Primeiro ponto –
Considera que o Sagrado Coração de Jesus merece a nossa veneração,
porque é o Coração de um Deus… No mistério da Encarnação, o Filho de
Deus assumiu substancialmente a natureza humana, que foi, deste modo,
sublimada e elevada ao trono da Divindade… A Humanidade de Jesus é,
pois, a humanidade de Deus, o seu Corpo imaculado é o Corpo de um Deus, a
sua Alma puríssima é a Alma de um Deus, o seu Coração é o Coração de um
Deus.
Sendo de um Deus, o Coração de Jesus é Santo… Mas a sua santidade não
é acidental, finita passageira, como a das criaturas; é substancial,
infinita, imutável, – é a própria Santidade de Deus!… E como a Santidade
de Deus é um centro que contém todas as perfeições, o Coração de Jesus é
bom, é puro, é justo, é amável, é misericordioso; tem a bondade, a
pureza, a justiça, a amabilidade, a misericórdia do próprio Deus… Oh!
Como é adorável o Coração de Jesus!
Sendo de um Deus, o Coração de Jesus merece o mesmo culto que é
devido à Majestade infinita de Deus… É por isso que, quando os
desalentos no abatem e as tentações no assaltam, prostramo-nos diante
daquele Coração santíssimo e, num transporte da mais terna confiança,
exclamamos: <>
Alma
cristã, quantas vezes – quem sabe – julgaste que o amor do coração
humano podia ser o objeto da tua felicidade, e só encontraste desenganos
e remorsos… Não; o coração que há de fazer a tua felicidade não pode
ser o das criaturas… Procuras um coração fiel nos seus afetos, e o
coração das criaturas está sujeito a mudanças perpétuas… Desejas um
coração que te possa tornar feliz, e o coração das criaturas não tem
felicidade para dar… Procuras um coração que viva sempre, e, na terra,
tudo passa, tudo acaba, tudo morre… Levanta os olhos para Jesus, e Ele,
mostrando-te o seu Coração, dir-te-á: <>
Sim, meu amado Jesus, só o vosso Coração pode fazer a minha
felicidade; porque só Ele é sempre fiel e dedicado, só Ele é
infinitamente feliz, só Ele vive sempre e nunca morre… Que loucura e que
ingratidão foi a minha, Senhor, quando desprezei a vossa amizade, para
procurar a paz e a felicidade nos afetos terrenos, em que só se encontra
a vaidade e remorso!… Ó Jesus, tende piedade de mim, pobre pecador!…
Atraí-me, com a doçura irresistível do amor santo, ao vosso Coração,
para que nessa fonte inesgotável eu possa haurir a água da vossa graça,
que apague a sede da minha alma e seja um penhor da bem-aventurança
eterna!…
Segundo ponto – Considera que o motivo mais próprio
da nossa veneração ao Sagrado Coração de Jesus é ser esse Coração o
símbolo do Amor do Homem-Deus.
Pensaste seriamente na união destas duas palavras – Amor e Jesus? – o
amor das criaturas pode ser, e é muitas vezes, desordenado,
inquietador, mutável; o Amor de Jesus é sempre santo, sempre belo e
cheio de encanto, sempre firme e inabalável… O amor das criaturas vai
onde resplandece um brilho de perfeição, uma aparência de bondade; o
Amor de Jesus vai onde há uma lágrima a enxugar, uma miséria a socorrer,
uma ferida a sarar. – O Amor de Jesus é a Encarnação… é Belém…, é
Nazaré…, é o Getsémani…, é Jerusalém…, é o Calvário…, é a Eucaristia…
Ah! se tudo devemos ao Amor de Jesus – tudo… a vida da graça, a
liberdade do inferno, a esperança do Paraíso, não teremos nós o direito e
o dever de venerar e glorificar este Amor?… E, se o símbolo mais
natural do amor é o coração, não será legítimo e justo que prestemos o
nosso culto e as nossas homenagens ao Coração adorável de Jesus?
Mas o Coração de Jesus não é um símbolo estéril do seu Amor… Oh, não!
Aquele Coração tomou uma parte ativa e real nos afetos do Homem-Deus;
era o eco das suas mais santas elevações; o reflexo dos mais delicados
transportes e das mais pungentes agonias daquela alma imaculada… Este
Coração dilatava-se, quando se oferecia à Divina Justiça… Este Coração
era trespassado pela mais viva dor, quando sentia os seus tormentos e
via a ingratidão dos homens… Este Coração abandonava-se às mais puras e
suaves palpitações, quando Jesus dizia aos seus discípulos: <>
Ó Coração amabilíssimo, eu Vos venero e Vos bendigo porque levastes o
meu Jesus a sujeitar-se a tantos sacrifícios, a escolher a morte da
Cruz e a instituir o SS. Sacramento, onde é vítima, alimento, hóstia e
viático da nossa peregrinação… Só o Coração de um Deus podia amar
assim!… Ó Coração amantíssimo do meu Jesus, fazei que eu Vos ame com
todas as forças da minha alma e que, por vosso amor, aceite, com
resignação e alegria, os desprezos, as privações e as contrariedades da
vida… Espero alcançar esta graça pelos méritos da vossa Paixão e Morte…
Terceiro ponto – Considera que o Sagrado Coração de
Jesus não se contentou em nos dar as suas palpitações e as suas dores;
mas deu-nos o que tinha de mais precioso, deu-nos o próprio Sangue…
A culpa, que pesava sobre a humanidade, só com o sangue podia ser
remida, mas com o sangue de um coração santo e imaculado… Esse coração
santo e imaculado é o de Jesus!
Dai-nos sangue, ó Coração de Jesus!… E o amantíssimo Redentor derrama
sangue no Templo, no Horto de Getsémani, no Pretório, no caminho do
Calvário!…
Dai-nos mais sangue, ó Coração amantíssimo de Jesus!… E sangue sai
das mãos e dos pés do Redentor e, durante três horas, sangue goteja de
todo o seu Corpo imaculado, reduzido a uma Chaga!
Dai-nos mais sangue, ó Coração de Jesus!… O Redentor morreu… Um
soldado fere e trespassa com a lança aquele Coração divino, e saem ainda
algumas gotas de sangue, e depois sai água… Já não há mais sangue
naquele Coração!… Oh, basta! Quando o coração está exausto de sangue,
não pode haver maior prova de caridade. O amor tocou o seu limite!
Alma
cristã! E como é possível ter no peito um coração e não amar o Coração
amantíssimo de Jesus?… Nós amamos quem nos ama, e só para com Jesus
somos ingratos!… Nunca se encontrou coração, que nos tenha amado tanto,
como nos amou o Coração de Jesus, e todavia nunca se encontrou pessoa
tão desprezada e ofendida, como a Pessoa adorável do Redentor!
Ó Jesus, tendes razão de Vos queixar das vossas criaturas e de dizer:
<> Também eu, Senhor, pertenço ao grande número dos
ingratos!… E Vós tendes sido tão bom para comigo!… Ó Coração adorável do
meu Jesus, deixai cair sobre a minha alma as últimas gotas do vosso
Sangue precioso, para que eu, purificado das minhas culpas e inflamado
no vosso amor, só viva e morra por Vós, que vivestes e morrestes por
mim!… Feliz de mim, se me concederdes a graça de exalar o último suspiro
na vossa Chaga amorosa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário