Como prescreve a clássica tradição dos homens a chegada do segundo domingo de maio traz consigo a figura da mãe, e com essa data vem logo à mente o conhecido ditado popular: “Mãe é uma só”.
Comemorar o dia das mães na atualidade é para o comércio uma oportunidade a mais para aumentar suas vendas e ganhos materiais, e favorecido pelas hábeis e eficazes ferramentas publicitárias repete o mesmo sucesso econômico do Natal, da Páscoa, do Dia dos Namorados, do Dia dos Pais, do Dia das Crianças, etc...
Ninguém mais duvida que o mundo consumista moderno é capaz de instrumentalizar as pessoas, fazendo-as peças de uma grande máquina de produtividade, até mesmo quando algumas dessas pessoas têm essa singularidade especial: mãe, uma só mãe, única mãe, querida e amada como uma pessoa inesquecível na vida dos filhos.
Contudo não é só o mundo consumista que instrumentaliza o ser humano, mas sobretudo o mundo da cultura promovida por grupos e organizações internacionais que consideram a maternidade uma situação de injustiça social para a mulher.
‘Mulher-mãe é uma só-fredora’ – o trocadilho não é forçado, mas indispensável dentro do tema –, pois ela limita-se na sua feminilidade, no seu caráter, no seu modo de ser, de pensar ou de viver como mulher emancipada, livre, realizada social e profissionalmente, se ela se decidir pela maternidade responsável e querer ter os filhos segundo um projeto de Deus para a sua família, sem deixar de viver os seus projetos pessoais.
Tantas mulheres conseguem conjugar uma intensa vida profissional, social e cultural, com a sua profunda vida de esposa, mãe e administradora do lar sem se sentirem limitadas.
O consumismo e essa visão reducionista da mulher são dois fenômenos estreitamente unidos entre si, uma vez que o objetivo comum de ambos é a exaltação do puramente material, seja um vestido, um colar, uma profissão, um celular, seja o corpo feminino ou a potencialidade biológica.
A tendência do radical e capilar feminismo que se está injetando nas mentes das mulheres nas últimas décadas é particularmente perigoso para elas próprias e para a sociedade atual e futura.
É o perigo da permanência de um mundo ainda machista, mais degradante do que o anteriormente criado por aqueles homens que, com uma visão míope, só enxergavam a mulher como corpo-objeto e como uma peça indispensável do bom funcionamento da “máquina-casa”.
Há, portanto, uma sombra de machismo presente na cultura do feminismo radical, que se formou a partir de uma projeção exagerada da importância da igualdade dos sexos e que acabou sendo uma enorme e pesada carga sobre as mulheres, que elas acabam levando sozinhas, sem comprometer os homens.
Este fenômeno da hiper-valorização das mulheres não só fora do lar, mas também fora das suas realidades e qualidades próprias, como são: ser esposa, ser mãe, ser administradora, ter uma presença doce e terna, ver com raciocínio direto e pormenorizado, favorecer a união e a concórdia, viver a fortaleza do amor com a suavidade do gênio feminino, etc., conduziu muitas delas para uma situação social sombria.
As mulheres estão sendo deixadas sozinhas pelos homens, estão sendo abandonadas como objetos descartáveis, e não são necessárias estatísticas sobre o divórcio, sobre famílias monoparentais, sobre idosas abandonadas pela família e que vivem só com acompanhantes, comprovando assim a tese do machismo criado pelo juízo de valor distorcido dado pelo feminismo exagerado à mulher de hoje.
Os homens estão cada vez mais descomprometendo-se com a sua responsabilidade familiar e social diante da mulher, e o que é pior muitos homens ainda não conseguem admirar a beleza do feminino e continuam enxergando só a perfeição estética feminina e a presença utilitária da mulher ao seu lado. Como poderão ser esposos fiéis, pais dedicados aos filhos, administradores de suas casas, responsáveis pela vida familiar, se suas mulheres consideram-se super-eficientes, super-capazes e super-bonitas fisicamente... em resumo: super-vendáveis?
