O costume de utilização do incenso em cultos religiosos é muito presente em várias culturas, assim, o cristianismo herdou da tradição judaica esse costume e o utiliza para a “purificação”, para demonstrar que algo tem um caráter especial e, como símbolo das nossas orações elevadas ao céu com a fumaça do incenso.
Nos primórdios, a resina gomosa utilizada no incenso era extraída da árvore Boswellia Carteri, arbusto que cresce na Ásia e na África, mas com o passar do tempo foi sendo substituída por outros tipos de resinas gomosas, através de procedimentos químicos, e de outros vegetais como, por exemplo, de rosas.
No cerimonial dos bispos, duas passagens das sagradas escrituras fundamentam o uso do incenso como sinal de reverência e oração[1]: “Suba minha prece como incenso em tua presença, minhas mãos erguidas como oferta vespertina” (Sl 141,2) e “outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono” (Ap 8,3).
Com a evolução da liturgia e sua compreensão, de forma especial com a renovação que o Concílio Vaticano II, a utilização do incenso permaneceu com toda seu significado, importância e dignidade. Entretanto, há muitas dúvidas da maneira como incensar e de como realizar tal ato, que foi sendo deturpado com o passar do tempo e adaptado à maneira de cada pessoa ou de cada realidade.
Só existem duas formas de realizar a Incensação: os ictos (movimento único do turíbulo com uma pausa entre eles e não sucessivos) e o ductos (movimento duplo consecutivo do turíbulo com uma pausa se for realizado mais ductos)[2]. Dessa forma, nas liturgias o uso dos “trictos” é uma “adaptação” que o cerimonial dos bispos e a instrução geral do missal romano não mencionam.
Agora segue um esquema para utilização dos ictos e ductos e qual tipo de inclinação é feita.
O uso de três ductos do turíbulo (movimento de três ductos realizado três vezes com um intervalo entre eles) é utilizado para[3]:
- O Santíssimo Sacramento.
- As relíquias da santa cruz.
- As imagens do Senhor expostas para veneração pública.
- As oferendas para o sacrifício da missa.
- A cruz do altar.
- O Evangeliário.
- O Círio Pascal
- O sacerdote
- O povo.
O uso de dois ductos do turíbulo (movimento de dois ductos realizado duas vezes com um intervalo entre eles), realizado apenas UMA VEZ após a Incensação do altar, é utilizado para[4]:
- As relíquias dos santos expostas à veneração pública.
- As imagens dos santos expostas à veneração pública.
O altar é incensado com em só ducto, por vez, movimentando-se ao redor dele[5].
A Incensação no início da celebração eucarística deve proceder da seguinte forma[6].:
- Cruz (se estiver atrás do altar caso contrário quando passar diante dela)
- Altar
- Círio Pascal
- Imagem dos santos
A Incensação no ofertório da celebração eucarística deve proceder da seguinte forma[7]:
- Oferendas (três ductos ou sinal da cruz)
- Cruz
- Altar
O uso das inclinações se manifesta “a reverência e a honra que se atribuem às próprias pessoas ou aos seus símbolos”[8]. Nas celebrações litúrgicas temos dois tipos de inclinações, a saber:
- Inclinação Profunda[9]: que seria o movimento de inclinar o corpo realiza-se para os seguintes casos.
- Ao altar
- Aos bispos
- Às orações.
- No credo (e se encarnou)
- No Canon Romano (Nós vos suplicamos)
- Diácono quando pede a benção para proclamar o evangelho.
- Sacerdote na consagração.
Quando temos o uso do incenso na celebração da eucaristia, a inclinação profunda deve ser feita antes e depois para a pessoa ou objeto a ser incensado. Entretanto, não se realiza a inclinação profunda ao altar e nem para as oferendas recebidas para a celebração da missa[10].
No que diz respeito à inclinação profunda ao Altar e ao Bispo, ambos recebem , mas quando o bispo estiver sentado atrás do altar, deve-se evitar passar no meio de ambos por respeito para com um e para com o outro, mas se for necessário a reverência para o bispo será de acordo com a necessidade/serviço a ser realizado, por exemplo: se for algo relacionado a pessoa do bispo a reverência é feita para ele ou se for algum serviço relacionado ao altar faça a reverencia para o altar[11].
- Inclinação de Cabeça[12]: que trata do movimento de uma leve inclinação da cabeça que é realizado nos seguintes casos
- Quando se nomeiam juntas as três pessoas divinas
- Ao nome de Jesus
- Ao nome da Virgem Maria
- Ao nome dos santos em cuja honra se celebra a missa.
Enfim, toda essa dinâmica precisa ser entendida como algo que mostra respeito e dignidade e não como “meros” ritos que precisam ser seguidos, pois fazem parte da nossa história, e como cristãos católicos precisamos reconhecer e valorizar a riqueza de nossa Igreja através desses momentos.
Padre Luiz Gustavo Santos Teixeira
Mestre em Liturgia pela PUC-SP
[1] Cf. Cerimonial dos bispos n. 84.
[2] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92-93 e IGMR n. 276-277.
[3] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.
[4] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.
[5] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 92 e IGMR n. 277.
[6] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 93 e IGMR n. 277.
[7] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 93 e IGMR n. 277.
[8] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.
[9] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.
[10] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 91.
[11] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 76-77.
[12] Cf. Cerimonial dos Bispos n. 68 e IGMR n. 275.
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