.
Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus.
Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos
e aplanem-se as veredas escarpadas.
Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou».
Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião!
Grita com voz forte, arauto de Jerusalém!
Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus.
O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará.
Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa.
Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
AMBIENTE
O nosso texto pertence ao “Livro da Consolação” do Deutero-Isaías
(cf. Is 40-55). “Deutero-Isaías” é um nome convencional com que os
biblistas designam um profeta anónimo da escola de Isaías que,
provavelmente, cumpriu a sua missão profética na Babilónia, entre os
exilados judeus (embora alguns situem a sua actividade profética em
Jerusalém). Estamos na fase final do Exílio, entre 550 e 539 a.C.
O tempo do Deutero-Isaías é uma época peculiar, com problemas muito próprios. Muitos dos exilados estão frustrados e desorientados, sem entender porque é que Deus permitiu o drama da derrota e do Exílio… Outros estão instalados e acomodados e já não pensam em regressar à sua terra nem esperam nada de Deus.
Na fase final desta época, as notícias das vitórias de Ciro, o persa, sobre os babilónios, fazem esperar um rápido desmoronar do império babilónico e a libertação dos judeus exilados… Mas, se essa libertação chegar – perguntam os exilados – a quem é que deve ser atribuída: a Jahwéh, ou aos deuses persas? Se é a Jahwéh, porque é que Ele escolheu um estrangeiro e não um membro do Povo de Deus para realizar a obra maravilhosa da libertação? No caso de a libertação acontecer, valerá a pena arriscar o regresso e enfrentar as dificuldades do recomeço? Haverá, ainda, um futuro para esse Povo de Deus que parece ter sido abandonado por Jahwéh?
O Deutero-Isaías aparece neste contexto. A sua mensagem destina-se a consolar os exilados (os capítulos 40-55 do Livro do Profeta Isaías chamam-se, precisamente, “Livro da Consolação”) e apontar-lhes novas razões para ter esperança. O profeta começa por anunciar a iminência da libertação e por comparar a saída da Babilônia ao antigo êxodo, quando Deus libertou o seu Povo da escravidão do Egito (cf. Is 40-48)… Ciro é apresentado como “o escolhido de Jahwéh”, o instrumento de Deus na libertação de Judá. Na segunda parte do livro, o profeta anuncia a reconstrução de Jerusalém, essa cidade que a guerra reduziu a cinzas, mas à qual Deus vai fazer regressar a alegria e a paz sem fim (cf. Is 49-55).
A primeira leitura deste domingo apresenta-nos, precisamente, o prólogo do “Livro da Consolação”.
O tempo do Deutero-Isaías é uma época peculiar, com problemas muito próprios. Muitos dos exilados estão frustrados e desorientados, sem entender porque é que Deus permitiu o drama da derrota e do Exílio… Outros estão instalados e acomodados e já não pensam em regressar à sua terra nem esperam nada de Deus.
Na fase final desta época, as notícias das vitórias de Ciro, o persa, sobre os babilónios, fazem esperar um rápido desmoronar do império babilónico e a libertação dos judeus exilados… Mas, se essa libertação chegar – perguntam os exilados – a quem é que deve ser atribuída: a Jahwéh, ou aos deuses persas? Se é a Jahwéh, porque é que Ele escolheu um estrangeiro e não um membro do Povo de Deus para realizar a obra maravilhosa da libertação? No caso de a libertação acontecer, valerá a pena arriscar o regresso e enfrentar as dificuldades do recomeço? Haverá, ainda, um futuro para esse Povo de Deus que parece ter sido abandonado por Jahwéh?
O Deutero-Isaías aparece neste contexto. A sua mensagem destina-se a consolar os exilados (os capítulos 40-55 do Livro do Profeta Isaías chamam-se, precisamente, “Livro da Consolação”) e apontar-lhes novas razões para ter esperança. O profeta começa por anunciar a iminência da libertação e por comparar a saída da Babilônia ao antigo êxodo, quando Deus libertou o seu Povo da escravidão do Egito (cf. Is 40-48)… Ciro é apresentado como “o escolhido de Jahwéh”, o instrumento de Deus na libertação de Judá. Na segunda parte do livro, o profeta anuncia a reconstrução de Jerusalém, essa cidade que a guerra reduziu a cinzas, mas à qual Deus vai fazer regressar a alegria e a paz sem fim (cf. Is 49-55).
A primeira leitura deste domingo apresenta-nos, precisamente, o prólogo do “Livro da Consolação”.
MENSAGEM
O profeta é, pois, enviado por Deus a anunciar “ao coração de
Jerusalém” que a “consolação” do Senhor está próxima (vers. 1). A imagem
do “falar ao coração” sugere a relação de amor entre Jahwéh e o seu
Povo, entre o amado e a amada… Deus “fala ao coração” do seu Povo, com
amor e ternura, a fim de o consolar.
Em que consiste essa “consolação”?
