segunda-feira, 2 de maio de 2011

O CACHO DE UVA.


Certo dia, um camponês se apresentou à porta de um convento com um maravilhoso cacho de uva. Quando o frade que estava na portaria a abriu, o camponês lhe disse sorrindo:
- Tome, quero dar-lhe o cacho de uva mais bonito da minha vinha.

O frade enrubesceu todo pela alegria daquele presente.

– Esta uva é para mim?

- É sua mesmo – insistiu o agricultor – pela amizade e porque sempre me ajudou todas as vezes que eu lhe pedi alguma coisa.

O frade porteiro colocou o cacho de uva numa posição bem visível e, entre os afazeres, ficou admirando-o a manhã inteira. De repente, lembrou-se do abade e lhe veio a idéia de levar para ele o lindo cacho de uva. O abade ficou muito feliz. No entanto lembrou-se que no convento tinha um confrade doente e pensou: “Vou levar o cacho para ele, com certeza terá um pouco de conforto”. Assim o cacho de uva viajou novamente. Também não ficou muito tempo na cabeceira da cama do frade doente. Porque, por sua vez, este pensou que o frade cozinheiro ficaria muito alegre recebendo a uva. Justamente porque, coitado, ele passava o dia inteiro entre o fogo e as panelas. Porém o frade cozinheiro o levou ao frade sacristão; este o levou ao frade mais novo do convento, que achou por bem doá-lo a outro frade. Por fim, passando de um frade para outro, o cacho de uva voltou inteiro para aquele que estava na portaria. A alegria que o cacho de uva lhe trouxe foi bem maior do que quando o tinha recebido pela primeira vez das mãos do camponês.

Nas estórias tudo pode acontecer. Não sei se existe mesmo um convento onde as coisas funcionam desse jeito, mas pode ser também que, em lugar de um só, existam muitos lugares onde algo semelhante acontece. A partilha fraterna é possível, quando esquecemos o nosso egoísmo e deixamos prevalecer a generosidade. O livro dos Atos dos Apóstolos – na leitura deste domingo - fala que os primeiros cristãos viviam unidos e colocavam tudo em comum. Encontravam-se nas casas, partiam o pão e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração. Sobretudo isto chama a minha atenção, porque não posso deixar de pensar nas nossas famílias.

Não adianta sonhar outro mundo. Para muitos, hoje, a vida está se tornando uma correria, cheia de afazeres e estresse. Devido ao trabalho, ao estudo, aos compromissos, aos diferentes interesses, às amizades, cada membro da família organiza os seus horários. É muito difícil conciliar tudo isso. Às vezes a cozinha é um tumulto, outras um deserto. Pior ainda quando os vários aparelhos de televisão dividem a turma, conforme os gostos e as gerações: cada um assiste ao seu programa preferido, com o seu prato na mão. Onde ficaram a alegria de estar juntos e a simplicidade de coração que leva a dar atenção uns aos outros?

Sei que não é fácil. Contudo estou convencido de que a convivência familiar depende de todos nós. Não pode ser uma mera obrigação de algumas ocasiões durante o ano ou uma cobrança de alguns para os outros. As coisas forçadas ou formais podem funcionar algumas vezes, mas não agüentam o dia a dia. A convivência familiar, o diálogo entre as gerações, a liberdade de falar e o gosto de ouvir a opinião dos demais devem nascer do coração. Todos nós temos sempre algo para dizer e muito para aprender. Podem ser os primeiros passos e as descobertas de uma criança como também a sabedoria de um idoso. Pode ser a pergunta questionadora de um jovem, ou a reflexão de um pai, ou a de uma mãe que lutam para educar os seus filhos buscando dar o melhor exemplo possível. A comparação pode parecer banal, mas a sabedoria da vida – e da fé - se aprende aos poucos, como o alimento necessário todos os dias. Na mesa das nossas casas, junto com a comida, podem ser partilhados também os sentimentos, as alegrias e as tristezas, os sonhos e os desafios, as angústias e as esperanças. A não comunicação é sinal de não comunhão. Achar que não interessa aos outros nada do que estamos passando é sinal de falta de confiança. Em lugar do amor experimentamos o medo de sermos julgados. Assim guardamos tudo só para nós. É a solidão num mundo cheio de gente. A alegria e a simplicidade de coração são bens muito preciosos para as nossas famílias. Vamos buscá-los e preservá-los.

Não é muito diferente na Igreja. O sinal da Eucaristia – a fração do pão - é ao mesmo tempo o encontro com Jesus e com os irmãos. O Jesus verdadeiro só pode unir, nunca dividir. Ele quer que experimentemos a comunhão para poder levá-la nas nossas famílias e no mundo inteiro. No amor fraterno é possível continuar a “ver” Jesus presente e vivo ainda hoje.

Por:Dom Pedro José Conti


FOnte: CNBB

Nenhum comentário: