“O Senhor Deus plasmou o homem com o pó da terra” (Gn 2,7)
Eu, naquele entardecer da criação, senti passos no jardim. Era ele, O SENHOR DA CRIAÇÃO. Acontece que, nesse entardecer, ele parou, inclinou-se, com um olhar carregado de amor. E, de repente, juntou-me do chão, a mim, pobre e pequeno punhado de terra e ficou a me olhar pensativo… Remexeu-me longamente… longamente… com todo carinho!
E, então, começou a me amassar: primeiro, retirou de mim uma porção de impurezas que o atrapalhavam: pedrinhas, pedacinhos de pau, ciscos. E eu fui ficando terra pura, do seu gosto. Fez ainda operações, que eu não compreendia, nem poderia compreender: “Pode por acaso um vaso dizer ao oleiro: eu entendo disso mais do que você?” (Is 29,16).
Eu nada perguntei. Oferecia simplesmente o meu ser em disponibilidade de amor. Deixava-me trabalhar. Deixava que ele me fizesse. Porque eu sabia que era obra sua e que ele transformava com amor.
De fato, fui tomando forma. Uma forma à maneira sua, à sua imagem! Para que haveria eu de servir no futuro? Eu não o sabia. “Como argila nas mãos de um oleiro, assim estava eu em suas mãos” (Jr 18, 6).
E fui-me tornando obra de Deus. “E ele aplicava seu coração em aperfeiçoar-me, pondo cuidado vigilante em tornar-me belo e perfeito” (Eclo 38, 31).
Depois, veio uma etapa difícil. Porque foi um forno superaquecido que ao barro vejo dar força e consistência. É o calor e o valor de minha vida que leva a bom termo a obra de suas mãos, O SENHOR CRIADOR. A cada vaso muito querido, ele dá contornos de eternidade. Então, comecei a olhar em torno de mim. E descobri outros vasos que suas mãos hábeis e cheias de amor haviam amassado e modelado artisticamente. Sem se cansar, dava ele mais outra demão aqueles que não haviam saído bem. Cada um tinha sua forma e sua cor, sem dúvida, isso conforme à destinação no mundo. Mas, do mais humilde ao mais rico, todos eram lindos, todos bem feitos. Ele nos tinha feito como ele bem queria (…).
“Pode, por ventura, um vaso perguntar ao oleiro: por que me fizeste assim? Não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma argila um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar?” (Rm 9, 20-21).
Ó OLEIRO DIVINO, CRIADOR E PAI, permite que se cumpra em mim a obra que começaste. Seja meu projeto o teu projeto sobre mim!
D. Estevão Bettencourt, osb
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