Pouco
antes de morrer, encarcerado em Roma, São Paulo escreveu sua última
carta a Timóteo. Nela ele recorda que é anunciador da mensagem
salvadora: “Cristo Jesus destruiu a morte, fez brilhar a vida e a
imortalidade” (2Tm2, 10).
Por causa deste ministério ele sofreu muito como mostra em 2Cor 11,
23-29. Para seguir o Cristo, Paulo deixou todos os seus títulos de
genuíno fariseu (Fl 3, 4-11) e enfrentou os desafios da pregação do
Evangelho “loucura e escândalo” (1Cor 1, 23). Foi, por isto, acusado de
subversivo contra César (cf. At 17, 7), nocivo à indústria dos ourives
em Éfeso (cf. At 19, 23-40), prejudicial ao comércio dos adivinhos (cf.
At 16, 16-19), traidor da Lei de Moisés (cf. At 18, 12-17). Suportou
tudo por a amor a Jesus. Nunca se arrependeu de ter confiado no Cristo.
Com alegria escreveu:
“Eis por que sofro estas coisas. Todavia… sei em quem pus a minha
confiança, e estou certo de que Ele é capaz de guardar o meu depósito
até aquele Dia” (2Tm 1, 12).
“Sei em quem acreditei”. Ele sabia que se entregou a sua vida não a
um mero homem, nem a uma facção poderosa, mas a Jesus Cristo, Filho de
Deus. Sabia que não seria decepcionado. Paulo termina a sua vida
dizendo:
“Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.
Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor,
justo Juiz, naquele Dia” (2Tm 4, 7s).
Essas palavras do Apóstolo e a sua atitude, devem ser modelo de vida
para nós cristãos. Quem abraça o Evangelho, deposita nas mãos de Jesus
Cristo toda a sua vida; não pertence mais a si, mas é selado como
propriedade dele (cf. 2Cor 1, 22; Ef 1, 13s). Esta decisão pode parecer
arriscada, mas é sumamente sábia. O cristão pode e deve dizer: “Sei em
quem pus a minha confiança…!” Jesus venceu o mundo, venceu o pecado,
aniquilou o inferno e assim salvou a humanidade. O mundo só pode mudar,
ser melhor, quando todos os homens e mulheres aceitarem Jesus como
Senhor e Salvador. Não adianta apenas enchermos as nossas ruas de
soldados e de polícia; é preciso mais, é preciso que todos vivam o que
Jesus ensinou.
Santo Agostinho procurou durante decênios a felicidade, e só a encontrou em Jesus Cristo; depois exclamou:
“Tarde eu te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde eu Te amei.
Mas como? Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora de mim… Tu estavas
comigo, e eu não estava contigo. Retinham-nos longe de Ti as criaturas,
que não existiriam se não existissem em Ti… Tu me chamaste, e teu clamor
venceu a minha surdez. Tu exalaste o teu perfume, eu respirei, e eis
que por Ti suspiro. Provei-Te, e tenho fome de Ti. Tu me tocaste e eu
ardo de amor por causa da paz que Tu me deste” (Confissões, I.X, c. 27).
O homem foi criado por Deus para o Infinito; e só Deus pode satisfazê-lo plenamente. Jesus veio nos trazer o céu, o Infinito.
Muitos, como Agostinho, procuram este Infinito, mas erradamente em
bagatelas e ídolos. São enganados pelos falsos valores da vida de tal
modo que se assemelham ao viajante que em sua caminhada, é seduzido
pelas flores e borboletas da estrada, e esquece a meta à qual desejava
chegar!
Só em Jesus Cristo está a nossa salvação. São Pedro deixou claro que
“nenhum outro nome nos foi dado no qual tenhamos a salvação” (At 4,12).
São Pedro explica-nos que essa salvação eterna foi conquistada “não
por bens perecíveis, como a prata e o ouro… mas pelo precioso sangue
de Cristo, o Cordeiro imolado” ( I Pe 1,18).
“Carregou os nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro, para que,
mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça. Por fim, por suas
chagas fomos curados” (1 Pe 2,24).
