sábado, 12 de setembro de 2020

Onde estão os originais dos Evangelhos?

 Sabemos que os originais (autógrafos) dos Evangelhos, tais como saíram das mãos de Mateus, Marcos, Lucas e João, se perderam, dada a fragilidade do material usado (pele de ovelha ou papiro), mas isto não impede que a História prove a sua existência.

Ficaram-nos as cópias (manuscritos) antigas desses originais, que são os papiros, os códices unciais (escritos em caracteres maiúsculos sobre pergaminho), os códices minúsculos (escritos mais tarde em caracteres minúsculos) e os lecionários (textos para uso litúrgico).

Conhecem-se cerca de 5236 manuscritos (cópias) do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. Estão assim distribuídos: 81 papiros; 266 códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários.

Número Conteúdo Local Data (Século)

p1 Evangelhos Filadélfia (USA) III

p2 Evangelhos Florença (Itália) VI

p3 Evangelhos Viena (Áustria) VI/VII

p4 Evangelhos Paris III

p5 Evangelhos Londres III

p6 Evangelhos Estrasburgo IV

p7 Atos Berlim IV

a) Os papiros são os mais antigos testemunhos do texto do Novo Testamento. Estão assim distribuídos pelo mundo:

Em resumo, existem 76 papiros do texto original do Novo Testamento. Acham-se ainda em Leningrado (p11, p68), no Cairo (p15, p16), em Oxford (p19), em Cambridge (p27), em Heidelberg (p40), em Nova York (p59, p60, p61), em Gênova (p72, p74, p75),…

Desses papiros alguns são do ano 200, o que é muito importante, já que o Evangelho de São João foi escrito por volta do ano 100. São, por exemplo, do ano 200, aproximadamente, o papiro 67, guardado em Barcelona.

Códice Conteúdo Local Data (Séc.)

Aleph 01 N.T. Londres IV

(Sinaítico)

A 02 N.T. Londres V

(Alexandrino)

B 03 N.T. Roma IV

(Vaticano) (menos Ap.)

C 04 N.T. Paris V

(Efrém rescrito)

D 05 Evangelhos Cambridge VI

(Beza) Atos

D 06 Paulo Paris VI

(Claromantono)

b) Os códices unciais são verdadeiros livros de grande formato, escritos em caracteres maiúsculos (unciais). Uncial vem de “uncia”, polegada em latim. Eis a relação de alguns deles:

Em resumo, há mais de duzentos códices unciais, espalhados por Moscou (K 018; V 031; 036); Utrecht (F 09); Leningrado (P 025); Washington (W 032); Monte Athos (H 015; 044); São Galo (037)…

Desses dados é fácil entender que a pesquisa e o estudo dos manuscritos do Novo Testamento não dependem de concessão do Vaticano, pela simples razão que a sua maioria não está em posse da Igreja. Só há um código datado do século IV, no Vaticano.

As pesquisas sempre foram realizadas independentemente da autorização da Igreja Católica, o que dissipa qualquer dúvida.

Os manuscritos bíblicos são manuscritos da humanidade; muitos foram levados do Oriente, por estudiosos e outros interessados, para as bibliotecas dos países ocidentais, onde se acham guardados até hoje.

Como vimos, existem hoje mais de cinco mil cópias manuscritas do Novo Testamento datadas dos dez primeiros séculos.

Algumas são papiros dos séculos II-III. O mais antigo de todos é o papiro de Rylands, conservado em Manchester (Inglaterra) sob a sigla P. Ryl. Gk. 457; do ano 120 aproximadamente, e contém os versículos de João 18,31-33.37.38.

Ora, se observarmos que o Evangelho de São João foi escrito por volta do ano 100, verificamos que temos um manuscrito que é, então, cópia do próprio original.

As pequenas variações encontradas nessas cinco mil cópias são meramente gramaticais ou sintáticas e que não alteram o seu conteúdo. Os estudiosos, analisando este grande número de manuscritos antigos, concluem que é possível reconstruir a face autêntica original do Novo Testamento, que é o que hoje usamos.

Uma comparação muito interessante é confrontarmos esse tipo de testemunhas do texto original do Novo Testamento, com as obras dos clássicos latinos e gregos usados pela humanidade.

Verificamos que é muito privilegiada a documentação hoje existente para se construir a face autêntica do Novo Testamento.

Escritor Época do Tempo decorrido entre o escritor e a 1ª cópia de sua obra

Virgílio 19 a.C. 350 anos

Tito Lívio 17 d.C. 500 anos

Horácio 8 a.C. 900 anos

Júlio César 44 a.C. 900 anos

Córnélio Nepos 32 a.C. 1200 anos

Platão 347 a.C. 1300 anos

Tucídides 395 a.C. 1300 anos

Eurípedes 407 a.C. 1600 anos

As primeiras cópias das obras desses escritores, consideradas hoje autênticas, foram mais tardias que as primeira cópias dos Evangelhos, e, mesmo assim são plenamente reconhecidas.

Eis alguns dados conhecidos:

Escritor

Vemos, então, que a transmissão desses clássicos antigos, gregos e latinos, tão usados pela humanidade, com total credibilidade, tiveram uma transmissão mais precária do que o Novo Testamento, com os seus mais de 5000 manuscritos, muito mais próximos de seus originais. Se a humanidade não põe em dúvida a autenticidade desses textos latinos e gregos, então, jamais poderá questionar a autenticidade do Novo Testamento.

As fontes dos primeiros séculos confirmam a autenticidade do Novo Testamento. Vejamos apenas uns poucos exemplos. Atente bem para as datas.

Evangelho de Mateus — No ano 130, Bispo Pápias, de Hierápolis na Frígia, região da Ásia Menor, que foi uma das primeiras a ser evangelizada pelos Apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus dizendo:

“Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pôde” (Eusébio, História da Igreja III, 39,16).

Quem escreveu essas palavras foi o bispo Eusébio, de Cesaréia na Palestina, quando por volta do ano 300 escreveu a primeira história da Igreja. Ele dá o testemunho histórico de Pápias.

Note que Pápias nasceu no primeiro século, isto é, no tempo dos próprios Apóstolos; S. João ainda era vivo. Portanto este testemunho é inequívoco.

Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200), do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista. S. Irineu na sua obra contra os hereges gnósticos, também fala do Evangelho de Mateus, dizendo:

“Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja”. (Adv. Haereses II, 1,1)

Evangelho de São Marcos — É também o Bispo de Hierápolis, Pápias (†130) que dá o primeiro testemunho do Evangelho de Marcos, conforme escreve Eusébio:

“Marcos, intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, mas sem ordem, tudo aquilo que recordava das palavras e das ações do Senhor; não tinha ouvido nem seguido o Senhor, mas, mais tarde…, Pedro. Ora, como Pedro ensinava, adaptando-se às várias necessidades dos ouvintes, sem se preocupar em oferecer composição ordenada das sentenças do Senhor, Marcos não nos enganou escrevendo conforme recordava; tinha somente esta preocupação, nada negligenciar do que tinha ouvido, e nada dizer de falso” (Eusébio, História da Igreja, III, 39,15).

Evangelho de São Lucas — O Prólogo do Evangelho de S.Lucas, usado comumente no século II, dava testemunho deste Evangelho, ao dizer:

“Lucas foi sírio de Antioquia, de profissão médica, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até a confissão (martírio) deste, servindo irrepreensivelmente o Senhor. Nunca teve esposa nem filhos; com oitenta e quatro anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. Já tendo sido escritos os evangelhos de Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este Evangelho nas regiões da Acaia, dando a saber logo no início que os outros Evangelhos já haviam sido escritos”.

Evangelho de São João — é Santo Ireneu (†202) que dá o seu testemunho:

“Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso.

Ora, todos esses homens legaram a seguinte doutrina:…Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor, despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e se opõe à sua salvação — e é o que fazem todos os hereges”. (Contra as heresias)

É por isso que a Igreja, meu amigo, com toda a sua seriedade, e fazendo uso da ciência, depois de examinar todas as coisas, com todo o rigor que lhe é peculiar, não tem dúvida de nos apresentar os Evangelhos como rigorosamente históricos.

A Constituição Apostólica Dei Verbum, do Concílio Vaticano II,diz:

“A santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus como Autor e nesta sua qualidade foram confiados à Igreja” (DV,11).

O Catecismo da Igreja afirma com segurança:

“A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até ao dia que foi elevado” (n° 126).

Outros estudos mais recentes confirmaram a autenticidade dos Evangelhos, especialmente com as descobertas dos manuscritos de Qumran, na Palestina, próximo do Mar Morto, no ano 1949. Aí foram encontrados cópias da Bíblia, do século primeiro, inclusive pequenos fragmentos dos Evangelhos. Não há mais o que discutir!

 

 

 Prof. Felipe Aquino

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