Consiste, em primeiro lugar, no anúncio do perdão de Deus (vers. 2). Os exilados estavam convencidos de que a dolorosa experiência do Exílio era o castigo para os pecados cometidos pelo Povo de Judá. Viviam angustiados, afogados em sentimentos de culpa, sentindo-se em transgressão, indignos, pecadores e afastados de Deus. Neste contexto, Deus diz-lhes: o tempo da ruptura e do afastamento terminou e chegou o tempo do reencontro, o tempo de refazer a comunhão e a Aliança.
O profeta utiliza, para expressar esta mensagem de perdão, duas imagens… A primeira é uma imagem ligada ao universo militar: o tempo de serviço que o Povo foi obrigado a cumprir já terminou (a palavra utilizada pelo profeta designa com frequência, na língua hebraica, o tempo de vassalagem forçada, o tempo obrigatório de serviço no exército); a segunda é uma imagem ligada ao universo cultual: o castigo que o Povo sofreu foi aceite pelo Senhor, como se se tratasse de um sacrifício de expiação (esses sacrifícios de expiação que a liturgia de Israel tão bem conhecia e que serviam para refazer a comunhão com Deus, depois do pecado do Povo).
Ainda neste enquadramento de “consolação”, o autor do nosso texto apresenta uma misteriosa voz que convida a preparar “no deserto o caminho do Senhor”, a abrir “na estepe uma estrada para o nosso Deus” (vers. 3-5). O que é que isto significa?
O tema do deserto leva-nos, evidentemente, ao Êxodo… Recorda esse acontecimento fundamental da história e da fé de Israel que foi a libertação do Egito e a viagem da terra da escravidão para a terra da liberdade (viagem que não foi apenas o percorrer um determinado percurso geográfico mas foi sobretudo uma viagem espiritual, durante a qual o Povo fez uma experiência de encontro com Deus, amadureceu a sua fé e passou de uma mentalidade de egoísmo e de escravidão para uma mentalidade de comunhão e de liberdade).
A referência ao caminho pelo deserto sugere claramente que Deus prepara um Novo Êxodo para o seu Povo. O profeta anuncia aos exilados que Deus vai traçar um caminho fácil, direito, glorioso, triunfal, pelo qual os exilados irão passar da terra da escravidão à terra da liberdade, numa espécie de “reedição melhorada” do antigo Êxodo. Trata-se de um “caminho” geográfico, ou de um caminho espiritual? Provavelmente, o profeta não distingue uma coisa da outra… Ele quererá dizer aos exilados que Deus vai tornar fácil esse percurso geográfico que eles devem percorrer, alimentando-os, salvando-os dos perigos, ajudando-os a vencer a fadiga da caminhada; mas, sobretudo, o profeta quererá dizer aos exilados que Deus lhes vai oferecer, outra vez, a possibilidade de uma “caminhada espiritual”, durante a qual eles poderão fazer uma nova experiência do amor e da bondade de Deus e redescobrir os caminhos da comunhão e da aliança. Naturalmente, é preciso que os exilados preparem o espírito para acolher esta nova possibilidade que Deus oferece, aceitem confiar em Deus, aceitem o desafio de retornar à Aliança, aceitem renunciar à escravidão para correr o risco da liberdade.
Na terceira parte, o nosso texto coloca-nos diante de uma nova cena… Um “mensageiro” (em grego: um “evangelista”) eleva a sua voz sobre uma alta montanha e proclama uma “boa notícia” a Jerusalém e às outras cidades de Judá: o Deus poderoso do Êxodo (“vem com poder, o seu braço dominará”) conduz pessoalmente o seu Povo de regresso à Terra Prometida… Ele é o Pastor que reúne o seu rebanho, que o apascenta, que cuida das ovelhas mais frágeis e as conduz “ao seu descanso”, que oferece de novo ao seu Povo a vida e a fecundidade. A referência às ovelhas mais fracas e às ovelhas recém-nascidas (objecto de um especial cuidado de Deus, o Pastor) sublinha o amor, a ternura e a solicitude de Jahwéh pelo seu Povo. Trata-se, sem dúvida, de uma mensagem de “consolação” destinada a acordar nos exilados a fé e a esperança.
Em que consiste essa “consolação”?
Consiste, em primeiro lugar, no anúncio do perdão de Deus (vers. 2). Os exilados estavam convencidos de que a dolorosa experiência do Exílio era o castigo para os pecados cometidos pelo Povo de Judá. Viviam angustiados, afogados em sentimentos de culpa, sentindo-se em transgressão, indignos, pecadores e afastados de Deus. Neste contexto, Deus diz-lhes: o tempo da ruptura e do afastamento terminou e chegou o tempo do reencontro, o tempo de refazer a comunhão e a Aliança.
O profeta utiliza, para expressar esta mensagem de perdão, duas imagens… A primeira é uma imagem ligada ao universo militar: o tempo de serviço que o Povo foi obrigado a cumprir já terminou (a palavra utilizada pelo profeta designa com frequência, na língua hebraica, o tempo de vassalagem forçada, o tempo obrigatório de serviço no exército); a segunda é uma imagem ligada ao universo cultual: o castigo que o Povo sofreu foi aceite pelo Senhor, como se se tratasse de um sacrifício de expiação (esses sacrifícios de expiação que a liturgia de Israel tão bem conhecia e que serviam para refazer a comunhão com Deus, depois do pecado do Povo).
Ainda neste enquadramento de “consolação”, o autor do nosso texto apresenta uma misteriosa voz que convida a preparar “no deserto o caminho do Senhor”, a abrir “na estepe uma estrada para o nosso Deus” (vers. 3-5). O que é que isto significa?
O tema do deserto leva-nos, evidentemente, ao Êxodo… Recorda esse acontecimento fundamental da história e da fé de Israel que foi a libertação do Egito e a viagem da terra da escravidão para a terra da liberdade (viagem que não foi apenas o percorrer um determinado percurso geográfico mas foi sobretudo uma viagem espiritual, durante a qual o Povo fez uma experiência de encontro com Deus, amadureceu a sua fé e passou de uma mentalidade de egoísmo e de escravidão para uma mentalidade de comunhão e de liberdade).
A referência ao caminho pelo deserto sugere claramente que Deus prepara um Novo Êxodo para o seu Povo. O profeta anuncia aos exilados que Deus vai traçar um caminho fácil, direito, glorioso, triunfal, pelo qual os exilados irão passar da terra da escravidão à terra da liberdade, numa espécie de “reedição melhorada” do antigo Êxodo. Trata-se de um “caminho” geográfico, ou de um caminho espiritual? Provavelmente, o profeta não distingue uma coisa da outra… Ele quererá dizer aos exilados que Deus vai tornar fácil esse percurso geográfico que eles devem percorrer, alimentando-os, salvando-os dos perigos, ajudando-os a vencer a fadiga da caminhada; mas, sobretudo, o profeta quererá dizer aos exilados que Deus lhes vai oferecer, outra vez, a possibilidade de uma “caminhada espiritual”, durante a qual eles poderão fazer uma nova experiência do amor e da bondade de Deus e redescobrir os caminhos da comunhão e da aliança. Naturalmente, é preciso que os exilados preparem o espírito para acolher esta nova possibilidade que Deus oferece, aceitem confiar em Deus, aceitem o desafio de retornar à Aliança, aceitem renunciar à escravidão para correr o risco da liberdade.
Na terceira parte, o nosso texto coloca-nos diante de uma nova cena… Um “mensageiro” (em grego: um “evangelista”) eleva a sua voz sobre uma alta montanha e proclama uma “boa notícia” a Jerusalém e às outras cidades de Judá: o Deus poderoso do Êxodo (“vem com poder, o seu braço dominará”) conduz pessoalmente o seu Povo de regresso à Terra Prometida… Ele é o Pastor que reúne o seu rebanho, que o apascenta, que cuida das ovelhas mais frágeis e as conduz “ao seu descanso”, que oferece de novo ao seu Povo a vida e a fecundidade. A referência às ovelhas mais fracas e às ovelhas recém-nascidas (objecto de um especial cuidado de Deus, o Pastor) sublinha o amor, a ternura e a solicitude de Jahwéh pelo seu Povo. Trata-se, sem dúvida, de uma mensagem de “consolação” destinada a acordar nos exilados a fé e a esperança.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar as seguintes linhas:
• A mensagem de “consolação” que a primeira leitura nos apresenta
anuncia a esse povo amargurado, desiludido e frustrado que Deus não o
abandonou nem esqueceu e que vai atuar no sentido de oferecer-lhe de
novo a vida e a liberdade. Esta mensagem representa um extraordinário
“capital de esperança”, oferecido ao Povo de Deus de todas as épocas e
lugares… Hoje, sentimo-nos esmagados e frustrados porque a violência e o
terrorismo marcam com sangue e sofrimento a vida de tantos dos nossos
irmãos, ou porque os pobres e os fracos são esquecidos e colocados à
margem da história, ou porque parece que a sociedade global se constrói
com egoísmo, com indiferença e com exclusão… O profeta garante-nos que
Deus – esse Deus que é eternamente fiel aos compromissos que assumiu
para com os seus filhos – não está alheado da nossa história, que Ele
continua a vir ao nosso encontro e a oferecer-Se para nos conduzir com
amor e solicitude ao encontro da verdadeira vida e da verdadeira
liberdade.
• A mensagem do profeta é particularmente questionadora para esses
exilados que já não pensavam em regressar à sua terra nem se esforçavam
minimamente por escutar os apelos e os desafios de Deus. Instalados e
acomodados, eles haviam perdido a capacidade de arriscar e a vontade de
começar um novo caminho com Deus. A mesma mensagem interpela todos os
homens e mulheres que vivem acomodados nos seus espaços seguros e
protegidos ou resignados a uma vida banal, vazia, cinzenta, insípida, e
convida-os a abrir o coração à novidade de Deus. È preciso correr
riscos, aceitar despojar-se do egoísmo, do comodismo, do materialismo,
da escravidão dos bens, dos preconceitos para percorrer, com Deus, esse
caminho de regresso à vida nova da liberdade.