No casamento, na família, na sexualidade, esse feminismo radical e capilarmente presente na formação das meninas, das adolescentes, das jovens universitárias, vai necessitando cada vez mais de direitos e de leis, muitas vezes contrárias à dignidade e ao papel da mulher na sociedade e no mundo, para que se mantenha um conceito consumista: ser mulher é ser um produto de primeira qualidade premiado nos mais conhecidos concursos ou leilões.
Os assim chamados direitos sexuais reprodutivos, as leis que pretendem estabelecer cotas de mulheres na política e nas empresas, o falso direito ao próprio corpo ou, mais cruelmente, direito a matar o filho dentro do seu seio, os projetos de leis a favor da profissionalização da prostituição ou, mais claramente, à continuidade do comércio feito por homens e mulheres insensíveis ao verdadeiro valor dessas pessoas assim exploradas, o direito que querem dar à livre distribuição de pílulas, de preservativos, o fácil acesso à laqueadura de trompa e à reprodução independente... e tantos outros direitos e projetos de leis, que só vão confirmando a presença de uma cultura feminista ‘anti-mulher’, destruidora da família e da sociedade.
Essa anti-feminilidade presente em muitas propostas desenvolvidas por organismos governamentais e não-governamentais está impedindo ver os dons especificamente femininos presentes nas mulheres, especialmente aqueles que as tornam pessoas, mais atentas e melhores cuidadoras dos outros seres humanos, especialmente daqueles mais vulneráveis.
Daí que a sabedoria presente no ditado popular: ‘Mãe é uma só’ poderia desabrochar num outro dito: ‘Mulher é uma só-lidária’, é a pessoa que no mundo de ontem, de hoje e de sempre, solidifica as relações humanas com sua ternura, sua agudeza de espírito, sua fortaleza no amor e sua presença maternalmente atenciosa e esperançosa.
A comemoração do Dia das Mães reclama na atualidade uma reflexão mais profunda e séria sobre o que é o verdadeiro feminismo e sobre a missão da mulher e da mãe para a família e para a sociedade, pois quem não souber exatamente quem é a mulher nos planos de Deus jamais saberá compreender suficientemente o que é a maternidade em todas as dimensões.
Essa será sempre a missão da Igreja Católica, especialmente num mundo consumista preocupado em ‘vender’ uma imagem da mulher totalmente desfigurada. Como ela é Mãe dos homens e Esposa de Cristo Redentor, a Igreja fundada por Jesus Cristo sobre a pedra de Pedro enaltece e destaca no Dia das Mães o gênio feminino tão necessário e primordial para a história da humanidade.
O recente Beato João Paulo II, Papa das famílias e da juventude, mencionou o papel fundamental de Maria de Nazaré para a história dos homens quando interpretou as seguintes palavras saídas da sua boca na Visitação a Isabel. “Grandes coisas fez em mim o Todo-Poderoso” (Lc 1,49). Escreveu o Beato Papa: “Estas se referem certamente à concepção de Filho, que é ‘Filho do Altíssimo’ (Lc 1,32), o ‘santo’ de Deus; conjuntamente, porém, elas podem significar também a descoberta da própria humanidade feminina”.
Porém, continua interpretando essa afirmação no sentido de enriquecer ainda mais a feminilidade das mães: “‘grandes coisas fez em mim’: esta é a descoberta de toda riqueza, de todos os recursos pessoais da feminilidade, de toda eterna ‘originalidade’ da mulher, assim como Deus a quis, pessoa por si mesma, e que se encontra contemporaneamente por um dom sincero de si mesma. (...) Em Maria, Eva redescobre qual é a verdadeira dignidade da mulher, da humanidade feminina. Esta descoberta deve chegar continuamente ao coração de cada mulher e plasmar a sua vocação e a sua vida”.
(cf. carta Apostólica Mulieris Dignitatem, Beato João Paulo II, 15.VIII. 1988, n. 11)
Por:Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Fonte: CNBB
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