Jesus, nosso Senhor e Salvador, não teve dúvidas em oferecer ao Pai o
sacrifício teândrico (humano-divino) de sua Pessoa, para resgatar todos
aqueles que pela sua Encarnação fez seus irmãos. É a maior prova de
amor que já existiu. Esta verdade levou São Paulo a exclamar, quando
escreveu aos romanos:
“Eis uma prova maravilhosa do amor de Deus para conosco: quando ainda éramos pecadores Cristo morreu por nós” (Rom 5,8).
É pela fé no sangue do Senhor que somos justificados perante Deus
Pai, para vivermos uma vida nova, aqui e na eternidade. A nossa conta
com a justiça foi paga por Jesus.
Apesar de toda essa prova extraordinária do amor de Deus por nós,
muitos batizados renegam essa fé e vão buscar a salvação onde ela não
existe. Abandonando o verdadeiro e único Salvador, e a verdadeira e
única Igreja, vão buscar refúgio espiritual em tudo que é abominável a
Deus, como nos ensina a Bíblia (Deut 18,10-13).
Só há uma salvação e um único salvador: Jesus Cristo! Só há uma
Igreja, a qual Jesus incumbiu de levar a salvação, através dos sete
Sacramentos, a Igreja Católica. “Fora da Igreja não há salvação”, nos
ensina o Catecismo da Igreja ; isto é, “toda salvação vem de
Cristo-Cabeça através da Igreja que é o seu Corpo” (846).
E nessa fé São Paulo caminhava, e ninguém, nada o impedia de realizar
seu trabalho apostólico. Sua força era o seu Senhor: “Tudo posso
naquele que me conforta” (Fl 4,13). Sabia que não podia confiar em si
mesmo; antes, preferia assumir sua fraqueza e deixar que o Senhor agisse
nele livremente: “Para mim o viver é Cristo” (Fl 1,21). E dizia
triunfante na fé: “Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas,
para que habite em mim a força de Cristo. (…) Porque quando me sinto
fraco, então é que sou forte! (II Cor 12,9-10).
A força do cristão está em Cristo e não nele. Enquanto não
aprendermos aquilo que Jesus disse: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo
15,5), não poderemos ser instrumentos úteis para Deus implantar Seu
reino entre os homens. Na medida em que nos esvaziarmos de nós mesmos,
do nosso orgulho em querer ser melhores que os outros, de nossa vaidade
em querer aparecer (mesmo nas coisas de Deus), ou de nossa
auto-suficiência em achar que só nós estamos certos, aí então poderemos
ser úteis a Deus.
A História da Igreja comprova a certeza de São Paulo: “sei em quem
pus a minha confiança”! Nela podemos ver com clareza a sua
transcendência e divindade. Nenhuma instituição humana sobreviveu a
tantos golpes, perseguições, martírios e massacres durante 2000 mil
anos; e nenhuma outra instituição humana teve uma seqüência ininterrupta
de governantes. Já são 266 Papas desde Pedro de Cafarnaum.
Esta façanha só foi possível porque ela é verdadeiramente divina;
divindade esta que provém Daquele que é a sua Cabeça, Jesus Cristo. Ele
fez da Igreja o Seu próprio Corpo (cf. Cl 1,18), para salvar toda a humanidade.
A maior graça que recebemos do Pai foi a de nos tornarmos Seus
filhos, pela adoção em Jesus que assumiu a nossa natureza. São João
falou disso como a maior manifestação do amor de Deus por nós:
“Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados
filhos de Deus. E nós somos de fato. (…) Caríssimos, desde agora somos
filhos de Deus” (I Jo 3,1-2). E o mesmo Apóstolo afirmou que “a todos
aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de
se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12). Pela fé no nome de Jesus,
tornamo-nos filhos de Deus e “predestinados a ser conformes à imagem de
Seu Filho” (Rm 8,29).
Já que somos propriedade sagrada de Deus, não podemos viver de
qualquer jeito, desperdiçando a vida, o tempo e os talentos. Precisamos
viver para fazer a vontade de Deus. A Virgem Maria foi a criatura que
melhor viveu na terra essa realidade. “Eis aqui a serva do Senhor,
faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38a). E então o Verbo se fez
carne! Ser servo de Deus, escravo, quer dizer não ter vontade própria;
quer dizer obedecer irrestritamente à ordem do Senhor.
Pertencer a Deus é viver para os outros; é servir. Sem essa
preciosa auto-doação, a vida se esvazia e perde o sentido. É que Jesus
nos ensinou; é a receita simples, bela e poderosa para salvar o mundo.
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