• Em concreto, o que é que nos impede de percorrer o caminho que Deus
nos propõe e de nascer para uma vida mais livre e mais feliz? Os bens
materiais? A posição social? O comodismo? O medo? O Advento é o tempo
favorável para limparmos os caminhos da nossa vida, de forma a que Deus
possa nascer em nós e, através de nós, libertar o mundo… Quais são os
vales que precisam de ser alteados, os montes que precisam de ser
abatidos, os caminhos que precisam de ser endireitados para que Deus
possa vir ao nosso encontro?
• A figura profética do Deutero-Isaías recorda-nos que é através dos
seus mensageiros que Deus continua a oferecer ao mundo e aos homens a
vida, a esperança, a liberdade, a salvação. Sentimo-nos sinais vivos de
Deus e testemunhas da sua proposta libertadora diante dos nossos irmãos,
ou preferimos esconder-nos atrás de uma vida egoísta, cômoda,
instalada, sem compromissos?
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 84 (85)
Refrão 1: Mostrai-nos o vosso amor e dai-nos a vossa salvação.
Refrão 2: Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia.
Escutemos o que diz o Senhor: Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis.
A sua salvação está perto dos que O temem e a sua glória habitará na nossa terra.
A sua salvação está perto dos que O temem e a sua glória habitará na nossa terra.
Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade, abraçaram-se a paz e a justiça. A fidelidade vai germinar da terra e a justiça descerá do Céu.
O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos.
A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos.
A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos.
LEITURA II – 2 Pedro 3,8-14
Leitura da Segunda Epístola de São Pedro Há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia.
O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns.
Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se.
Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem.
Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo!
Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça.
Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.
O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns.
Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se.
Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem.
Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo!
Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça.
Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.
AMBIENTE
A Segunda Carta de Pedro apresenta todas as características de uma
“carta testamento”, como se o autor, sentindo aproximar-se a morte,
quisesse transmitir uma última e decisiva mensagem a um grupo de pessoas
a quem se sente particularmente ligado (habitualmente, familiares,
amigos ou discípulos).
Em concreto, o autor da Segunda Carta de Pedro dirige o seu “testamento” aos irmãos da sua comunidade cristã e convida-os a conservarem-se fiéis aos ensinamentos recebidos, evitando deixarem-se confundir pelas doutrinas dos alguns falsos mestres. Os crentes devem esforçar-se, segundo este “testamento”, por preparar adequadamente a segunda vinda de Jesus Cristo, sem se deixarem manipular por doutrinas contrárias ao Evangelho e ao ensinamento recebido da tradição apostólica.
O autor apresenta-se a si próprio como Simão Pedro, servidor e apóstolo de Jesus Cristo (cf. 2 Ped 1,1), testemunha da transfiguração (cf. 2 Pe 1,16); no entanto, é praticamente consensual entre os estudiosos da Bíblia que este escrito é bem posterior ao apóstolo Pedro. Tudo indica que o autor desta carta não pertenceu à primeira geração cristã; contudo, é um judeo-cristão com sólida formação helénica e que conhece bem a vida e a catequese do apóstolo Pedro. Alguns autores costumam situar a redacção desta carta por volta do ano 125.
Em concreto, o autor da Segunda Carta de Pedro dirige o seu “testamento” aos irmãos da sua comunidade cristã e convida-os a conservarem-se fiéis aos ensinamentos recebidos, evitando deixarem-se confundir pelas doutrinas dos alguns falsos mestres. Os crentes devem esforçar-se, segundo este “testamento”, por preparar adequadamente a segunda vinda de Jesus Cristo, sem se deixarem manipular por doutrinas contrárias ao Evangelho e ao ensinamento recebido da tradição apostólica.
O autor apresenta-se a si próprio como Simão Pedro, servidor e apóstolo de Jesus Cristo (cf. 2 Ped 1,1), testemunha da transfiguração (cf. 2 Pe 1,16); no entanto, é praticamente consensual entre os estudiosos da Bíblia que este escrito é bem posterior ao apóstolo Pedro. Tudo indica que o autor desta carta não pertenceu à primeira geração cristã; contudo, é um judeo-cristão com sólida formação helénica e que conhece bem a vida e a catequese do apóstolo Pedro. Alguns autores costumam situar a redacção desta carta por volta do ano 125.
MENSAGEM
O texto que hoje nos é proposto apresenta duas partes, embora
estreitamente ligadas uma à outra pelo tema da parusia (a “segunda
vinda” do Senhor Jesus, no final dos tempos). A primeira integra uma
reflexão (cf. 2 Pe 3,1-10) sobre o “dia do Senhor”; a segunda integra
uma exortação (cf. 2 Pe 3,11-16) aos cristãos no sentido de levarem uma
vida santa.
Os cristãos dos primeiros tempos estavam convencidos da iminência da chegada de Jesus para eliminar definitivamente o mal e para instaurar definitivamente o Reino de Deus. No entanto, o tempo passava e a segunda vinda do Senhor não acontecia. Os crentes estavam decepcionados e eram objeto da irrisão dos adversários. É neste contexto que a leitura de hoje nos situa… O autor explica sumariamente aos membros da sua comunidade cristã as razões pelas quais o Senhor ainda não veio… A primeira é que Deus não está dependente do tempo, como nós que vivemos na história (“um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia” – vers. 8); a segunda é que Deus é paciente e pretende prorrogar o tempo da história para dar a todos a oportunidade de acolherem a salvação que Ele oferece (vers. 9). De resto, não é possível definir o momento exato da segunda vinda de Jesus: será algo inesperado e surpreendente, que os crentes devem esperar vigilantes e preparados.
