A pregação de João Batista visava uma condigna preparação para
receber a salvação de Deus, trazida e operada na História por Cristo (Lc 3,
1-6). O Precursor falava de um arrependimento para a remissão dos pecados. Isto
conduz, antes de tudo, ao reconhecimento das próprias faltas diante do Deus três
vezes santo. Os judeus do tempo de São João Batista tinham um coração endurecido
nos seus erros, nas suas desordens e se acreditavam justos. Aí estava a razão de
seus enganos e o impedimento para abraçarem a fé em Jesus, o Messias prometido.
São Paulo faria referência a isto na Carta aos Romanos: “Tendo ignorado a
justiça de Deus e procurando estabelecer sua própria justiça, não se submetiam à
justiça de Deus” (Rm 10,3). Donde o alerta de João Batista, clamando por uma
penitência, por uma total conversão do coração: “Fazei, pois, frutos
convenientes ao arrependimento” (Mt 3,8). Esta penitência consiste num
aborrecimento total de todos os pecados, numa purificação completa da
consciência. Trata-se de se ter uma sincera disposição de seguir em tudo os
mandamentos divinos, recebendo de todo coração a graça do Salvador Jesus. Quer
o Profeta Isaías, quer João Batista mostraram o que significava a vinda do
Redentor e como se preparar para O receber. Desceram a detalhes: “Todo vale seja
preenchido e todo monte e toda colina abaixados; as vias tortuosas se tornem
direitas e as escabrosas se tornem planas”. Assim, alegoricamente está traçado o
roteiro até o Presépio.
O vale da desesperança deve ser enchido com a certeza da
salvação que vem de Deus, pois os rigores e as dificuldades da vida devem ceder
lugar à doçura da total confiança na bondade divina. Para isto, porém, cumpre
uma radical humildade, lançando por terra a montanha do orgulho, da vaidade, da
auto-suficiência e, ainda, endireitando todos os pensamentos, desejos e planos e
aplainando todas as veredas por meio das virtudes. É todo o ser humano que tem
que ser renovado, modificado, metamorfoseado. A conclusão é luminosa: “Toda
carne verá a salvação de Deus”, ou seja, deste modo ficam afastadas as
brutalidades dos maus costumes, resta adocicada a dureza dos corações e passam a
reinar a doçura e a simplicidade dos filhos de Deus. João Batista podia pregar
tudo isto porque ele vivia uma vida inteiramente desapegada dos prazeres
mundanos, todo dedicado à sua sublime missão. Para ela ele se preparou no
deserto tendo por vestimenta uma pele de camelo, ensinando o desprezo pelas
vaidades humanas. Suportou os rigores do inverno e os ardores do verão e se
acomodou a uma parca alimentação, deixando um apelo para que se aceitem sempre
as provações que a Providência divina envia, longe de todo luxo desmedido e de
gastos supérfluos. O Natal exige, desta maneira uma revisão de vida na alheta do
Precursor. Este vivia no deserto como se estivesse no céu.
O cristão que se
prepara para comemorar o nascimento de Jesus, estando em estado de graça,
precisa entrar no deserto de seu coração para escutar aí as mensagens do divino
Infante. Por força da comercialização natalina estas grandes verdades que São
João Batista recorda ficam submersas, inclusive nos festins e excessos das
chamadas ceias de Natal, no esquecimento dos pobres e necessitados e na
preocupação com o que é secundário na comemoração de um natalício daquele que
veio trazer a salvação de Deus. É necessário imitar São João Batista e escutar
seus ensinamentos, levando uma vida sóbria e na temperança, moderando apetites e
paixões desordenadas, longe de qualquer dissolução, perversão, devassidão,
libertinagem. A autêntica austeridade deve ser o galardão do discípulo de Cristo
que precisa testemunhar por toda parte quão gloriosa foi Sua vinda a esta terra.
A comemoração do Natal deve afastar todos os pensamentos negativos, lançando o
cristão longe da obscuridade de uma noite profunda. Jesus, o sol da justiça,
brilhará então dia 25 de dezembro, porque houve uma preparação condigna para
comemorar fato tão significativo. Advento exige assim a abstenção do mal, a
prática ainda mais fiel do bem, o cuidado com a língua que pode ferir a honra
alheia e proferir palavras enganosas. Renúncia à cólera, à vaidade, à presunção
que são obstáculos àquela paz que flui do Presépio. Apenas, desta maneira, se
conhecerá a salvação de Deus que Cristo está sempre a oferecer, sobretudo no dia
de seu Natal que se aproxima.
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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
A SALVAÇÃO DE DEUS.
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