terça-feira, 22 de maio de 2012

A MISERICÓRDIA DIVINA

Igor Carneiro
http://www.linhadeconsciencia.com/2012/05/misericordia.html
O jovem filósofo estava em prantos, ajoelhado ao pé da cama. Seus erros não cabiam em seu coração. Não suportava sua imperfeição. Por mais que tentasse, sempre caía no mesmo erro. Por mais que não quisesse, excedia-se e cedia à menor das tentações. Eram mil coisas acerca disso que mutilavam seu ânimo em pensamentos, e ele chorava. Chorava aquele choro de angústia, sem lágrimas, pois não suportava mais a si mesmo.
Da pobreza, por a simples oferta de um livro bom, esquecia, a obediência era sobrepujada quase sempre pela sua inquietude e impulsividade e, como se não bastasse, por pouco ou nada perdia aquilo que chamam castidade.
Comparava-se sempre com os outros, com os santos, com Cristo, e se via demasiadamente distante. Não conseguia se aceitar. Até que, repentinamente, dentro de si, ouviu algo como que uma voz a dizer: “Meu filho, por que você está triste?” – Logo uma paz imensa invadiu o rapaz, mas não adiantou de muita coisa aquelas palavras, pois para ele, o dono daquela voz sabia muito bem o que estava acontecendo. A voz, entretanto, insistia: “Meu filho, se eu sou infinito, minha misericórdia é infinita, se eu sou eterno, também é eterna a minha misericórdia”. – O garoto, atrevido como era, questionava, dentro de si, o que significava aquela misericórdia infinita, mas, ao mesmo tempo em que isto fazia, em seu coração vinha a resposta:
“A misericórdia de Deus é infinita porque não tem limites. Por maior que seja o pecado, sobrepõe-no a sua misericórdia”. – Não bastasse a surpresa de estar compreendendo coisa tão grandiosa, aquele entendimento insistia: “Essa misericórdia também é infinita porque nunca se acaba, não tem início nem fim, e não tem nada que a supere ou destrua.” Outra pessoa se daria por satisfeito, por tão grande honra recebida, mas aquele garoto era arrojado demais para isso. Acontece que indagou, interiormente: “E porque é eterna?” Simultaneamente, a resposta veio: “É eterna porque existe em si mesma, porque está para além do tempo e de qualquer coisa terrena e material. A misericórdia de Deus é. Deus tem misericórdia antes, durante e depois da desobediência; Deus tem misericórdia além da desobediência. Deus é misericordioso, e o objeto dessa misericórdia não é o pecado, mas o pecador, independente de quem seja e de qual seja o pecado. Por isso é eterna, porque ela é”.
Aquela paz, já invadida, plenificou-se. Aquele rapaz sabia, por tudo que já tinha vivido, que essa didática do amor, da paciência, do perdão, da misericórdia, era coisa que funcionava perfeitamente. Quando agia por amor, não por obrigação, nem por imposição, tudo funcionava sem maiores obstáculos, e era por isso mesmo que ele sentia tanta dificuldade em viver, porque ninguém era assim consigo. Mas, o que acabara mesmo de descobrir, é que existia alguém que era, que é e que sempre será, e aquilo o confortava de modo indizível. Na verdade, inefável mesmo era aquela experiência. Só uma coisa inquietava aquele jovem coração. Era que aquela paz que ele sentia, a tantos outros faltavam, aquela misericórdia recebida, tantos a desconheciam e, aquela voz que ele ouviu, tantos nunca ouviram.
Seja por culpa de si ou de outrem, havia no mundo outro jovem que não sabia nem que Deus era misericordioso, e muito menos no que consistia essa misericórdia. É a dor de saber, porque ele sabia, que a misericórdia de Deus pode ser infinita e eterna, mas o homem pode não acolhê-la em seu coração. Ela é sem limites, em si, mas o homem pode limitá-la à sua vida, se assim quiser. É que aquelas palavras transmitidas por aquela voz, entraram em seu coração como uma sublime música, mas tantos nunca tiveram a oportunidade nem de conhecer o que elas diziam.

Nenhum comentário: