Ver
o próprio parceiro e suas ações negativas com realismo e misericórdia
evita identificar a pessoa com seus erros e nos ajuda a ser melhores.
As ofensas vindas pessoas a quem amamos costumam doer
mais porque, além do dano recebido, existe o sentimento de ter sido de
alguma maneira traídos em nossa confiança, nossos sentimentos ou nossas
expectativas. A primeira coisa que precisamos entender é que
toda pessoa erra, pois está sempre em processo de aprendizagem e
desenvolvimento. E seu cônjuge não é exceção. Além disso, muitas das limitações dos adultos para expressar o amor provêm das feridas emocionais que eles sofreram em sua infância. Por isso, o mais provável é que, por trás dos erros do seu cônjuge, haja uma criança ferida que ainda precisa crescer.
O que é perdoar?
Muitas pessoas temem que, perdoando, estejam dando ao outro o poder de
continuar ofendendo-as, ou que estejam se humilhando. No entanto, é
importante saber entender em que realmente consiste o perdão.
Perdoar
não é aceitar o inaceitável nem justificar males como maus tratos,
abusos, falta de solidariedade ou infidelidade. Tampouco é agir como se
nada tivesse acontecido. Isso seria forçar-nos a ignorar a realidade e a
acumular ressentimentos. Igualmente, perdoar não é tentar esquecer o que me fizeram, pois sempre é bom aprender a partir do que vivemos.
Perdoar
é sobretudo libertar-se dos sentimentos negativos e destrutivos, tais
como o rancor, a raiva, a indignação que um mal padecido despertou em
nós, e optar por entender que está nas minhas mãos aumentar o grau de
sofrimento do dano recebido ou colocar o problema onde ele está: na
limitação que meu cônjuge teve de amar melhor em uma determinada circunstância. Em síntese, perdoar
é, ao contrário da raiva e do rancor, ver as pessoas e circunstâncias
que nos causaram dor e problemas de uma maneira diferente. É poder olhar
para o meu cônjuge e suas ações negativas com o
realismo e a misericórdia próprias de um Deus que, sem desconhecer
nossas faltas, não nos identifica com o pecado e nos dá a oportunidade
de ser melhores.
Por que perdoar?
Porque, enquanto com o ódio e o rancor, ficamos atados ao mal que nos
fizeram e estancamos a relação matrimonial, concentrando-nos somente no erro e na dor que uma determinada ação nos causou, o perdão nos dá a oportunidade de ver a falta como um erro real, mas sem o peso emocional que nos prejudica.
Então, além de recuperar a paz, recobramos a lucidez para avaliar o
dano em sua dimensão real e tomar as medidas necessárias frente ao
relacionamento.
No fundo, sou eu o responsável por produzir a
raiva em mim ou por me apegar a ela. A raiva é uma forma de satisfazer
meu ego ferido.
Não posso me esquecer de que meu cônjuge é muito maior que o seu erro.
Sem querer justificar suas faltas, é claro que, por trás da sua ação,
há uma criança ferida pelos condicionamentos do seu passado, pedindo-nos
ajuda, amor, respeito. Também é evidente que, se o meu cônjuge um dia me entregou sua vida em casamento, é porque me ama e que, portanto, o mais provável é que se erro não tenha sido premeditado, mas resultado das suas limitações como ser humano em processo.
Amar o outro supõe aceitar que ele é limitado e renunciar às minhas
expectativas de mudança da sua realidade; também exige de mim boa
vontade para fazer o melhor possível.
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