Sim,
a Sagrada Eucaristia é sempre a Sagrada Eucaristia, mas e nós? Estamos
nos acercando deste augusto mistério com a reverência, o temor, a
concentração e a efusão de beleza devidas ao Santíssimo Sacramento?
É comum que os católicos amantes da liturgia tradicional — ou que
pelo menos desejam ver a moderna celebrada em clara continuidade com a
precedente — ouçam de algumas pessoas algo parecido com isto:
Você
está fazendo muito caso de coisas marginais. Não importa a forma ou o
estilo, é a mesma Eucaristia, não? No latim ou em língua vernácula,
Tridentina ou Novus Ordo, cantada ou rezada, em um auditório na América
ou em uma catedral na Europa, a Eucaristia ainda está presente, e ainda
somos alimentados por ela. Comparado a isso, nada
mais realmente importa, não acha? O resto é acidental, externo,
discutível, mutável. Na verdade, alguém que se prende a cerimônias,
rubricas, cantos e por aí vai, só demonstra estar alheio ao que é
essencial. Afinal de contas, seja como for, a Missa é a Missa.
O problema com essa forma de pensar é que ela subestima radicalmente
quer a influência que tem sobre aquilo em que cremos o modo
como adoramos (lex orandi, lex credendi), quer a disposição em que nos é
capaz de colocar para receber Nosso Senhor um espírito correto de
adoração e humildade. Ela reflete a antropologia materialista moderna
onde nada importa a não ser “finalizar o trabalho”; se ele é feito de
maneira nobre ou medíocre parece não fazer a mínima importância. Ela
demonstra, ainda, uma incrível ingenuidade quanto à sutil interseção da
economia sacramental com a psicologia humana. E representa, por fim, uma
ruptura com vinte séculos de pensamento e prática católicas.
Sim, a Sagrada Eucaristia é sempre a Sagrada Eucaristia, mas e
nós? Estamos nos acercando deste augusto mistério com a reverência
silenciosa, o temor vivo de Deus, a solene concentração e a generosa
efusão de beleza que são devidas ao Sanctissimum? E se não estamos, por
que não o fazemos? O que isso diz a respeito da pureza da nossa fé e do
ardor da nossa caridade? Teriam os sagrados mistérios cessado de nos
impressionar, de nos encher de admiração, de nos colocar de joelhos, de
requerer o melhor da nossa cultura? Com quem temos brincado — com Deus
ou com nós mesmos?
A Missa é sempre a Missa no que diz respeito à confecção da
Eucaristia, mas uma Missa que tem como marca a reverência e a solenidade
é muito diferente para nós e para o nosso relacionamento com Deus do
que uma Missa rápida e insípida, ou uma que seja longa e cheia de
abusos. Na verdade, se deformamos demais os aspectos ditos “externos” da
Missa, terminamos por minar nossa fé na presença real de Jesus na
Eucaristia.
O Santíssimo Sacramento é o maior tesouro da Igreja, o seu dom mais
precioso, o seu maior mistério, a sua maior fonte de prodígios, o seu
segredo mais privilegiado. É o coração pulsante de toda a sua vida
apostólica e contemplativa. E o santo sacrifício da Missa é o único meio
através do qual esse dom chega até nós, renovado para cada geração de
discípulos. Desonre a Santa Missa ou abuse dela, faça-a parecer menos
bela e misteriosa do que ela é, e você estará tirando a honra e abusando
de ninguém menos que Aquele que vem até nós, e só através dela; você
estará deformando a fé e os fiéis.
A
música sacra é a veste da palavra — e que bela veste ela deve ser, para
ser digna dessa divina pronúncia! O templo é o lugar em que Nosso
Senhor eucarístico vem fazer sua morada: Emanuel, Deus conosco. Também
ele deve parecer o que de fato é, sem lugar a confusões. Paramentos,
objetos, ações rituais — em suma, tudo o que diz respeito à ação
litúrgica — devem ser como o Corpo e o Sangue de Cristo: santo, sagrado,
separado. Tudo o que não é o Senhor deve ser o seu trono visível, o seu
domínio sagrado, belo, solene e admirável, a fim de que tomemos
consciência: estamos recebendo nosso Rei quando Ele vem ao seu Reino.
Por isso, na próxima vez que alguém lhe disser: “A Missa é a
Missa, seja lá como for”, considere responder assim: “Jesus não
é só Jesus, Ele é o Filho de Deus, o Rei de todas as coisas, o Juiz dos
vivos e mortos; e a Missa não é só a Missa, ela é o santo sacrifício do
Calvário presente de novo em nosso meio. E assim como qualquer pessoa sã
cairia de joelhos diante de Jesus e daria a Ele o melhor possível de
si, nós todos devemos fazer o mesmo com o santo sacrifício da Missa,
durante o qual nós verdadeiramente nos prostramos diante do Senhor do
céu e da terra — e isso é o mínimo que se deve exigir de todo sacerdote e
leigo católico que ousar colocar os seus pés em uma igreja”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário