Leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas.
Irmãos, 6admiro-me
de terdes abandonado tão depressa aquele que vos chamou, na graça de
Cristo, e de terdes passado para um outro evangelho. 7Não que haja outro evangelho, mas algumas pessoas vos estão perturbando e querendo mudar o evangelho de Cristo. 8Pois bem, mesmo que nós ou um anjo vindo do céu vos pregasse um evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja excomungado. 9Como já dissemos e agora repito: Se alguém vos pregar um evangelho diferente daquele que recebestes, seja excomungado. 10Será
que estou buscando a aprovação dos homens ou a aprovação de Deus? Ou
estou procurando agradar aos homens? Se eu ainda estivesse preocupado em
agradar aos homens, não seria servo de Cristo. 11Irmãos, asseguro-vos que o evangelho pregado por mim não é conforme critérios humanos. 12Com efeito, não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo.
Responsório (Sl 110)
— O Senhor se lembra sempre da Aliança.
— O Senhor se lembra sempre da Aliança.
— Eu agradeço a Deus de todo o
coração junto com todos os seus justos reunidos! Que grandiosas são as
obras do Senhor, elas merecem todo o amor e admiração!
— Suas obras são verdade e são
justiça, seus preceitos, todos eles são estáveis, confirmados para
sempre e pelos séculos, realizados na verdade e na retidão.
— Enviou libertação para o seu
povo, confirmou sua Aliança para sempre. Seu nome é santo e é digno de
respeito. Permaneça eternamente o seu louvor.
Evangelho (Lc 10,25-37)
Naquele tempo, 25um
mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade,
perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida
eterna?” 26Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” 27Ele
então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e
com toda tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e
a teu próximo como a ti mesmo!” 28Jesus lhe disse: “Tu respondeste certamente. Faze isso e viverás”. 29Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” 30Jesus
respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos
de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se
embora deixando-o quase morto. 31Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. 32O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. 33Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. 34Aproximou-se
dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois
colocou o homem no seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde
cuidou dele. 35No
dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da
pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o
que tiveres gasto a mais”. E Jesus perguntou: 36“Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” 37Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.
Reflexão
Este Evangelho começa com duas perguntas de um
mestre da Lei a Jesus, pra pô-lo em dificuldade. São pontos sobre os quais não
havia acordo nas escolas rabínicas. Jesus, na sua sabedoria, faz com que o
próprio mestre da Lei responda as duas.
A primeira é: “Que devo fazer para receber em
herança a vida eterna?” O próprio mestre da Lei responde: “Amarás o Senhor teu
Deus...”
Entretanto, o mestre da Lei não se dá por vencido e
faz outra pergunta: “E quem é o meu próximo?” Também sobre esta questão eles se
dividiam. Para uns, eram os amigos. Para outros, eram os parentes. Para outros,
eram os da mesma nação ou raça...
O mestre da Lei quer saber quais são os limites do
amor. Jesus fala que não tem limites. São todos e todas que encontrarmos pelos
caminhos da vida, como o samaritano, que cuidou de um judeu, povo rival.
Todo homem e toda mulher que encontrarmos pela
vida, e estão em situação de necessidade, são nossos próximos.
Dos três viajantes que, no caminho, se encontraram
com o ferido, os dois primeiros são membros ativos e líderes da religião: o
sacerdote, e o levita que tinha uma função parecida com os nossos líderes
cristãos. Com isso, Jesus deixa claro que o que vale para entrar no céu não são
títulos ou cargos importantes na Igreja, mas a prática da caridade.
Já o amor do samaritano foi bonito: espontâneo,
desinteressado, generoso, terno, serviçal, eficaz e gratuito.
Após terminar a parábola, Jesus devolve a segunda
pergunta ao seu interlocutor, mas a inverte. Ele não focaliza o destinatário
(quem é o meu próximo?), e sim o seu sujeito: “Qual dos três foi o próximo do
homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” E o mestre da Lei respondeu
corretamente, usando inclusive uma expressão bíblica: “Foi aquele que usou de
misericórdia para com ele”.
