O "sexo livre", ao contrário do que a expressão sugere, não faz nada senão aprisionar o ser humano.
O homem não foi feito para o sexo livre. Muito antes de o movimento de
contracultura fazer sucesso nos anos 1960 – com a invenção da pílula
anticoncepcional, a legalização do divórcio e a aceitação do chamado
"amor livre" –, Santo Tomás de Aquino, ainda no século XIII, demonstrou,
de modo bem simples, porque toda a conversa dos
hippies e revolucionários não passava de uma grande e verdadeira bobagem:
"A simples fornicação importa uma desordem, que redunda em dano da vida do que nascerá dessa união sexual. Vemos, pois, que todos os animais que precisam dos cuidados do macho e da fêmea para criarem os filhos, não praticam o sexo livre, mas o de um macho com uma determinada fêmea, uma ou várias, como se vê em todas as aves. Ao contrário, os animais em que as fêmeas por si só são capazes de criar os filhos, praticam o sexo livre, como se vê nos cães e em outros animais. Ora, é manifesto que, para a criação dos filhos na espécie humana, não bastam apenas os cuidados da mãe, que os amamenta, mas muito mais os cuidados do pai, que deve educá-los, defendê-los e dotá-los de bens tanto internos como externos. Por isso, é contra a natureza do ser humano praticar o sexo livre, sendo necessária a união de um homem a uma determinada mulher, com a qual ele permaneça não por pouco tempo, mas diuturnamente e mesmo por toda a vida. E daí vem para a natureza humana a solicitude natural do homem pela certeza de sua prole, porque cabe a ele educá-la. Ora, essa certeza desapareceria com o sexo livre." [1]
Se você acaba de ler estas linhas e está revoltado com o que encontrou,
feche os olhos e respire. Se não é católico, deixe de lado por um
momento os termos religiosos empregados por Santo Tomás – ou
simplesmente Tomás, se preferir – e tente raciocinar um pouco.
Embora o trecho acima tenha sido retirado de sua
Suma de Teologia e use expressões consagradas pela religião
católica, o argumento tomista não tem nada de religioso. É puramente
racional. Não é preciso ser católico para admitir que "a fornicação
simples redunda em dano da vida do que nascerá dessa união sexual". A
multidão de filhos abandonados por homens irresponsáveis (e criados tão
somente por suas mães), além de outra incontável multidão de bebês
mortos ainda no ventre materno, testemunham que, de fato, a vida deve
acontecer dentro da comunidade familiar, da aliança firmada por um homem
e uma mulher, "não por pouco tempo, mas diuturnamente e mesmo por toda a
vida". Além da questão espiritual, é com vista ao bem dos filhos que o
sexo fora do casamento é condenado pela Igreja – e era, até há algumas
décadas, evitado pela sociedade.
Diante de tudo isso, alguém pode objetar que o argumento de Tomás já é
obsoleto, pois já foram inventadas a pílula, a camisinha e toda sorte de
métodos anticoncepcionais. "Se o problema são os filhos – diz-se –, não
é preciso mais evitar a fornicação. Compre camisinhas e seja feliz".
Not so fast. Esse lema de propagandas de Carnaval, longe de
ser uma solução para os dramas afetivos e sexuais das pessoas, só torna
ainda mais fundo o abismo em que elas se acham.
É o que lembrou o Papa São João Paulo II – ou simplesmente João Paulo,
se preferir –, quando falou, em suas catequeses, sobre a "linguagem do
corpo". Ao se relacionarem sexualmente, homem e mulher entregam-se
totalmente um ao outro. Os seus corpos "falam" que eles se tornaram "uma
só carne" (
Gn 2, 24). Ora, como é possível que, logo depois que se doa
deste modo, o casal se levante de seu leito, cada um pegue as suas
coisas e volte para sua própria casa – como se aquele ato sexual não
fosse ou não significasse nada? Não é evidente a farsa de um
relacionamento – ou vários – que deseja o sexo, mas rejeita um
compromisso sério? Que quer prazer, mas não se compromete com o outro?
Para os promotores e simpatizantes da Revolução Sexual, no entanto,
tudo isso a que o homem assiste estupefato e boquiaberto – desde a
destruição da família até ao desprezo da própria vida humana – foi
perfeitamente querido e planejado. Não foi o próprio Herbert Marcuse
quem pediu a "erotização da personalidade total",
a fim de desintegrar "as instituições em que foram organizadas
as relações privadas interpessoais, particularmente a família monogâmica
e patriarcal"? Não foi justamente o autor da Escola de
Frankfurt quem incentivou sair "da sexualidade a serviço da reprodução
para a sexualidade na função de 'obter prazer através de zonas do
corpo'" [2]? Eis que hoje os seus augúrios estão em pleno funcionamento –
e a todo vapor!
Mas, o que a modernidade ganhou depois de todos esses "avanços"? Não
muita coisa. Filhos sem pais. Pais sem esposas. Esposas que não são
mães. E, como se não bastasse, mães que matam os próprios filhos. Este é
o "admirável mundo novo" construído pelos arautos da Revolução Sexual –
e, acredite se quiser, é apenas o início, o começo de um despenhadeiro,
sem fundo, cujo nome é "inferno".
É claro que ainda há remédio para a humanidade. Se Marcuse, em 1955,
sugeria que, para tornar o homem livre, "o 'pecado original' deveria ser
cometido de novo" [3], a Igreja recorda ao ser humano a sua vocação à
eternidade e à união com Deus, a única que pode verdadeiramente
libertá-lo. Que ninguém se engane:
o sexo dito "livre" não faz outra coisa senão aprisionar o homem.
É na entrega fiel e amorosa no Matrimônio – e da própria vida, a Deus –
que se encontra a verdadeira libertação. "Conhecereis a verdade, e a
verdade vos tornará livres" (Jo 8, 32), diz Nosso Senhor.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Suma Teológica, II-II, q. 154, a. 2
- Herbert Marcuse. Eros e Civilização. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. p. 176
- Ibidem, p. 174
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