sábado, 22 de dezembro de 2012

PAPA: LIVRAI-NOS DO MAL

 
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No artigo anterior está mencionada uma Audiência Pública concedida pelo então Papa Paulo VI, alertando contra o demônio. Ele percebeu - o verdadeiro Papa Paulo VI = que o Concilio havia rejeitado a figura do inimigo, e com este documento tentou alertar o mundo para este grande mal. Infelzimente, ainda hoje se presta atenção alguma a estes documentos, que são ignorados por aqueles que deveriam nos prevenir contra o mal.

PAULO VI - AUDIÊNCIA

Quarta-feira, 15 de novembro de 1972

"Livrai-nos do mal"

Quais são as maiores necessidades da Igreja?

Não se surpreenda como simplista ou mesmo supersticiosa e irreal a nossa resposta: uma das maiores necessidades é a defesa contra o mal que chamamos de Demônio.

Antes de esclarecer o nosso pensamento, o convidamos a abrir a sua fé à luz da visão da vida humana, uma visão que deste observatório vaga gigantemente no espaço e penetra em profundeza rara. E, na verdade, o quadro a que somos convidados contemplar, com realismo total, é muito claro. É o quadro da criação, a obra de Deus, que o próprio Deus, como um espelho externo de sua sabedoria e poder, apreciará nele a sua substancial beleza (conf. Gên 1,10 etc.).

Então é muito interessante o quadro da dramática história da humanidade, da qual emerge aquela história da redenção, aquela de Cristo, da nossa salvação, com os seus maravilhosos tesouros de revelação, de profecia, de santidade, de vida elevada a nível sobrenatural, de promessas eternas (cf. Ef. 1, 10). Ao sabê-lo contemplar este quadro é impossível não ficar encantado (Ver S. agosto solilóquios.): Tudo faz sentido, tudo tem um fim, tudo tem uma ordem, e tudo permite entrever uma Presença-Transcendência, um Pensamento, uma Vida e, finalmente, um Amor, do tamanho do universo, por tudo o que é e por tudo o que não é, e se apresenta a nós como uma preparação entusiasmante e inebriante para algo ainda mais bonito e ainda mais perfeito (cf. 1 Cor. 2, 9, 13, 12, Rm 8, 19-23). A visão cristã do cosmos e da vida é, portanto, triunfalmente otimista: e esta visão justifica a nossa alegria e a nossa gratidão, pela qual, celebrando a glória de Deus, cantamos a nossa felicidade (ver o Glória da Missa).


ENSINAMENTO BÍBLICO

Mas esta visão é completa? É correta? Nada nos significam as deficiências que existem no mundo? As anormalidades das coisas a respeito da nossa existência? A dor? A morte? A maldade? A crueldade? O pecado? Em uma palavra, o mal? E não vemos quanto mal há no mundo? Especialmente, quanto mal moral, isto acontece simultaneamente, embora de outra forma, contra o homem e contra Deus? Não é isto talvez um triste espetáculo, um mistério inexplicável? E não somos nós, nós próprios os cultivadores da Palavra, os cantores do Bem, nós os crentes, os mais sensíveis, os mais conturbados pela análise e pela experiência do mal? Nós o encontramos no reino da natureza, onde muitas de suas manifestações nos parecem denunciar um transtorno. Então nós o encontramos no âmbito humano, onde encontramos a fraqueza, a fragilidade, a dor, a morte, e algo pior, uma dupla lei contrastante, uma que quer o bem, e outra, ao invés, voltada para o mal, tormento que São Paulo coloca em humilhante evidência para demonstrar a necessidade e a riqueza de uma graça salvadora, da salvação que é trazida por Cristo (cf. Rm 7); no passado, o poeta pagão tinha denunciado este semelhante conflito no coração do homem: vídeo meliora proboque, deteriora sequor. (vejo as coisa melhores e as aprovo, mas sigo as piores), (Ovídio, Met. 7, 19). Nós encontramos o pecado, perversão da liberdade humana, e causa profunda da morte, porque é separação de Deus, fonte da vida (Rm 5, 12), e depois, por sua vez, ocasião e efeito de uma intervenção em nós e no nosso mundo de um agente obscuro e inimigo, o demônio. O mal não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e pervertedor. Terrível realidade. Misteriosa e assustadora.