A conclusão de Jesus – “Vai e faze a mesma coisa” –
é dirigida a todos nós. O amor verdadeiro sempre coloca como centro o outro,
não eu. A pergunta correta que devemos nos fazer hoje é: “Quem espera ajuda de
mim?” Vemos que o amor não tem limites, pois ele parte das necessidades do
outro.
O sacerdote e o levita viram o ferido, mas seguiram
adiante pelo outro lado do caminho. Eles se colocaram propositalmente à
distância do necessitado. Corresponde um pouco aos nossos condomínios fechados,
muros altos, vidros fumê nos carros... são estratégias atuais de seguir em
frente pelo outro lado. Já quem ama faz o contrário: quer estar no meio dos
necessitados.
Como vemos, a parábola é atual, e toca no núcleo da
nossa vida cristã, que é o amor ao próximo. É o que Jesus, como Juiz, vai
cobrar de nós no Juízo final: “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o
Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo!... Pois eu estava
doente, e cuidastes de mim”
(Mt 25,34ss).
Ser o próximo do outro é não apenas estar perto,
mas estar perto de coração, aproximar-se afetiva e efetivamente dele. Quem tem
o coração duro, fica distante de quem está próximo em situação de necessidade.
Isso pode acontecer dentro das famílias e até das comunidades religiosas.
O capitalismo interessa-se pelo próximo, mas apenas
por uma parte dele: o seu bolso. Até no caso de doença, ou de acidente como foi
este da parábola, o capitalista vê como oportunidade de ganhar dinheiro.
“Este mandamento que hoje te dou não é difícil
demais, nem está fora do teu alcance... Está em teu coração, para que o possas
cumprir” (Dt 30,10-14). De fato esta lei do amor ao próximo já está escrita em
nosso coração desde que nascemos. Se alguém não a cumprir, não terá desculpas.
Uma maneira frutuosa de meditar sobre esta parábola
é tentar descobrir com qual dos personagens que aparecem nela nós mais nos
parecemos. Claro que o nosso desejo é nos parecer com o samaritano, e até com
Jesus. Mas a resposta verdadeira nós a damos com a nossa vida concreta do dia a
dia. Será que nos parecemos com o dono da pensão: fazemos o bem quando somos
remunerados? Ou somos como o sacerdote e o levita: vivemos tão preocupados com
os nossos afazeres que “nem vemos” quem está em necessidade ao nosso lado? Ou,
pior ainda, somos assaltantes disfarçados do nosso próximo? A sociedade atual
que construímos mostra claro que os “bons samaritanos” não passam de uns 5%.
Claro que cada um de nós se julga entre esses 5%. No entanto, o resultado está
aí.
Certa vez, numa grande região, faltou chuva e a
colheita foi pobre. Entretanto, uma grande fazenda, que tinha irrigação
artificial, teve uma colheita abundante. O administrador encheu os celeiros,
depois disse para o dono da fazenda: “A colheita ruim aumentou o preço dos
cereais. Agora é o tempo propício para vender e ganhar muito dinheiro”. O
fazendeiro respondeu: “Eu penso nos pobres lavradores que não colheram nada e
estão com as suas despensas vazias. Agora é tempo propício para dar”.
O amor é assim, freqüentemente ele inverte o
pensamento cego dos capitalistas, baseado na sede de lucro.
Existem pessoas que disfarçam o seu egoísmo, como
aquele que disse: “Os homens são maus. Só pensam em si. Só eu penso em mim!”
Quem falou isso não percebe que a primeira pessoa má do mundo é ele mesmo!
É próprio das mães perceber as necessidades dos
filhos e colocar-se ao lado deles. Vamos pedir à nossa querida Mãe Maria
Santíssima que nos ajude a ser bons samaritanos, socorrendo o nosso próximo em
suas necessidades, e assim “recebendo como herança a vida eterna” Mãe do amor,
rogai por nós.
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