Com
sua vida, São José ensina a todos os cristãos a verdadeira devoção a
Nossa Senhora: amá-la sem temor e sem reservas, por causa de Deus.
Ao executar o Seu plano de salvação, Deus também dispõe os meios pelos
quais irá realizá-lo. Sendo Todo-Poderoso, Ele poderia redimir o homem
de muitos modos. Fê-lo, no entanto, querendo depender do “sim” de uma
Virgem, pedindo a colaboração de uma criatura.
Uma história apócrifa conta que, entre os pretendentes de Nossa
Senhora, foram escolhidos alguns, das melhores e mais virtuosas famílias
de Israel. Todos eles levavam consigo um bastão de madeira. Na hora da
decisão, o bastão de São José floresceu de modo prodigioso, surgindo
lírios em sua ponta, sinal da castidade que ele tinha jurado preservar.
Imediatamente, então, uniram-se o seu coração e o da Virgem Santíssima,
que também havia consagrado totalmente a sua virgindade a Deus. A
história, se não é verdadeira, é bem contada. Como diriam os italianos,
si non è vero è bene trovato.
O fato é que as Escrituras se referem a São José como um homem “justo”
que, descobrindo a gravidez de Maria e “não querendo denunciá-la
publicamente, pensou em despedi-la secretamente” (Mt 1, 19). Alguém
poderia perguntar como José podia ao mesmo tempo ser justo e ter querido
dispensá-la em segredo, se a Lei mandava que o caso fosse julgado às
claras. Os primeiros Padres da Igreja, como Orígenes, São Jerônimo, São
Basílio Magno e Santo Efrém, são da opinião de que José não duvidava da
honestidade de Maria, mas “queria deixá-la porque sabia que se tinha
operado nela um grande mistério e se considerava indigno de viver em sua
companhia” [1]. Foi então que o anjo apareceu a ele, comunicando-lhe a
eleição que o próprio Senhor tinha feito de si: “José, Filho de Davi,
não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado
vem do Espírito Santo” (Mt 1, 20).
São José e Maria Santíssima eram realmente esposos e se amavam com
verdadeira caridade. Infelizmente, tomados por uma visão distorcida de
amor, olhamos para o casamento como uma realidade apenas carnal, quando o
matrimônio é uma aliança eminente e essencialmente espiritual,
transformada por Nosso Senhor em sacramento, sinal do Seu amor pela
Igreja (cf. Ef 5, 21-33).
Santo Tomás de Aquino recorda que o amor pode ter vários objetos
materiais: Deus, nós mesmos e o próximo [2]. No entanto, um só deve ser o
objeto formal do amor: Deus mesmo. Isso significa amar todas as pessoas
por causa de Deus. Dentro do matrimônio, quer dizer aproximar-se do
outro como quem se aproxima do Santíssimo Sacramento. José, o esposo de
Nossa Senhora, amava-a com amor de caridade e os teólogos chegam a dizer
que o trono no qual estava sentado Lúcifer, antes da queda dos anjos,
agora é ocupado pelo exemplar São José.
Há uma história famosa relacionada aos monges do Egito que ilustra como
os homens de Deus, ao olhar para as criaturas, glorificam o Criador.
Enquanto caminhavam na estrada, alguns monges se depararam com uma
prostituta, diante da qual, para não pecar, todos viraram o rosto. Um
dos monges, no entanto, olhando fixamente para aquela mulher, começou a
chorar, pois tinha enxergado nela a grandeza de Deus. Se isso aconteceu
com um simples religioso que avistou uma prostituta, quanto mais não
aconteceria com São José e com a tota pulchra (toda bela)
Virgem Maria, cuja alma resplandece diante do Senhor mais do que todas
as criaturas! Não sem razão esse santo homem, contemplando a suma
dignidade de Maria, temia tomá-la por esposa, pois enxergava as
maravilhas que o Todo-Poderoso havia feito nela (cf. Lc 1, 49).
Muitos de nós tememos consagrar-nos inteiramente a Nossa Senhora
porque, olhando os nossos pecados, nos achamos indignos de ser seus
escravos. Também a nós o anjo do Senhor diz: “Não tenhas receio de
receber Maria por sua senhora”. Que, de fato, a recebamos e, assim como
São José, a amemos, por causa de Deus. Amemo-la por gratidão a Nosso
Senhor, que verdadeiramente a entregou a nós como mãe, quando disse ao
discípulo amado: “Eis aí a tua mãe” (Jo 19, 27). Assim como São José não
teve medo de dedicar toda a sua vida para servir a Deus por meio de
Nossa Senhora, não temamos recebê-la por Mãe e consagrar-nos a Cristo
por suas mãos.
Referências
- Orígenes apud Santo Tomás de Aquino, Catena Aurea in Matthaeum, 1, 10
- Suma Teológica, II-II, q. 25, a. 12
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