Fora do âmbito do ensino bíblico e da Igreja que se recusa reconhecê-lo existente; isto é, quem faz disto um princípio em si permanente, não o tendo apenas, como toda criatura, de procedência de Deus; ou o explica como uma pseudo-realidade, uma personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças. O problema do mal, visto na sua complexidade e no seu absurdo respeito à nossa racionalidade unilateral, torna-se obsessivo. Ele constitui a mais forte dificuldade para a nossa compreensão religiosa do cosmos. Não é por nada que sofri por anos, diz S. Agostinho: Quaerebam unde malum, et non erat exitus, (eu investigava de onde provinha o mal, e não encontrava uma explicação), (S. Ago. Confess. VII, 5, 7, 11, etc., PL, 32, 736, 739).

E aqui está agora a importância que assume a advertência do mal para a nossa exata concepção cristã do mundo, da vida, da salvação. Primeiro no desenvolvimento de história do Evangelho, no início da sua vida pública: quem não se lembra da página densíssima de significados sobre a tríplice tentação de Cristo? Em seguida, em tantos episódios do Evangelho, nos quais o demônio cruza as passagens do Senhor e aparece em seus ensinamentos? (Ex. Mt. 12, 43) E como podemos esquecer que Cristo, por três vezes, referindo-se ao demônio, como o seu adversário, o qualifica como "o príncipe deste mundo"? (João 12, 31, 14, 30, 16, 11) E a incumbência desta nefasta presença é marcada em muitas passagens do Novo Testamento. S. Paulo o chama de " o deus deste mundo" (2 Coríntios. 4, 4), e adverte-nos sobre a luta nas trevas, que nós cristãos devemos suportar não só com um demônio, mas com uma multiplicidade aterrorizante: " Revesti-vos, diz o Apóstolo, da armadura de Deus para resistir às ciladas do diabo, pois a nossa luta não é (apenas) com a carne e com o sangue, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas, contra os maus espíritos do ar "(Ef 6, 11-12).

E não é só de um demônio, mas de muitos, diversas passagens do Evangelho no-lo indicam (Lucas 11, 21; Marc 5, 9), mas um é o principal: Satanás, que quer dizer: o adversário, o inimigo; e com ele muitos, todos criaturas de Deus, mas decaídas, porque são rebeldes e malditos (Ver Denz.-SCH. 800-428), todos de um mundo misterioso, subvertido por uma tragédia infelicíssima, da qual sabemos muito pouco.

 
O INIMIGO OCULTO QUE SEMEIA ERROS

Conhecemos, no entanto, muita coisa sobre este mundo diabólico, que afetam a nossa vida e toda a história humana. O demônio é a origem da primeira desgraça da humanidade; ele foi o tentador sutil e fatal do primeiro pecado, o pecado original (Gn 3;. Sab 1, 24). Desde aquela queda de Adão, o demônio adquiriu um certo poder sobre o homem, do qual só a redenção de Cristo pode libertar-nos. É a história que ainda perdura: lembremo-nos dos exorcismos do batismo e as frequentes referências da Sagrada Escritura e da Liturgia sobre o agressivo e opressivo "poder das trevas" (cf. Luc 22, 53, Col. 1, 13.). É o inimigo número um, é o tentador por excelência. Assim, sabemos que este ser obscuro e perturbador existe realmente, e com produtiva astúcia ainda age; é o inimigo oculto que semeia erros e desgraças na história humana, para lembrar a reveladora parábola evangélica do trigo e do joio, síntese e explicação do ilogismo que parece presidir nossos eventos conflitantes: Inimicus homo hoc fecit (o homem inimigo é que fez isso), (Mt 13, 28). Ele é o homicida "desde o início... e pai da mentira", como o definiu Cristo (cf. Jo. 8, 44-45), ele é o traidor adulador do equilíbrio moral do homem. Ele é o pérfido e astuto enganador, que sabe insinuar-se a nós, pela via dos sentidos, da fantasia, da concupiscência, da lógica utópica, ou dos contatos sociais desordenados no jogo do nosso agir, para introduzir-nos desvios, tanto quanto nocivos quanto à aparência semelhante às nossas estruturas físicas ou psíquicas, ou aos nossos instintos, profundas aspirações.

