A devoção do Coração de Jesus está alicerçada na Bíblia e na
patrística e tem por objetivo primeiro retribuir ao amor de Deus
manifestado em seu Filho dileto. São João chamou a atenção para o
coração de Cristo na significativa passagem da cena ocorrida depois da
morte do Salvador: “Quando chegaram a Jesus, tendo visto que já estava
morto, não lhe quebraram as pernas; mas um dos soldados abriu-lhe o lado
com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água”(Jo 19,34).
Os santos Padres teceram os mais belos comentários sobre este fato,
as almas místicas meditaram esta frase de São João e nela depararam
inefáveis consolos. A parede de carne que ocultava o coração amantíssimo
do Redentor foi rasgada patenteando aos homens o manancial das
misericórdias divinas, o mistério dos grandes amores de Cristo. Nos
primórdios do cristianismo, notável a devoção às cinco chagas. Na Idade
Média, além do mencionado São Boaventura, Santo Alberto Magno, Santa
Gerturdes, Santa Catarina de Sena, São Francisco de Sales, São João
Eudes foram os principais teólogos a abordarem as delicadezas do coração
do Verbo Incarnado, destacando-se Santa Margarida de Alacoque.
Abstraindo-se da questão das revelações que recebeu, dignas de
créditos, suas declarações e escritos apresentam doutrina segura, bem
adequada e alicerçada nos ensinamentos da Bíblia. O culto litúrgico
consagrou a devoção ao Coração de Jesus, aliás recomendado por grandes
papas, como Leão XIII na Encíclica Tametsi; Pio XI na Miserentissimus
Redemptor; Pio XII na Haurietis Aquas, Paulo VI na Carta Apostólica
Investigabiles Divitias Christi. É que se trata de uma adoração à Pessoa
divina de Jesus, que no Evangelho se manifesta de uma maneira tão terna
para com os sofredores e os pecadores. O Evangelista registrou com
carinho aquela sua frase: “tenho compaixão deste povo”(Mt 15,32).
As curas que Ele operou foram movidas por imensa bondade, como a que
fez sarando o paralítico de Betsaida. Ante a dor da viúva de Naim que
acompanhava o féretro do filho querido, ele o ressuscita para alegria da
genitora a quem o entrega num gesto de sublime generosidade. Coração
sensível e delicado, Ele perdoa os prevaricadores como ocorreu com a
mulher adultera. Suas parábolas refletem estes sentimentos. Quanta
doçura e complacência no trecho sobre o filho pródigo e a ovelha
perdida! Ele é o bom samaritano, o Pastor desvelado. Procurou
afetuosamente a Zaqueu, canonizou o bom Ladrão, reabilitou Pedro,
redimiu a Madalena. É tudo isto que palpita na devoção ao Coração de
Jesus, coração que forma um único objeto com seu ser divino, símbolo e
centro natural de todas as virtudes, mormente de seu amor para com o Pai
e as criaturas.
Como ensina São Paulo, em Cristo “temos a liberdade e o acesso com a
confiança pela fé que nele professamos”. Para isto, segundo o mesmo
Apóstolo é preciso que Cristo habite pela fé em nossos corações,
arraigados e fundados no amor, para que possamos compreender com todos
os Santos qual seja a largura e o comprimento, a altura e a profundidade
(deste Mistério de Cristo) e conhecer também aquele Amor de Cristo que
excede a toda a ciência (Ef. 3,14-19).
Fonte: Catolicanet
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