AS LIÇÕES DA SAGRADA FAMÍLIA
A família atual só poderá se reencontrar e salvar a sociedade se souber olhar para a Sagrada Família e copiar o seu modo de vida
O Papa João Paulo II, na Carta às Famílias, chamou a família de
“Santuário da vida” (CF, 11). Santuário quer dizer “lugar sagrado”. É
ali que a vida humana surge como que de uma nascente sagrada, e é
cultivada e formada. É missão sagrada da família: guardar, revelar e
comunicar ao mundo o amor e a vida.
O Concílio Vaticano II já a
tinha chamado de “a Igreja doméstica” (LG, 11) na qual Deus reside, é
reconhecido, amado, adorado e servido; nele também foi ensinado que: “A
salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à
condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47).
Jesus habita com a família cristã.
A presença do Senhor nas Bodas de Caná da Galileia significa que o
Senhor “quer estar no meio da família”, ajudando-a a vencer todos os
seus desafios; e Nossa Senhora ali o acompanha com a sua materna
intercessão.
Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher
“à sua imagem e semelhança” (Gen 1,26), Ele os quis “em família”. Por
isso, a família é uma realidade sagrada. Jesus começou sua missão
redentora da humanidade na Família de Nazaré. A primeira realidade
humana que Ele quis resgatar foi a família; Ele não teve um pai natural
aqui, mas quis ter um pai adotivo, quis ter uma família, e viveu nela
trinta anos. Isso é muito significativo. Com a presença d’Ele na família
– Ele sagrou todas as famílias.
Conta-nos São Lucas que após o
encontro do Senhor no Templo, eles voltaram para Nazaré “e Ele lhes era
submisso” (cf. Lc 2,51). A primeira lição que Jesus nos deixou na
família é a de que os filhos devem obedecer aos pais, cumprindo bem o
Quarto Mandamento da Lei. Assim se expressou o Papa João Paulo II:
“O Filho unigênito, consubstancial ao Pai, ‘Deus de Deus, Luz da Luz’,
entrou na história dos homens através da família” (CF, 2).
Ao
falar da família no plano de Deus, o Catecismo da Igreja Católica (CIC)
diz que ela é “vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da
obra criadora do Pai” (CIC, 2205). E na sua mensagem de Paz, do primeiro
dia do Ano Novo (2008) o Papa Bento XVI deixou claro que sem a família
não pode haver paz no mundo. E o Papa fez questão de ressaltar que
família é somente aquela que surge da união de um homem com uma mulher,
unidos para sempre, e não uma união homossexual que dá origem a uma
falsa família.
“A família é a comunidade na
qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, em que se
pode começar a honrar a Deus e a usar corretamente da liberdade. A vida
em família é iniciação para a vida em sociedade” (CIC, 2207).
A Família de Nazaré
sempre foi e sempre será o modelo para todas as famílias cristãs. Acima
de tudo, vemos uma família que vive por Deus e para Deus; o seu projeto
é fazer a vontade de Deus. A Sagrada Família é a escola das virtudes por meio da qual toda pessoa deve aprender e viver desde o lar.
Maria é a mulher docemente submissa a Deus e a José, inteiramente a
serviço do Reino de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim
segundo a sua palavra” (Lc 1,38). A vontade dela é a vontade de Deus; o
plano dela é o plano de Deus. Viveu toda a sua vida dedicada ao Menino
Deus, depois ao Filho, Redentor dos homens, e, por fim, ao serviço da
Igreja, a qual o Redentor instituiu para levar a salvação a todos os
homens.
José era o pai e esposo fiel e trabalhador, homem
“justo” (Mt 1, 19), homem santo, pronto a ouvir a voz de Deus e
cumpri-la sem demora. Foi o defensor do Menino e da Mãe, os tesouros
maiores de Deus na Terra. Com o trabalho humilde de carpinteiro deu
sustento à Família de Deus, deixando-nos a lição fundamental da
importância do trabalho, qualquer que seja este.
Em vez de escolher um pai letrado e erudito para Jesus, Deus escolheu um
pai pobre, humilde, santo e trabalhador braçal. José foi o homem puro,
que soube respeitar o voto perpétuo de virgindade de sua esposa, segundo
os desígnios misteriosos de Deus.
A Família de Nazaré
é para nós, hoje, mais do que nunca, modelo de unidade, amor e
fidelidade. Mais do que nunca a família hoje está sendo destruída em sua
identidade e em seus valores. Surge já uma “nova família” que nada tem a
ver com a família de Deus e com a Família de Nazaré.
As
mazelas de nossa sociedade –, especialmente as que se referem aos nossos
jovens: crimes, roubos, assaltos, sequestros, bebedeiras, drogas,
homossexualismo, lesbianismo, enfim, os graves problemas morais e
sociais que enfrentamos, – têm a sua razão mais profunda na desagregação
familiar a que hoje assistimos, face à gravíssima decadência moral da
sociedade.
Como será possível, num contexto de imoralidade,
insegurança, ausência de pai ou mãe, garantir aos filhos as bases de uma
personalidade firme e equilibrada e uma vida digna, com esperança?
Como será possível construir uma sociedade forte e sólida onde há
milhares de “órfãos de pais vivos”? Fruto da permissividade moral e do
relativismo religioso de nosso tempo, é enorme a porcentagem dos casais
que se separam, destruindo as famílias e gerando toda sorte de
sofrimento para os filhos. Muitos crescem sem o calor amoroso do pai e
da mãe, carregando consigo essa carência afetiva para sempre.
A Família de Nazaré ensina ainda hoje que a família desses
nossos tempos pós-modernos só poderá se reencontrar e salvar a
sociedade se souber olhar para a Sagrada Família e copiar o seu modo de
vida: serviçal, religioso, moral, trabalhador, simples, humilde,
amoroso… Sem isso, não haverá verdadeira família e sociedade feliz.
Prof. Felipe Aquino
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