O que é que significa estar vigilante e preparado? O nosso autor responde a esta questão na segunda parte do nosso texto (vers. 11-14). Os crentes devem viver uma vida consentânea com a vocação a que foram chamados – isto é, uma vida irrepreensível, “santa” (isto é, ao serviço de Deus), cheia de “piedade”, “sem pecado nem motivo algum de censura”. Essa conduta apressará, na opinião do autor da carta, a segunda vinda do Senhor e, consequentemente, a concretização da promessa desses “novos céus e nova terra onde habitará a justiça”.
Os cristãos dos primeiros tempos estavam convencidos da iminência da chegada de Jesus para eliminar definitivamente o mal e para instaurar definitivamente o Reino de Deus. No entanto, o tempo passava e a segunda vinda do Senhor não acontecia. Os crentes estavam decepcionados e eram objeto da irrisão dos adversários. É neste contexto que a leitura de hoje nos situa… O autor explica sumariamente aos membros da sua comunidade cristã as razões pelas quais o Senhor ainda não veio… A primeira é que Deus não está dependente do tempo, como nós que vivemos na história (“um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia” – vers. 8); a segunda é que Deus é paciente e pretende prorrogar o tempo da história para dar a todos a oportunidade de acolherem a salvação que Ele oferece (vers. 9). De resto, não é possível definir o momento exato da segunda vinda de Jesus: será algo inesperado e surpreendente, que os crentes devem esperar vigilantes e preparados.
O que é que significa estar vigilante e preparado? O nosso autor responde a esta questão na segunda parte do nosso texto (vers. 11-14). Os crentes devem viver uma vida consentânea com a vocação a que foram chamados – isto é, uma vida irrepreensível, “santa” (isto é, ao serviço de Deus), cheia de “piedade”, “sem pecado nem motivo algum de censura”. Essa conduta apressará, na opinião do autor da carta, a segunda vinda do Senhor e, consequentemente, a concretização da promessa desses “novos céus e nova terra onde habitará a justiça”.
ATUALIZAÇÃO
Considerar, para a reflexão e atualização, os seguintes elementos:
• A certeza da ressurreição garante-nos que Deus tem um projeto de
salvação e de vida para cada homem; e que esse projeto está a
realizar-se continuamente em nós, até à sua concretização plena, quando
nos encontrarmos definitivamente com Deus. A nossa vida presente não é,
pois, um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada
tranquila, confiante em direção a esse desabrochar pleno, a essa vida
total em que se revelará o Homem Novo.
• A questão fundamental que os cristãos devem pôr, a propósito da
segunda vinda do Senhor, não é a questão da data, mas é a questão de
como esperar e preparar esse momento. O autor do nosso texto deixa claro
que o que é preciso é estar vigilante. “Estar vigilante” não significa
ficar a olhar para o céu à espera do Senhor, esquecendo e negligenciando
as questões do mundo e os problemas dos homens; mas significa viver, no
dia a dia, de acordo com os ensinamentos de Jesus, empenhando-se na
transformação do mundo e na construção do Reino.
• A certeza da segunda vinda do Senhor dá aos crentes uma perspectiva
diferente da vida, do seu sentido e da sua finalidade… Para os não
crentes, a vida encerra-se dentro dos limites estreitos deste mundo e,
por isso, só interessam os valores deste mundo; para os crentes, a
verdadeira vida, a vida em plenitude, está para além dos horizontes da
história e, por isso, é preciso viver de acordo com os valores eternos,
os valores de Deus. Assim, na perspectiva dos crentes, não são os
valores efêmeros, os valores deste mundo (o dinheiro, o poder, os êxitos
humanos) que devem constituir a prioridade e que devem dominar a
existência, mas sim os valores de Deus. Quais são os valores que eu
considero prioritários e que condicionam as minhas opções?
• A certeza da segunda vinda do Senhor aponta também no sentido da
esperança. Os cristãos esperam, em serena expectativa, a salvação que já
receberam antecipadamente com a morte de Cristo, mas que irá
consumar-se no “dia do Senhor”. Os crentes são, pois, homens e mulheres
de esperança, abertos ao futuro – um futuro a conquistar, já nesta
terra, com fé e com amor, mas sobretudo um futuro a esperar, como dom de
Deus.
ALELUIA – Lc 3,4.6
Aleluia. Aleluia.
Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas
e toda a criatura verá a salvação de Deus.
e toda a criatura verá a salvação de Deus.
EVANGELHO – Mc 1,1-8
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho.
Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados.
Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho.
Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados.
Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar
para desatar as correias das suas sandálias.
Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
AMBIENTE
O Evangelho segundo Marcos parece ter sido o primeiro dos Evangelhos a
ser redigido, certamente antes do ano 70. A crítica do texto sugere que
se trata de uma obra destinada a uma comunidade maioritariamente
composta por cristãos vindos diretamente do paganismo, provavelmente a
comunidade cristã de Roma.
