quarta-feira, 9 de maio de 2012

A MORTE

A morte é a porta da vida eterna. Através dela se entra no além. É uma passagem obrigatória. “É destino do homem morrer” (Hb 9,27). Um destino que leva a marca da culpa original: “A morte é o salário do pecado” (1 Cor 15,21). Por isso é terrível morrer. E a morte nos demonstra cruamente quanto é verdadeira a palavra de Deus: “Lembra-te, homem, que és pó, e ao pó voltaras” (Gn 3,19).

Com a redenção operada por Jesus, porém, a morte na graça de Deus é o sinal da salvação eterna; para os Santos, a morte é a entrada no Paraíso. São Paulo parece gritar de alegria quando escreve: “Para mim a morte é um lucro” (Fl. 1,21). Por isto São Tomas Morus, condenado à morte pelos heréticos, no dia do suplício quis vestir sua roupa mais linda e preciosa. E São Carlos Borromeu se fez pintar um quadro sobre a morte, que figurava um moribundo cheio de serenidade; perto dele estava um anjo lindo com uma chave de ouro na mão, pronto para abrir a porta do Paraíso. Que graça é morrer Santo! “Preciosa para Deus é a morte dos seus Santos” (Sl 115,15).

Quando? Como? Onde?

A morte é a coisa mais certa, mas ignoramos quando virá, como virá, onde virá. Se pode morrer no seio materno, ou com cem anos de idade; se pode morrer na própria cama ou no meio da rua. Ao deitar-nos, não sabemos se veremos o sol; ao nos levantar, não sabemos se chegaremos a noite. Estamos certos só disso: “Não sabemos nem o dia nem a hora” (MT 25,13); a morte “chegará como um ladrão noturno” (1 Ts 5,2), ou seja, escondida e de surpresa. Por isso Jesus nos avisa com energia: “Estejais prontos! Porque na hora que não creis o filho do homem chegará” (Lc 12,40).

Quão grande deve ser a nossa loucura, senão queremos pensar na morte, porque, seguindo o que se diz, nos entristece a vida! E não refletimos que em tal modo nos parecemos como avestruzes, que põem a cabeça dentro da areia para não ver o perigo que as destrói.

Que tragédia será uma má morte; só entenderemos na eternidade. O demônio bem sabe quanto é saudável o pensamento da morte. Por isso, o faz parecer uma coisa horrível, tendo-nos despreocupados e felizes entre vícios e pecados.

Ao Papa Pio XI, um dia se apresentou uma senhora pedindo uma lembrança pessoal. O Papa estava na rua; observou a senhora vestida de luxo mundano; se inclinou ao chão, recolheu um pouco de pó e fez na testa da senhora uma cruz, dizendo: “lembra-te que és pó e ao pó voltarás”. Não lhe poderia dar uma lembrança mais pessoal!

Está sempre prontos

Somos capazes de preencher os nossos dias de trabalho, de divertimentos, de sexo, de política, de esportes, de fumo, de televisão e de internet. Vivemos amarrados e desorientados pelas tensões do lucro, do prazer, do sucesso. E nem nos preocupamos que no entanto estamos indo “lá onde todos são encaminhados” para a eternidade. E as realidades terrenas, os afazeres temporais, a saúde do corpo, as coisas materiais nos escravizam, nos adormecem em uma letargia espiritual que pode ser fatal. Jesus nos recomendou muitas vezes no evangelho de nos fazermos achar acordados espiritualmente e operosos para o reino dos céus: “bem aventurados aqueles servos que o patrão, em sua chegada, encontra acordados!” (Lc 12,37).

Estar “acordados”, estar “prontos”, significa sobretudo viver sempre na graça de Deus, evitando o pecado mortal ou pedindo imediatamente perdão e confessando-se o mais cedo possível, se houver a desgraça de cair. São João Bosco dizia aos seus jovens que acordassem até mesmo às duas da madrugada para se confessarem, se tivessem caído em pecado mortal. Deve ser esta a primeira e absoluta preocupação de todo o cristão: em qualquer momento a morte com a sua imperdoável “foice” (Ap 14,14), me deve achar na graça de Deus.

A graça de Deus é como o óleo das lâmpadas na parábola evangélica das dez virgens. As cinco virgens prudentes que tinham o óleo nas lâmpadas, entraram com o esposo às bodas; as cinco virgens distraídas, foram excluídas das bodas porque tinham as lâmpadas sem óleo. “Não vos conheço” foi a terrível palavra que o Senhor lhe disse (MT 25, 1,13). Pensemos, ao contrário, na morte de São Bento. Quando sentiu o momento da passagem à outra vida, o santo patriarca quis ser amparado em pé por dois monges, estava assim, com os braços levantados, no ato de “de ir ao encontro do esposo” (MT 25,6).

Na hora da nossa morte

De Nossa Senhora obteremos a graça de uma boa morte. Esta graça é tão importante que a Igreja nos ensina a pedí-la a cada Ave Maria: “rogai por nós, agora e na hora da nossa morte”. Feliz a morte de quem amou Maria, de quem invocou Maria! Santa Maria Madalena Sofia Barat dizia que “a morte de um verdadeiro devoto de Maria é um pulo de um menino entre os braços da mãe”. E São Boaventura escreveu que morrer “com a pura invocação da Virgem, é sinal de salvação”.

Quando São João Bosco teve a aparição de São Domingos Sávio poucos dias depois que este havia morrido, quis fazer-lhe esta pergunta:

- Diga-me Domingos, qual foi a coisa mais consoladora para ti, na hora da morte?

- Dom Bosco, adivinhe?

- Talvez o pensamento de ter bem guardado o lírio da pureza?

- Não.

- Talvez o pensamento das penitências feitas durante a vida?

- Nem isso.

- Então terá sido a consciência tranquila... livre de todo o pecado?

- Este pensamento me fez bem; mas a coisa mais consoladora pra mim na hora da morte foi pensar que tinha sido devoto de Nossa Senhora! Diga-o aos seus jovens e recomende com insistência a devoção a Nossa Senhora.

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