Saibam isto sobre o demônio e sobre a influência que ele pode exercer sobre as pessoas sozinhas, como sobre a comunidade, sobre a coletividade inteira, ou sobre acontecimentos, capítulo este muito importante da doutrina católica a ser estudado, que hoje é pouco estudado. Alguns pensam em encontrar, nos estudos psicanalíticos e psiquiátricos, ou em experiências espíritas, hoje infelizmente tão difundidas em alguns países, uma compensação suficiente. Há um medo de cair de volta em velhas teorias maniqueístas, ou em assustadoras divagações supersticiosas e fantásticas. Hoje se prefere mostrar-se forte e sem escrúpulos, fingir-se como positivistas, apenas para dar crédito a tantas gratuitas supertições encantadoras ou populares, ou pior, abrir a própria alma – a mesma alma batizada, visitada tantas vezes pela presença eucarística e habitada pelo Espírito Santo! – para as experiências licenciosas dos sentidos, para aqueles delírios causados pelos narcóticos, como também para as seduções ideológicas dos erros na moda, fendas estas por onde o maligno pode facilmente penetrar e alterar a mente humana. Diz-se que todo pecado é devido diretamente à ação diabólica (ver TH S. 1, 104, 3.), mas também é verdade que quem não vigia com um certo rigor moral sobre si mesmo, (cf. Mt 12, 45.; Ef. 6, 11) se expõe sob a influência do iniquitatis mysterium, (mistério da iniquidade) ao qual se refere S.. Paulo (2 Ts. 2, 3-12), e que produz problemática alternativa de salvação.

A nossa doutrina torna-se incerta, obscura, assim como são as espessas trevas que circundam o Demônio. Mas a nossa curiosidade, excitada pela certeza da sua multiforme existência, torna-se legítima com duas perguntas. Aí estão os sinais, e quais são eles sobre a presença da ação diabólica? E quais são os meios de defesa contra tão insidioso perigo?

PRESENÇA DA AÇÃO DO MALIGNO

A resposta para a primeira pergunta exige muita cautela, mesmo que os sinais do maligno, por vezes, parecem ser evidentes (ver TERTULL. Apol. 23). Podemos supor a sua ação esquerda, lá onde a negação de Deus se faz radical, sutil e absurda, onde a mentira se confirma hipócrita e poderosa, contra a evidente verdade, onde o amor é extinto por um egoísmo frio e cruel, onde o nome de Cristo é contestado com ódio consciente e rebelde (cf. 1. 16, 22, 12, 3), onde o espírito do Evangelho é mistificado e negado, onde o desespero se afirma como a última palavra, etc. Mas o diagnóstico é demasiado amplo e difícil, que nós não ousamos agora aprofundar e autenticar, mas não desprovido de interesse comovente para todos, ao qual também a literatura moderna dedicou célebres páginas (ver, por exemplo. Obras de Bernanos, estudadas por CH . MOELLER, Litter. XXe du siècle, I, p. 397 e ss., P. Macchi, A face do mal em Bernanos, cf. então Satanás, Etudes Carmélitaines, Desclée de Br 1948). O problema do mal é um dos maiores e permanentes problemas para o espírito humano, mesmo depois da vitoriosa resposta que Jesus Cristo nos dá. "Nós sabemos, escreve o evangelista S. João, que somos (nascido) de Deus, e que o mundo todo está sob o poder do maligno "(1 Jo. 5, 19).

A DEFESA DO CRISTÃO

Outra pergunta: qual defesa, qual remédio para se opor à ação do demônio? A resposta é mais fácil de formular, embora seja difícil de ser implementada. Poderemos dizer: tudo o que nos defende do pecado, se protege por si mesmo do invisível inimigo. A graça é a defesa definitiva. A inocência assume um aspecto de fortaleza. E então todo mundo se lembra do quanto a pedagogia apostólica simbolizou na armadura de um soldado as virtudes que podem tornar o cristão invulnerável. (cf. Rm 13, 1 2, Ef 6, 11, 14, 17, 1 Tes 5, 8). O cristão deve ser militante, deve ser vigilante e forte (1 Ped. 5, 8), e, às vezes, deve recorrer a algum exercício ascético especial para afastar certos ataques diabólicos; Jesus o ensina indicando o remédio "na oração e jejum" (Marcos 9, 29). E o Apóstolo sugere a linha principal para administrá-lo, "Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem" (Rm 12, 21;. Matth 13, 29).

Com o conhecimento, portanto, das presentes adversidades, em que todas as almas, a Igreja e o mundo se encontram, vamos dar sentido e eficácia à invocação habitual da nossa principal oração: "Pai Nosso. . . livrai-nos do mal. "

Cordialmente também a nossa Bênção Apostólica.

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