O final da década de 60 é uma época difícil para os cristãos em geral e para os cristãos da cidade de Roma em particular. Por volta do ano 66, o imperador Nero organizou uma terrível perseguição contra os cristãos da capital do império. Pedro e Paulo foram mortos nesta altura, juntamente com um número considerável de outros cristãos. A fidelidade no seguimento de Jesus comportava o risco contínuo de ver-se desprezado, perseguido e maltratado.
Nesta situação de perseguição e de crise, era necessário afirmar a fé em Jesus Cristo. Como? Marcos percebeu que era preciso entender corretamente a identidade de Jesus. Se a comunidade descobrisse em Jesus o Filho de Deus que veio ao mundo ao encontro dos homens para lhes transmitir a Boa Nova da salvação, era muito mais fácil manter a fidelidade, mesmo num contexto adverso de perseguição e de sofrimento. O Evangelho segundo Marcos vai nascer, pois, com a preocupação de apresentar aos crentes – de forma clara – a verdadeira identidade de Jesus.
O texto que hoje nos é proposto é o prólogo ao Evangelho segundo Marcos. Nesse prólogo, o autor enuncia as coordenadas fundamentais do seu Evangelho. Trata-se, diz o título da obra, de apresentar uma “Boa Notícia” (“evangelho”) aos crentes mergulhados na crise e na perseguição. Qual é essa “Boa Notícia” que deve dar sentido ao sofrimento dos cristãos? É que esse Jesus, à volta do qual se constrói a vida e a fé da Igreja, é o Messias libertador (“o Cristo”) e o Filho de Deus. Nestes dois títulos fica definida, quer a missão específica, quer a identidade de Jesus.
O final da década de 60 é uma época difícil para os cristãos em geral e para os cristãos da cidade de Roma em particular. Por volta do ano 66, o imperador Nero organizou uma terrível perseguição contra os cristãos da capital do império. Pedro e Paulo foram mortos nesta altura, juntamente com um número considerável de outros cristãos. A fidelidade no seguimento de Jesus comportava o risco contínuo de ver-se desprezado, perseguido e maltratado.
Nesta situação de perseguição e de crise, era necessário afirmar a fé em Jesus Cristo. Como? Marcos percebeu que era preciso entender corretamente a identidade de Jesus. Se a comunidade descobrisse em Jesus o Filho de Deus que veio ao mundo ao encontro dos homens para lhes transmitir a Boa Nova da salvação, era muito mais fácil manter a fidelidade, mesmo num contexto adverso de perseguição e de sofrimento. O Evangelho segundo Marcos vai nascer, pois, com a preocupação de apresentar aos crentes – de forma clara – a verdadeira identidade de Jesus.
O texto que hoje nos é proposto é o prólogo ao Evangelho segundo Marcos. Nesse prólogo, o autor enuncia as coordenadas fundamentais do seu Evangelho. Trata-se, diz o título da obra, de apresentar uma “Boa Notícia” (“evangelho”) aos crentes mergulhados na crise e na perseguição. Qual é essa “Boa Notícia” que deve dar sentido ao sofrimento dos cristãos? É que esse Jesus, à volta do qual se constrói a vida e a fé da Igreja, é o Messias libertador (“o Cristo”) e o Filho de Deus. Nestes dois títulos fica definida, quer a missão específica, quer a identidade de Jesus.
MENSAGEM
O corpo central do nosso texto apresenta-nos a missão de João
Baptista (vers. 2-3), a sua pregação (vers. 4), a reação dos ouvintes
(vers. 5), o seu estilo de vida (vers. 6) e o testemunho de João sobre
Jesus (vers. 7-8).
Qual é, pois, a missão de João? De acordo com o nosso texto, é ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, “Filho de Deus” (vers. 2). A propósito da apresentação da missão de João, o autor apresenta uma citação que atribui ao Profeta Isaías mas que é, na realidade, um conjunto de afirmações retiradas do Êxodo (cf. Ex 23,20), de Isaías (cf. Is 40,3) e de Malaquias (cf. Mal 3,1): “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. A acumulação de citações tiradas da Torah e dos Profetas sugere que João é esse mensageiro de Deus do qual falavam as promessas antigas, e que devia vir anunciar e preparar o Povo de Deus para acolher a intervenção definitiva de Jahwéh na história dos homens.
Em que consistia a pregação de João? João “apareceu no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados” (vers. 4). De acordo com a catequese judaica, o Messias só chegaria quando Israel fosse, na verdade, a comunidade santa de Deus… Antes de o Messias chegar, o Povo devia, portanto, realizar um caminho de purificação e de conversão, de forma a tornar-se um Povo santo. O “baptismo de penitência” (literalmente, “batismo de conversão” – ou de “metanoia”) proposto por João deve ser entendido neste contexto e representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.
Este “batismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água. Era, inclusive, um rito usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus. Na perspectiva de João, provavelmente, este “batismo” é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “batismo” passava a viver uma vida nova e aceitava integrar a comunidade do Messias.
