O Evangelista João trata da mulher que deu à luz
uma criança, mas foi perseguida pelo dragão. A vitória dela se deu com a ajuda
divina (Cf. Apocalipse 12,1-16). O autor mostra, com linguagem metafórica, a
perseguição da Igreja que apresentava Cristo à comunidade. Mas a batalha é
vencida com a ajuda do Divino Mestre. A liturgia da Igreja faz a comparação com
Maria, que nos trouxe o Salvador. Com Ele vencemos qualquer batalha, pois, é o
Deus-conosco!
Maria é figura exponencial no plano divino de nossa
salvação. Sem ela Deus teria que inventar outro meio extraordinário para vir
até nos. Se Ele a escolheu, é porque viu ser o instrumento mais importante para
nos salvar. A salvação objetiva, isto é, a ponte de ligação do humano com o
divino, qual nova aliança, se fez com a vinda do Filho por Maria, em bem da
humanidade de todos os tempos. Mas a salvação subjetiva, isto é, aplicada a
cada um, depende dos corações abertos à aceitação da graça. Por isso, o próprio
Jesus fala da abertura do coração para essa aceitação, como a do coração de
criança: “Deixai vir a mim as crianças; não as impeçais! Porque dos que são
como elas é o reino de Deus…. Quem não receber o reino de Deus como uma
criança, não entrará nele”(Marcos 10, 14-15).
Nessa dimensão da criança somos todos convidados a
entrar no coração de Deus, tendo atitude de simplicidade, verdade, sinceridade,
pureza de intenção, confiança em Deus, aceitação da ternura do Senhor para
conosco, comportamento coerente com a fé, obediência e abertura à ação do
Espírito Santo em nossa vida e abertura para amar o semelhante como nosso
irmão. Maria é mãe do Emanuel. É nossa mãe. Somos as crianças que acolhemos seu
afago e seu amor. Com ela somos capazes de amar seu Filho para nos parecermos
com Ele e realizarmos o que Ele realizou e nos propõe a também fazê-lo!
Quando nos tornamos crianças do Reino de Deus,
superamos nossos problemas existenciais, com capacidade para os encaminharmos a
solução adequada. Afinal, qual criança nos braços da mãe, temos segurança e nos
sentimos protegidos. Ela não nos abandona, como não abandonou Jesus e foi com
Ele por toda a sua missão e o viu glorificado e vencedor. Nas bodas de Caná ela
provou sua ascendência materna para que seu Filho realizasse a transformação da
água em vinha em bem da festa de casamento (Cf. João 2,1-11). Seu papel de
intercessora tem feito grande parcela da população, através dos tempos,
invocá-la e tem obtido êxito em suas preces. Haja vista a realidade do povo em
romaria ao seu santuário nacional de Aparecida e tantos outros lugares de
manifestação de fervor religioso do povo espalhado pelo mundo!
As crianças na realizada existencial e cronológica
nos fazem comprometer-nos com seu presente e seu futuro, para as ajudarmos a
serem eternas também na idade das atitudes que Jesus louva. Assim, todos serão,
de fato, infantes no amor a Deus e na vontade de sempre realizarmos seu projeto
de amor.
Como crianças, no sentido falado por Jesus no
Evangelho, queremos também suplicar a Deus por tantas crianças que padecem
inúmeros maus tratos, agressões, explorações e vida indigna para quem é
filho amado de Deus. Poderemos superar isso com o coração de criança voltado ao
que Deus nos pede. Ele sempre nos valoriza e deixa que façamos nossa parte pelo
bem presente e futuro de nossas crianças, com a promoção de atitudes de
pessoas, grupos e de políticas públicas que protejam nossos meninos e meninas
de todo o mal e possam ter uma vida de qualidade e serem amados de verdade!
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo de
Montes Claros (MG)
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