Alguns
discípulos não reconheceram Jesus ressuscitado. Isso aconteceu, por
exemplo, com Maria Madalena (João 20,15), com os discípulos quando
estavam pescando (João 21,4) e com os dois discípulos no caminho de
Emaús (Lucas 24,13-35). Fica claro, porém, que a fisionomia de Jesus era
diferente nessas aparições.
Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: “Vede as minhas mãos e os
meus pés: sou Eu!” (Lc 24,39). Mas ele não voltou a uma vida terrestre
como antes. O nosso Catecismo explica que o corpo de Jesus ressuscitado
era o mesmo corpo dele:
“Jesus ressuscitado estabelece com seus discípulos relações diretas,
em que estes o apalpam e com Ele comem. Convida-os, com isso, a
reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a constatar que o
corpo ressuscitado com o qual Ele se apresenta a eles é o mesmo que foi
martirizado e crucificado, pois ainda traz as marcas de sua Paixão.
Contudo, este corpo autêntico e real possui, ao mesmo tempo, as
propriedades novas de um corpo glorioso: não está mais situado no espaço
e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando
quiser, pois sua humanidade não pode mais ficar presa à terra, mas já
pertence exclusivamente ao domínio divino do Pai. Por esta razão também
Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quiser: sob a
aparência de um jardineiro ou “de outra forma” (Mc 16,12), diferente das
que eram familiares aos discípulos, e isto precisamente para
suscitar-lhes a fé” (n.645).
Com essas palavras a Igreja deixa claro que Jesus podia aparecer de
maneiras diferentes (“como jardineiro ou outra forma”), já que seu corpo
ressuscitado tem propriedades novas por não estar mais sujeito ao tempo
e ao espaço. Isto significa que as leis da natureza já não tem mais
poder sobre o seu corpo, por isso Ele pode entrar e sair do Cenáculo
onde estão os Apóstolos, sem abrir a porta e sem rasgar as paredes; seu
corpo já não ocupa mais espaço como antes. É agora como se vivesse de
maneira “invisível”, embora pudesse se deixar ver quando quisesse.
Quando São Paulo explica como será o nosso corpo ressuscitado, ele
afirma que, da mesma forma, em Jesus “ressuscitarão com seu próprio
corpo, que têm agora”; porém, este corpo será “transfigurado em corpo de
glória”, em “corpo espiritual” (1Cor 15, 44): “Semeado corruptível, o
corpo ressuscita incorruptível (…) os mortos ressurgirão incorruptíveis.
(…) Com efeito, é necessário que este ser corruptível revista a
incorruptibilidade e que este ser mortal revista a imortalidade” (1Cor
15,35-37.42.52-53).
Alguns levantam a hipótese de que os discípulos no caminho de Emaús,
não o reconheceram porque o Senhor teria fechado os olhos deles para que
não o reconhecessem, só permitindo isso na fração do pão. O evangelista
São Lucas afirma que “os olhos deles estavam como que fechados, para
que o não conhecessem” (Lc 24,16) e “abriram-se-lhes então os olhos, e o
conheceram, e ele desapareceu-lhes” (Lc 24,31).
Parece-me, no entanto, que esta não é a melhor explicação, embora
possa ser possível, uma vez que a Igreja diz no Catecismo que o seu
corpo ressuscitado “pode tornar-se presente a seu modo, onde e quando
quiser”, com outras aparências, “diferente das que eram familiares aos
discípulos” (n 645).
De fato, diante de Jesus ressuscitado estamos perante um corpo em um
estado novo que é completamente desconhecido da criação natural. A
ciência não tem condições de explicar isso.
Outros alegam que os discípulos não o reconheceram por vários
motivos, como incredulidade (Jo 20,24-25); decepção (Jo 20.11-15); pavor
(Lc. 24,36-37); embaçamento da luz por ocasião da aurora (Jo
20,1,14-15), etc.. Mas essas hipóteses também não parecem ser as
melhores, tendo em vista que a Igreja afirma que o não reconhecimento
Dele foi “precisamente para suscitar-lhes a fé”; então, foi algo da
vontade de Jesus mesmo e não de outras causas.
Há que se notar que em todos os casos a dificuldade em reconhece-Lo
foi apenas temporário, em seguida o reconheceram; os discípulos em todas
as aparições do Mestre estavam absolutamente convencidos de que se
tratava do mesmo Jesus, no mesmo corpo físico que Ele possuía antes da
ressurreição.
E,
com esta certeza saíram pela mundo testemunhando corajosamente a Sua
ressurreição, enfrentando as perseguições e até a morte sem medo, tal
era a certeza e a alegria da ressurreição do Senhor. Isto foi a causa da
força com que evangelizaram o mundo.
Jesus ressuscitou em glória. Não carregava mais nossas fraquezas nem
enfermidades. Não estava mais desfigurado, e nem tinha mais a aparência
de um condenado, nem era mais desprovido de beleza como disse Isaías (Is
52,13; 53,12). Isto pode, de certa forma, ter também dificultado de
certa forma o Seu reconhecimento por seus discípulos, mas não foi a
causa mais importante.
São Paulo diz que “o Senhor Jesus Cristo transformará o nosso mísero
corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder
que tem de sujeitar a si toda criatura” (Fl 3.20). Só então poderemos
saber exatamente como é corpo de Jesus ressuscitado.
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