Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.” João 20,
22
O vento e a brisa
Tens tantos nomes, Ó Espírito,
mas de todos prefiro o vento,
o ar em movimento que agita tudo o que toca
e envolve em dança as folhas das árvores
e desalinha os cabelos longos das raparigas.
Vento que transportas os pólens
e assobias nas frestas da casa e da alma
murmurando palavras que só a vida ajuda a decifrar.
Vento e vendaval a levar e a trazer nuvens,
a agitar as águas em ondas que beijam os pés nus na areia,
e a enfunar as velas que dão asas aos barcos.
Vento que atiças o fogo adormecido
e avivas a luz da vela com risco de a apagares
se não a protegemos com a mão.
És o sopro com que Deus animou o barro,
o primeiro respirar e o último suspiro,
este vai e vem que nos mantém vivos
e nos traz a pestilência e o perfume.
Brisa da tarde que corrias no paraíso
quando Deus e o homem passeavam juntos,
que aquietaste as águas do dilúvio
e secaste o mar para a libertação dos hebreus.
És a brisa em que Elias descobriu Deus
o vento obediente à voz de Jesus sobre a tempestade,
o trovão que encheu de força os apóstolos.
Vem, de novo e sempre, sacudir-nos o pó do hábito,
espalhar-nos os papéis arrumadinhos e calculados
da paralisia dos nossos corações.
Empurra-nos para diante,
para o encontro surpreendente do outro,
para a coragem de não morrer
por medo de tentar ser e fazer alguém feliz.
Reanima-nos boca-a-boca
e insufla-nos o ar purificado e os perfumes
do amor criativo e fresco de que és abundante.
Vem, ó Vento-Espírito!
P. Vítor Gonçalves
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