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Qual é a grande pergunta
que habita no centro do nosso coração? É a questão que nos deixa inquietos e
nos faz pensativos: “Fecisti cor nostrum ad te et inquietum est cor nostrum
donec requiescat in te” – “fizeste o nosso coração para ti e ele está inquieto
enquanto não descansar em ti”. É agostinho que assim fala, abrindo as suas
Confissões.
A pergunta verdadeira
que todos trazemos no fundo do nosso coração é na realidade a questão pela
infinita dor do mundo, a questão da dor da morte. É a questão do porquê da dor
e do porquê da morte que nos deixa profundamente pensativos. Se não fosse pela
morte, nem sequer existiria o pensamento, tudo seria uma simples eternidade,
pelo menos para a nossa limitada capacidade de pensar: viver é também aprender
a morrer, a conviver com o desafio silencioso, resistente, perseverante da
morte.
É inútil procurar
evasões, como tantas vezes fazemos ou fáceis consolações como aquela epicuréia
que diz: “quando chegar a morte, eu não estarei, e, enquanto eu estiver, ela
não estará”. Essas palavras na realidade são só um jogo, uma aparência, porque
a morte não é só o último destino ou o último ato, mas é uma iminência que
domina, comprometendo cada dia da nossa vida na fragilidade, na limitação, na
caducidade, nas perguntas que nascem imprevistas no coração como feridas
lancinantes: que será de mim? Que sentido tem minha vida? Aonde vou com toda a
bagagem das minhas pernas, das consolações, das alegrias? E, quando terei
finalmente conquistado aquilo que desejo, que poderei ainda desejar mais senão
a última vitória, a vitória sobre a morte? É, pois, a morte que nos faz
pensantes: esse é o paradoxo da condição humana.
Chegados, pois, à
consideração do horizonte para o qual nos dirigimos, é precisamente deste que
nos nasce, como reação, uma necessidade de lutar para vencer o aparente triunfo
da morte. Aqui nasce o pensamento. É precisamente essa análise, essa fugaz
análise da existência humana, que tentei fazer, que nos demonstra sermos, ao
mesmo tempo, lançados para a morte, como diz o filósofo Heidegger, e no entanto
feitos para a vida. Se não fosse esse contraste, aceitaríamos o destino da
morte como fato óbvio, previsto, sem sofrer, sem procurar dar um sentido à
vida, sem evadir a morte.
Precisamente o fato de a
morte nos tornar pensativos e de que sintamos a necessidade de dar significado
à obras e aos dias é o sinal de que, no profundo do coração, nós, os peregrinos
para a morte, somos na realidade os chamados à vida. Há em nós uma saudade
indestrutível do rosto de alguém que acolha a nossa dor e as nossas lágrimas,
que redima a infinita dor da morte.
Quando estamos a sós ou
desesperados, quando ninguém parece já gostar de nós e nós próprios temos
razões para nos desprezarmos ou para nos queixarmos, eis que, do profundo do
coração, se define uma inquietação, uma nostalgia, a nostalgia de um Outro que
nos possa acolher, fazer-nos sentir amados, para além de tudo, apesar de tudo,
vencendo o último inimigo que é a morte. É essa nostalgia que vai definindo em
nós a imagem do Pai, ou se quiser, da mãe, porque pai e mãe são, nesse sentido,
nada mais que duas metáforas para dizer a mesma necessidade que está inscrita
no nosso coração: a necessidade de alguém a quem se confiar sem reservas, uma
âncora, um cais onde fazer repousar a nossa insegurança, o nosso cansaço, a
nossa dor, seguros de não sermos rejeitados no abismo do nosso nada.
Enquanto tal, a figura do pai é, ao mesmo tempo, a figura da mãe no amor,
é o ventre, a pátria, a origem à qual remeter tudo aquilo que nós somos. Enfim,
se, no fundo do coração, todos somos habitados pela angústia do desafio supremo
da morte, se isso nos faz pensativos, se a vida se torna uma luta para vencer a
morte, então a imagem do pai é uma imagem da qual todos temos necessidade
infinita.
Por:
Mons. Bruno Forte, Teólogo
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