Quero, com este simples artigo, mostrar a beleza do Sacramento da Reconciliação como um encontro com a misericórdia de Deus.
Todos
nós conhecemos a passagem do filho pródigo (1)* , mas deveríamos chamar
essa parábola de “O Pai Misericordioso”. Corremos o risco de, ao rezar
com essa Palavra, identificarmo-nos com um dos filhos. Muitos se
identificam com o filho mais novo que, ao receber sua parte da herança,
partiu para viver a vida do seu jeito, perdendo-se nos prazeres do
mundo. “(…) E gastou tudo. Sobreveio àquela região uma grande fome e ele
começou a passar privações. Foi, então, empregar-se com um dos homens
daquela região, que o mandou para seus campos cuidar dos porcos. Ele
queria matar a fome com as bolotas que os porcos comiam, mas ninguém
lhas dava”.
Quero, porém, me deter neste encontro: “Ele estava ainda ao longe,
quando seu pai viu-o, encheu-se de compaixão, correu e lançou-se-lhe ao
pescoço, cobrindo-o de beijos”; e ainda acrescenta: “Ide depressa,
trazei a melhor túnica e revesti-o com ela, ponde-lhe um anel no dedo e
sandálias nos pés. Trazei o novilho cevado e matai-o; comamos e
festejemos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava
perdido e foi reencontrado!”.
Devemos fixar o nosso olhar nesse Pai, que mesmo quando O
abandonamos, Ele deixa tudo para ir ao nosso encontro. Deus nos amou
primeiro! Já dizia São Cura d´Ars: “Não é o pecador que vem a Deus para
lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o
faz retornar”.
Jesus veio para tirar o pecado do mundo, como muito bem definiu João
Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).
Sabemos que o pecado é o que separou e separa o homem de Deus. Por
Cristo e pela Igreja, o Pai vai vencer o pecado e a sua pior
consequência – a morte – e vai reunir novamente os seus filhos que o
pecado dispersou.
Estamos vivendo um tempo especial na Igreja. O Papa Francisco define
este tempo como um kairós de misericórdia; e ele mesmo tem sido um
instrumento dessa bondade, manifestando a face misericordiosa de Deus.
Devemos anunciar, sempre, que o Senhor não nos trata como exigem as
nossas faltas (cf. Sl 103,10), eis um eco da misericórdia de Deus para
os nossos ouvidos!
O perdão é um tema que encontramos em todo o Evangelho. “Deus é um
Deus que perdoa, porque ama as suas criaturas”(2)*. No começo do seu
pontificado, Francisco já dizia: “Deus não se cansa de perdoar, nós é
que cansamos de pedir perdão”.
“Aqueles que se aproximam do Sacramento da Penitência obtêm da
misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e, ao mesmo tempo,
são reconciliados com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a
qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão”
(3)*.
Devemos buscar o sacramento da reconciliação, pois Jesus nos chama à
conversão: “O tempo chegou ao seu termo, o Reino de Deus está próximo:
convertei-vos e acreditai na boa-nova” (Mc 1, 15); e a conversão traz
consigo, ao mesmo tempo, o perdão de Deus e a reconciliação com a
Igreja.
Lembro-me da minha primeira confissão, após a minha forte experiência
com Deus – em 2002: eu estava há quase quatro anos distante de Deus e
da Igreja. Cheguei pouco antes do horário da Missa, e disse ao padre que
queria confessar.
Comecei a contar tudo o que eu tinha feito, desde o dia que tinha
deixado Deus de lado. Eu confessava todos os pecados, mas com uma paz
muito grande, uma alegria inexplicável, pois sabia que Deus já tinha me
perdoado. Naquele momento, eu queria receber o perdão de Deus através do
sacramento para celebrar esse encontro com a misericórdia de Deus.
“Ao celebrar o sacramento da Penitência, o sacerdote exerce o
ministério do bom Pastor que procura a ovelha perdida: do bom Samaritano
que cura as feridas; do Pai que espera pelo filho pródigo e o acolhe no
seu regresso; do justo juiz que não faz acepção de pessoas e cujo juízo
é, ao mesmo tempo, justo e misericordioso. Em resumo, o sacerdote é
sinal e instrumento do amor misericordioso de Deus para com o pecador”
(4)*.
Não devemos ter medo nem vergonha de buscar o sacerdote. Ouvi uma vez
que a vergonha que o demônio tira quando optamos pelo pecado, ele
coloca quando nos arrependemos e queremos confessar.
Quantas vezes for preciso, busque o sacramento! Deus tira o bem do
mal, e de grandes males tira grandes bens; tudo lhe serve para
manifestar a sua bondade e a sua misericórdia. Ele te ama e te perdoa
sempre!
Que a Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, ajude-lhe a ser humilde tal
qual ela própria e reconhecer que Deus é Santo e Poderoso; e sua
misericórdia perdura de geração em geração! (Lc 1, 46-55).
Bom Encontro com a Misericórdia de Deus!
Adler Trindade Americano da Costa
Seminarista e missionário da Comunidade de Vida Shalom
*1 - Lc 15,11-32
*2 – BENTO XVI, Papa. Jesus de Nazaré: primeira parte: do batismo no Jordão à Transfiguração / Joseph Ratzinger; São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p.144
*3 – II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 11
*4- Catecismo da Igreja Católica, § 1465.
*2 – BENTO XVI, Papa. Jesus de Nazaré: primeira parte: do batismo no Jordão à Transfiguração / Joseph Ratzinger; São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007, p.144
*3 – II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 11
*4- Catecismo da Igreja Católica, § 1465.
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