A morte é a porta da vida eterna. Através dela se entra
no além. É uma passagem obrigatória. “É destino do homem morrer” (Hb 9,27). Um
destino que leva a marca da culpa original: “A morte é o salário do pecado” (1
Cor 15,21). Por isso é terrível morrer. E a morte nos demonstra cruamente quanto
é verdadeira a palavra de Deus: “Lembra-te, homem, que és pó, e ao pó voltaras”
(Gn 3,19).
Com a redenção operada por Jesus, porém, a morte na graça
de Deus é o sinal da salvação eterna; para os Santos, a morte é a entrada no
Paraíso. São Paulo parece gritar de alegria quando escreve: “Para mim a morte é
um lucro” (Fl. 1,21). Por isto São Tomas Morus, condenado à morte pelos
heréticos, no dia do suplício quis vestir sua roupa mais linda e preciosa. E São
Carlos Borromeu se fez pintar um quadro sobre a morte, que figurava um moribundo
cheio de serenidade; perto dele estava um anjo lindo com uma chave de ouro na
mão, pronto para abrir a porta do Paraíso. Que graça é morrer Santo! “Preciosa
para Deus é a morte dos seus Santos” (Sl 115,15).
Quando? Como? Onde?
A morte é a coisa mais certa, mas ignoramos quando virá,
como virá, onde virá. Se pode morrer no seio materno, ou com cem anos de idade;
se pode morrer na própria cama ou no meio da rua. Ao deitar-nos, não sabemos se
veremos o sol; ao nos levantar, não sabemos se chegaremos a noite. Estamos
certos só disso: “Não sabemos nem o dia nem a hora” (MT 25,13); a morte “chegará
como um ladrão noturno” (1 Ts 5,2), ou seja, escondida e de surpresa. Por isso
Jesus nos avisa com energia: “Estejais prontos! Porque na hora que não creis o
filho do homem chegará” (Lc 12,40).
Quão grande deve ser a nossa loucura, senão queremos
pensar na morte, porque, seguindo o que se diz, nos entristece a vida! E não
refletimos que em tal modo nos parecemos como avestruzes, que põem a cabeça
dentro da areia para não ver o perigo que as destrói.
Que tragédia será uma má morte; só entenderemos na
eternidade. O demônio bem sabe quanto é saudável o pensamento da morte. Por
isso, o faz parecer uma coisa horrível, tendo-nos despreocupados e felizes entre
vícios e pecados.
Ao Papa Pio XI, um dia se apresentou uma senhora pedindo
uma lembrança pessoal. O Papa estava na rua; observou a senhora vestida de luxo
mundano; se inclinou ao chão, recolheu um pouco de pó e fez na testa da senhora
uma cruz, dizendo: “lembra-te que és pó e ao pó voltarás”. Não lhe poderia dar
uma lembrança mais pessoal!
Está sempre prontos
Somos capazes de preencher os nossos dias de trabalho, de
divertimentos, de sexo, de política, de esportes, de fumo, de televisão e de
internet. Vivemos amarrados e desorientados pelas tensões do lucro, do prazer,
do sucesso. E nem nos preocupamos que no entanto estamos indo “lá onde todos são
encaminhados” para a eternidade. E as realidades terrenas, os afazeres
temporais, a saúde do corpo, as coisas materiais nos escravizam, nos adormecem
em uma letargia espiritual que pode ser fatal. Jesus nos recomendou muitas vezes
no evangelho de nos fazermos achar acordados espiritualmente e operosos para o
reino dos céus: “bem aventurados aqueles servos que o patrão, em sua chegada,
encontra acordados!” (Lc 12,37).
Estar “acordados”, estar “prontos”, significa sobretudo
viver sempre na graça de Deus, evitando o pecado mortal ou pedindo imediatamente
perdão e confessando-se o mais cedo possível, se houver a desgraça de cair. São
João Bosco dizia aos seus jovens que acordassem até mesmo às duas da madrugada
para se confessarem, se tivessem caído em pecado mortal. Deve ser esta a
primeira e absoluta preocupação de todo o cristão: em qualquer momento a morte
com a sua imperdoável “foice” (Ap 14,14), me deve achar na graça de
Deus.
A graça de Deus é como o óleo das lâmpadas na parábola
evangélica das dez virgens. As cinco virgens prudentes que tinham o óleo nas
lâmpadas, entraram com o esposo às bodas; as cinco virgens distraídas, foram
excluídas das bodas porque tinham as lâmpadas sem óleo. “Não vos conheço” foi a
terrível palavra que o Senhor lhe disse (MT 25, 1,13). Pensemos, ao contrário,
na morte de São Bento. Quando sentiu o momento da passagem à outra vida, o santo
patriarca quis ser amparado em pé por dois monges, estava assim, com os braços
levantados, no ato de “de ir ao encontro do esposo” (MT
25,6).
Na hora da nossa morte
De Nossa Senhora obteremos a graça de uma boa morte. Esta
graça é tão importante que a Igreja nos ensina a pedí-la a cada Ave Maria:
“rogai por nós, agora e na hora da nossa morte”. Feliz a morte de quem amou
Maria, de quem invocou Maria! Santa Maria Madalena Sofia Barat dizia que “a
morte de um verdadeiro devoto de Maria é um pulo de um menino entre os braços da
mãe”. E São Boaventura escreveu que morrer “com a pura invocação da Virgem, é
sinal de salvação”.
Quando São João Bosco teve a aparição de São Domingos
Sávio poucos dias depois que este havia morrido, quis fazer-lhe esta
pergunta:
- Diga-me Domingos, qual foi a coisa mais consoladora
para ti, na hora da morte?
- Dom Bosco, adivinhe?
- Talvez o pensamento de ter bem guardado o lírio da
pureza?
- Não.
- Talvez o pensamento das penitências feitas durante a
vida?
- Nem isso.
- Então terá sido a consciência tranquila... livre de
todo o pecado?
- Este pensamento me fez bem; mas a coisa mais
consoladora pra mim na hora da morte foi pensar que tinha sido devoto de Nossa
Senhora! Diga-o aos seus jovens e recomende com insistência a devoção a Nossa
Senhora.
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