Antoine Mekary | Aleteia | i.Media
Não desperdicem a vida “correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e deixam o vazio dentro”
Para não nos esquecermos de Deus, o
Senhor nos deixou não apenas a Bíblia, mas deu-nos também um alimento, e
um alimento que cura: a Eucaristia, afirmou o Papa Francisco.
Neste domingo, na Missa de Corpus Christi, o Papa falou da
importância de não se esquecer de Deus e apontou ainda como recordá-lo
bem, de forma a viver uma vida melhor e curar as feridas que nos
afligem.
O Papa afirmou que “é essencial recordar o bem recebido: se não o
conservamos na memória, tornamo-nos estranhos a nós mesmos, meros
«passantes» pela existência; sem memória, desenraizamo-nos do terreno
que nos alimenta e deixamo-nos levar como folhas pelo vento”.
Francisco afirmou que Deus sabe como é difícil transmitir a fé de geração em geração.
Por isso, Deus não nos deixou só a Escritura, porque é fácil esquecer
o que se lê. Não nos deixou apenas sinais, porque se pode esquecer
também o que se vê.
Deu-nos um Alimento, e é difícil esquecer um sabor. Deixou-nos um Pão em que está Ele, vivo e verdadeiro, com todo o sabor do seu amor.
Ao recebê-Lo, podemos dizer: «É o Senhor! Ele lembra-Se de mim». Foi por isso que Jesus nos pediu: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Cor 11, 24). Fazei. A Eucaristia não é simples lembrança; é um fato: é a Páscoa do Senhor, que ressuscita para nós.
De acordo com o Papa, na Missa, temos diante de nós a morte e a
ressurreição de Jesus. Não podemos ficar sem a Eucaristia, pois ela é “o
memorial de Deus”. “E cura a nossa memória ferida”.
Francisco explicou que a Eucaristia cura, antes de tudo, a nossa “memória órfã”.
Vivemos numa época de tanta orfandade. Muitos têm a memória lesada por faltas de afeto e dolorosas decepções, vindas de quem deveria ter dado amor e, em vez disso, tornou órfão o coração. Gostaríamos de voltar atrás e mudar o passado, mas não se pode. Deus, porém, pode curar estas feridas, introduzindo na nossa memória um amor maior: o d’Ele.
Segundo o Papa, a Eucaristia traz-nos o amor fiel do Pai, que cura a nossa orfandade.
Dá-nos o amor de Jesus, que transformou um sepulcro, de ponto de chegada, em ponto de partida e da mesma maneira pode inverter as nossas vidas. Infunde-nos o amor do Espírito Santo, que consola, porque nunca nos deixa sozinhos e cura as feridas.
Com a Eucaristia – afirmou Francisco –, o Senhor “cura também a nossa memória negativa, aquele negativismo que frequentemente se apodera do nosso coração”.
O Senhor cura esta memória negativa, que sempre faz vir ao de cima as coisas mal feitas e deixa-nos na cabeça a triste ideia de que não servimos para nada, que só cometemos erros, que nos fizeram «errados».
Jesus vem dizer-nos que não é assim. Ele é feliz quando está na nossa intimidade e, sempre que O recebemos, lembra-nos que somos preciosos: somos os convidados esperados para o seu banquete, os comensais que Ele deseja.
O Senhor cura não só porque é generoso, mas porque Se enamorou verdadeiramente de nós: vê e ama a beleza e o bem que somos.
O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade; são doenças, infeções. E Ele vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para a nossa memória doente de negativismo. Com Jesus, podemos imunizar-nos contra a tristeza.
Continuaremos a ter diante dos olhos as nossas quedas, as canseiras, os problemas de casa e do trabalho, os sonhos não realizados; mas o seu peso deixará de nos esmagar, porque, na profundidade de nós mesmos, temos Jesus que nos encoraja com o seu amor.
Segundo o Papa, a força da Eucaristia reside em nos transformar em “portadores de Deus: portadores de alegria, não de negativismo”.
Nós, que vamos à Missa, podemos perguntar-nos o que levamos ao mundo: as nossas tristezas, as nossas amarguras ou a alegria do Senhor? Fazemos a Comunhão e, depois, continuamos a reclamar, a criticar e a lamentar-nos? Mas isto não melhora coisa alguma, ao passo que a alegria do Senhor muda a vida.
O Papa explicou ainda que a Eucaristia cura a nossa memória fechada.
As feridas, que conservamos dentro, não criam problemas só a nós, mas também aos outros. Tornam-nos medrosos e desconfiados: ao princípio, fechados; com o passar do tempo, cínicos e indiferentes. Levam-nos a reagir aos outros com insensibilidade e arrogância, iludindo-nos de que assim podemos controlar as situações; mas enganamo-nos! Só o amor cura o medo pela raiz, e liberta dos fechamentos que aprisionam.
Através da Eucaristia, o Senhor nos convida ainda a “não desperdiçar a
vida correndo atrás de mil coisas inúteis que criam dependências e
deixam o vazio dentro”.
A Eucaristia apaga em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir. Levanta-nos do nosso estilo cómodo e sedentário de vida, lembra-nos que não somos apenas boca a saciar, mas também as mãos d’Ele para saciar o próximo.
Agora é urgente cuidar de quem tem fome de alimento e dignidade, de quem não trabalha e tem dificuldade em seguir para diante. E fazê-lo de modo concreto, como concreto é o Pão que Jesus nos dá. É precisa uma proximidade real; são necessárias verdadeiras correntes de solidariedade. Na Eucaristia, Jesus aproxima-Se de nós: não deixemos sozinho, quem vive ao pé de nós!
O Papa fez ao final um apelo:
Queridos irmãos e irmãs, continuemos a celebrar o Memorial que cura a nossa memória (ao dizer aqui que cura a memória, recordemo-nos que é a memória do coração), este memorial é a Missa.
É o tesouro que deve ocupar o primeiro lugar na Igreja e na vida. E, ao mesmo tempo, redescubramos a adoração, que continua em nós a ação da Missa. Faz-nos bem, cura-nos por dentro. Sobretudo agora, temos verdadeiramente necessidade dela.
Redação da Aleteia
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