Jeffrey Bruno | AleteiaPraying the Rosary...
O cristianismo é a confissão religiosa que mais sofre com perseguições ao redor do mundo, com agressões, assassinatos e destruição de locais de culto.
O cristianismo é a confissão religiosa que mais sofre com perseguições ao redor do mundo, com agressões, assassinatos e destruição de locais de culto – particularmente em países nos quais é religião minoritária, na Ásia e na África. Contudo, em nosso país, os mais perseguidos são os praticantes de religiões de matriz africana. Dependendo da fonte consultada, a probabilidade, no Brasil, de um fiel de uma dessas religiões ser vítima de violência por suas convicções e práticas é algo entre 130 a 210 vezes maior do que para a população em geral.
Se os cristãos brasileiros não sofrem perseguição com agressões físicas e perda de direitos, padecem com uma mentalidade laicista que deslegitima qualquer expressão social que tenha vinculação com a religião. Os cristãos, apesar de majoritários em termos demográficos, podem tornar-se minoria político-cultural. Infelizmente, tal situação algumas vezes leva à militância intransigente e aguerrida, que procura revidar as agressões culturais sofridas com outras violências, gerando uma espiral crescente de incompreensão e conflito.
Na história
A Igreja Católica sofreu com perseguições por parte do Estado e de grupos políticos hegemônicos em muitos momentos ao longo da história do Brasil. O padroado era um acordo, feito entre a Coroa e o Vaticano, segundo o qual o governo protegia, amparava e coordenava as atividades eclesiais em seu território. No Brasil, perdurou até a proclamação da República. Contudo, ao longo do tempo se configurou num controle do Estado sobre a Igreja. Além disso, tem havido um conflito, às vezes velado, outras vezes escancarado, entre o catolicismo e as elites de formação iluminista – que consideravam a mentalidade católica retrógrada e inculta… Apesar da instrução escolar, no período colonial, ser oferecida principalmente pela Igreja e de parte significativa dos intelectuais brasileiros terem sido membros do clero. Vejamos alguns exemplos desses conflitos históricos:
- As primeiras vítimas de perseguição, ainda no período colonial, foram os missionários, pela defesa que fizeram dos índios – culminando com a expulsão dos jesuítas, em 1759.
- Uma das batalhas travadas por Frei Galvão (1739-1822), o primeiro brasileiro declarado santo, foi justamente contra o fechamento – determinado pelo governo – daquele que é hoje o Mosteiro da Luz, em São Paulo.
- No século XIX, por uma desavença com a Maçonaria, dois bispos católicos, Dom Vital e Dom Macedo Costa, foram condenados à prisão, em 1874.
No presente
Até hoje, esse preconceito contra a religião se manifesta em muitas situações. O cristianismo se tornou uma espécie de “bode expiatório”, de “consciência culpada”, da sociedade ocidental – inclusive no Brasil.
A acusação, por exemplo, de que a inculturação do Evangelho, feita pelos missionários no período colonial, destruía a cultura indígena é muito frequente. Poucas vezes, contudo, é lembrado que, nesse mesmo período, os espanhóis e portugueses, com a aprovação do governo, matavam e/ou escravizavam os índios – que eram defendidos pela Igreja.
O discurso de respeito às minorias, justo e necessário, condenou as piadas e zombarias referentes a raça ou orientação sexual das pessoas. Contudo, é considerado “liberdade de expressão” quando os humoristas ridicularizam elementos caros à fé cristã. Apesar da ênfase no respeito à diversidade e à pluralidade, a cultura hegemônica também não aceita o valor da castidade e a possibilidade de ser oferecida como opção aos jovens.
Os cristãos brasileiros não sofrem com a perseguição física ou perda de liberdade política. Mas são vítimas de uma coerção cultural em relação a seus valores e à explicitação de sua vida de fé. Por outro lado, uma visão deturpada do Evangelho muitas vezes faz com que os valores cristãos sejam instrumentalizados para legitimar condutas repressivas, preconceituosas e anticristãs. Daí vem uma situação paradoxal. Quem orienta sua vida por valores cristãos frequentemente se sente menosprezado e incompreendido pelos agnósticos, quem orienta sua vida por valores diferentes se sente oprimido e discriminado por cristãos fervorosos. Os que se deixam determinar por esse clima de discórdia, não conseguem praticar o diálogo – tão defendido tanto pelo Papa Francisco quanto por líderes de outras religiões e pensadores humanistas agnósticos.
Dar a outra face?
“Tendes ouvido que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao homem mau; mas a quem te bate numa face, volta-lhe também a outra” (Mt 5, 38-39). Esse trecho do Sermão da Montanha se torna bastante perturbador nesse contexto. Mais ainda se pensarmos nos países onde os cristãos sofrem perseguição e são martirizados.
Vale a pena ler a Carta a Diogneto (CD), um documento escrito pelos primeiros cristãos, ainda na época da perseguição romana. Os cristãos, diz o texto, “amam todos e por todos são perseguidos […] são desprezados e, no desprezo, são glorificados […] são injuriados e bendizem […] fazendo o bem, são punidos como maus […] Tal é o posto que Deus lhes determinou, e não lhes é lícito dele desertar” (CD 5, 11 – 6, 10). O sucesso dessa “estratégia” de amor se evidenciava, segundo a Carta, pela felicidade experimentada pelos cristãos e pela expansão do cristianismo no mundo, a despeito de todo sofrimento imposto aos fiéis.
“Dar a outra face” não significa ficar passivo e submisso diante do mal e das ofensas, mas responder com amor. Os cristãos, esse é o testemunho da Carta, não combatem com a violência nem mesmo às perseguições mais terríveis. Com maior razão, não devem revidar as incompreensões das quais se sentem vítimas com agressões e violência, mas sim com amor.
“Não falo de coisas estranhas, nem busco coisas absurdas” (CD 11, 1), diz o autor da Carta. Para ele, era uma constatação demonstrada pelos fatos, não uma ingenuidade, que a grande resposta a qualquer forma de intolerância sofrida pelos cristãos é um verdadeiro amor ao próximo, não a força ou o poder.
Francisco Borba Ribeiro Neto
via aleteia
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