A pregação de João é feita “no deserto”. O “deserto” é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão. Foi no deserto que os israelitas libertados do Egito passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens livres, de uma mentalidade de egoísmo a uma mentalidade de partilha, de uma atitude descomprometida a uma Aliança com Jahwéh, da desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou à confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo. A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido.
Como é que os interlocutores de João reagiam às suas propostas? Marcos diz que “acorria a Ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém” para serem batizados, confessando os seus pecados (vers. 5). A afirmação de que “toda a gente” acorria ao apelo de João parece manifestamente exagerada… Ao apresentar esta perspectiva ideal da forma como a mensagem foi acolhida pelo Povo, Marcos está, provavelmente, a sugerir o caráter decisivo e determinante da proposta que João faz: não é “mais um” convite à conversão, mas é o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo.
João “vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre”. O estilo de vida de João – sóbrio, desprendido, austero, simples – é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida e dessa renovação de atitudes, de comportamentos e de mentalidade que João pede aos seus conterrâneos. O estilo de vida de João corrobora a mensagem que ele apresenta.
Além disso, o estilo de vida de João evoca o profeta Elias que, de acordo com 2 Re 1,8, se vestia “de peles” e “trazia um cinto de couro em volta dos rins”. O profeta Elias era, no universo da esperança judaica, o profeta elevado para junto de Deus e destinado a aparecer de novo no meio dos homens para anunciar a chegada iminente da era messiânica (cf. Mal 3,22-24). A identificação física de João com Elias significa que a era messiânica chegou e que João é o mensageiro esperado, cuja mensagem prepara a chegada do Messias libertador.
O que é que João diz sobre esse Messias libertador, do qual ele é o arauto e o mensageiro? João fala da “força” do Messias e define a sua missão como “batizar no Espírito”. Tanto a fortaleza como o dom do Espírito são prerrogativas do Messias, segundo a catequese profética (cf. Is 9,6; 11,2). O Messias terá, portanto, a força de Deus e a sua missão será comunicar esse Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens.
Em resumo: João é o mensageiro, enviado por Deus para preparar os homens para a chegada do Messias. A mensagem transmitida por João – com a palavra e com a própria atitude de vida – é um apelo veemente à mudança de vida e de mentalidade, a fim de que a proposta do Messias libertador encontre lugar no coração dos homens. João deixa claro que a missão do Messias é comunicar o Espírito que transforma o homem.
Qual é, pois, a missão de João? De acordo com o nosso texto, é ser o “mensageiro” que prepara o caminho para o “Messias”, “Filho de Deus” (vers. 2). A propósito da apresentação da missão de João, o autor apresenta uma citação que atribui ao Profeta Isaías mas que é, na realidade, um conjunto de afirmações retiradas do Êxodo (cf. Ex 23,20), de Isaías (cf. Is 40,3) e de Malaquias (cf. Mal 3,1): “Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. A acumulação de citações tiradas da Torah e dos Profetas sugere que João é esse mensageiro de Deus do qual falavam as promessas antigas, e que devia vir anunciar e preparar o Povo de Deus para acolher a intervenção definitiva de Jahwéh na história dos homens.
Em que consistia a pregação de João? João “apareceu no deserto a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados” (vers. 4). De acordo com a catequese judaica, o Messias só chegaria quando Israel fosse, na verdade, a comunidade santa de Deus… Antes de o Messias chegar, o Povo devia, portanto, realizar um caminho de purificação e de conversão, de forma a tornar-se um Povo santo. O “baptismo de penitência” (literalmente, “batismo de conversão” – ou de “metanoia”) proposto por João deve ser entendido neste contexto e representa um convite à mudança radical de vida, de comportamento, de mentalidade.
Este “batismo” proposto por João não era, na verdade, uma novidade insólita. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água. Era, inclusive, um rito usado na integração dos “prosélitos” (os pagãos que aderiam ao judaísmo) na comunidade do Povo de Deus. Na perspectiva de João, provavelmente, este “batismo” é um rito de iniciação à comunidade messiânica: quem aceitava este “batismo” passava a viver uma vida nova e aceitava integrar a comunidade do Messias.
A pregação de João é feita “no deserto”. O “deserto” é, no contexto da catequese judaica, o lugar onde o Povo de Deus realizou uma caminhada de purificação e de conversão. Foi no deserto que os israelitas libertados do Egito passaram de uma mentalidade de escravos a uma mentalidade de homens livres, de uma mentalidade de egoísmo a uma mentalidade de partilha, de uma atitude descomprometida a uma Aliança com Jahwéh, da desconfiança em relação à proposta libertadora que Moisés lhes apresentou à confiança total num Deus que cumpre as suas promessas e que é fonte de vida e de liberdade para o seu Povo. A pregação de João lembrava aos israelitas a necessidade de voltar ao “deserto” e de percorrer um caminho semelhante àquele que os antepassados tinham percorrido.
Como é que os interlocutores de João reagiam às suas propostas? Marcos diz que “acorria a Ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém” para serem batizados, confessando os seus pecados (vers. 5). A afirmação de que “toda a gente” acorria ao apelo de João parece manifestamente exagerada… Ao apresentar esta perspectiva ideal da forma como a mensagem foi acolhida pelo Povo, Marcos está, provavelmente, a sugerir o caráter decisivo e determinante da proposta que João faz: não é “mais um” convite à conversão, mas é o último e definitivo apelo de Deus ao seu Povo.
João “vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre”. O estilo de vida de João – sóbrio, desprendido, austero, simples – é um convite claro à renúncia aos valores do mundo. É a aplicação prática dessa austeridade de vida e dessa renovação de atitudes, de comportamentos e de mentalidade que João pede aos seus conterrâneos. O estilo de vida de João corrobora a mensagem que ele apresenta.
Além disso, o estilo de vida de João evoca o profeta Elias que, de acordo com 2 Re 1,8, se vestia “de peles” e “trazia um cinto de couro em volta dos rins”. O profeta Elias era, no universo da esperança judaica, o profeta elevado para junto de Deus e destinado a aparecer de novo no meio dos homens para anunciar a chegada iminente da era messiânica (cf. Mal 3,22-24). A identificação física de João com Elias significa que a era messiânica chegou e que João é o mensageiro esperado, cuja mensagem prepara a chegada do Messias libertador.
O que é que João diz sobre esse Messias libertador, do qual ele é o arauto e o mensageiro? João fala da “força” do Messias e define a sua missão como “batizar no Espírito”. Tanto a fortaleza como o dom do Espírito são prerrogativas do Messias, segundo a catequese profética (cf. Is 9,6; 11,2). O Messias terá, portanto, a força de Deus e a sua missão será comunicar esse Espírito de Deus, que transforma, renova e recria os corações dos homens.
Em resumo: João é o mensageiro, enviado por Deus para preparar os homens para a chegada do Messias. A mensagem transmitida por João – com a palavra e com a própria atitude de vida – é um apelo veemente à mudança de vida e de mentalidade, a fim de que a proposta do Messias libertador encontre lugar no coração dos homens. João deixa claro que a missão do Messias é comunicar o Espírito que transforma o homem.
ATUALIZAÇÃO
Na reflexão, considerar os seguintes desenvolvimentos:
• Antes de mais, temos de considerar a mensagem principal do nosso
texto… João, o Batista, afirma claramente que preparar a vinda do
Messias passa pela “metanoia” – isto é, por uma transformação total do
homem, por uma nova atitude de base, por uma outra escala de valores,
por uma radical mudança de pensamento, por uma postura vital
inteiramente nova, por um movimento radical que leve o homem a
reequacionar a sua vida e a colocar Deus no centro da sua existência e
dos seus interesses. Neste tempo de Advento, de preparação para a
celebração do Natal do Senhor, trata-se de uma proposta com sentido:
preparar a vinda de Jesus exige de nós uma transformação radical da
nossa vida, dos nossos valores, da nossa mentalidade… Em concreto, o que
é que nos meus pensamentos, nos meus comportamentos, na minha
mentalidade, nos valores que dirigem a minha vida, é egoísmo, orgulho e
auto-suficiência e impede o nascimento de Jesus no meu coração e na
minha vida?
• Deus convida o homem à transformação e à mudança através desses
profetas a quem Ele chama e a quem confia a missão de questionar o mundo
e os homens. Estamos suficientemente atentos aos profetas que
questionam o nosso estilo de vida e os nossos valores? Damos crédito às
suas interpelações, ou consideramo-los figuras incomodativas,
ultrapassadas e dispensáveis? E nós, constituídos profetas desde o nosso
batismo, sentimo-nos enviados por Deus a interpelar e a questionar o
mundo e os nossos irmãos?
• O “estilo de vida” de João constitui uma interpelação pelo menos
tão forte como as suas palavras. É o testemunho vivo de um homem que
está consciente das prioridades e não dá importância aos aspectos
secundários da vida – como sejam a roupa “de marca” ou a alimentação
cuidada. A nossa vida também está marcada por valores, nos quais
apostamos e à volta dos quais construímos toda a nossa existência… Quais
são os valores fundamentais para mim, os valores que marcam as minhas
decisões e opções? São valores importantes, decisivos, eternos, capazes
de me dar vida e felicidade, ou são valores efêmeros, particulares,
egoístas e geradores de dependência e escravidão? Como nos situamos
frente a valores e a um estilo de vida que contradiz, claramente, os
valores do Evangelho?
• Ao acentuar o carácter decisivo e determinante do apelo de João,
Marcos convida-nos a uma resposta objetiva, franca, clara e decidida.
Não podem existir meias tintas ou tentativas de protelar a decisão…
Estamos ou não dispostos a dizer “sim” aos apelos de Deus? Estamos ou
não dispostos a aceitar a sua proposta de “metanoia”? Não chega dizer
“talvez” ou “sim, mas…”. Deus espera uma resposta total, radical,
decidida, inequívoca à oferta de salvação que Ele faz. Isso significa
uma renúncia decidida ao nosso comodismo, à nossa preguiça, ao nosso
egoísmo, à nossa auto-suficiência e um embarcar decidido na aventura do
Reino que Jesus, há mais de dois mil anos, veio propor aos homens…
Nenhum comentário:
Postar um comentário