quinta-feira, 27 de julho de 2023

16ª Semana do Tempo Comum - Sob o manto de parábolas.

 Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais  também chamou de apóstolos.” – Lectionautas Brasil

É Deus quem me ajuda, é o Senhor quem defende a minha vida. Senhor, de todo o coração hei de vos oferecer o sacrifício e dar graças ao vosso nome, porque sois bom (Sl 53,6.8).

Na Bíblia, a montanha é o lugar em que o Senhor se revela. Subir ao monte pode significar o itinerário espiritual que toda pessoa necessita percorrer rumo à Fonte da liberdade e da vida. Entremos nesse processo de conversão, acolhendo e celebrando os mistérios de Deus e de seu Reino.

Primeira Leitura: Êxodo 19,1-2.9-11.16-20

Leitura do livro do Êxodo 1No dia em que se cumpriam três meses da saída do Egito, Israel chegou ao deserto do Sinai. 2Partindo de Rafidim, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Israel armou ali suas tendas, defronte da montanha. 9E o Senhor falou a Moisés: “Virei a ti numa nuvem escura, para que o povo ouça quando eu falar contigo e creia sempre em ti”. 10Tendo Moisés transmitido ao Senhor as palavras do povo, o Senhor lhe disse: “Vai ao povo e santifica-os hoje e amanhã. Eles devem lavar as suas vestes 11e estar prontos para o terceiro dia, pois nesse dia o Senhor descerá diante de todo o povo sobre a montanha do Sinai”. 16Quando chegou o terceiro dia, ao raiar da manhã, houve trovões e relâmpagos. Uma nuvem espessa cobriu a montanha, e um fortíssimo som de trombetas se fez ouvir. No acampamento o povo se pôs a tremer. 17Moisés fez o povo sair do acampamento ao encontro de Deus, e eles pararam ao pé da montanha. 18Todo o monte Sinai fumegava, pois o Senhor descera sobre ele em meio ao fogo. A fumaça subia como de uma fornalha, e todo o monte tremia violentamente. 19O som da trombeta ia aumentando cada vez mais. Moisés falava e o Senhor lhe respondia através do trovão. 20O Senhor desceu sobre o monte Sinai e chamou Moisés ao cume do monte. E Moisés subiu. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Dn 3

A vós louvor, honra e glória eternamente!

1. Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / Sede bendito, nome santo e glorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

2. No templo santo onde refulge a vossa glória. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E em vosso trono de poder vitorioso. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

3. Sede bendito, que sondais as profundezas. / A vós louvor, honra e glória eternamente! / E superior aos querubins vos assentais. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

4. Sede bendito no celeste firmamento. / A vós louvor, honra e glória eternamente! – R.

5. Obras todas do Senhor, glorificai-o. / A ele louvor, honra e glória eternamente! – R.

Evangelho: Mateus 13,10-17

Aleluia, aleluia, aleluia.

Graças te dou, ó Pai, / Senhor do céu e da terra, / pois revelaste os mistérios do teu Reino aos pequeninos, / escondendo-os aos doutores! (Mt 11,25) – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 10os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que tu falas ao povo em parábolas?” 11Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado. 12Pois à pessoa que tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem será tirado até o pouco que tem. 13É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque, olhando, eles não veem e, ouvindo, eles não escutam nem compreendem. 14Desse modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir sem nada entender. Havereis de olhar sem nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’. 16Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, desejaram ouvir o que ouvis e não ouviram”. – Palavra da salvação.

Reflexão:

 A finalidade dos sermões parabólicos de Nosso Senhor não parece ser outra além da que flui espontaneamente da natureza de uma parábola, ou seja, propor e descrever, a partir de algo sensível tomado quer da natureza (v.gr., um grão de mostarda, os lírios do campo), quer da sociedade humana (v.gr., as bodas de um filho, o arrendamento de uma vinha), uma verdade de ordem superior, em matéria de fé ou moral. Há entretanto uma passagem dos sinóticos que parece contradizer esse fim. É aquela em que Jesus, logo após a parábola do semeador, responde aos discípulos por que falava às turbas por semelhanças e figuras (Mt 13, 13): “Porque olhando, eles não vêem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem. Deste modo se cumpre neles a profecia de Isaías (6, 9): ‘Havereis de ouvir, sem nada entender’” etc.; em Marcos (4, 12): “Desse modo, eles olham sem ver, escutam sem compreender”; em Lucas (8, 10): “De forma que vendo não vejam, e ouvindo não entendam”. Para compreender o sentido dessa passagem, deve-se notar o seguinte. 1.º) As parábolas de Cristo eram, em si mesmas, aptas para ensinar a verdade, e com esse objetivo, como se vê pela índole delas e pelo espírito pedagógico que anima todo o Evangelho, foram propostas por Nosso Senhor. — 2.º) Às vezes, porém, se valia Jesus deste método de ensino para expor a doutrina do Reino de maneira enigmática, sob o manto de certa obscuridade. Atestam-no explicitamente os evangelistas, ao menos no caso das parábolas do lago (cf. Mt 13, passim), embora seja provável que o Senhor o tenha feito noutras ocasiões. — 3.º) Este como que ocultamento da verdade procedia não tanto da vontade de Cristo como da indisposição dos ouvintes. Por isso, cumpre distinguir: a) aos discípulos e israelitas piedosos, que buscavam a verdade e a justiça, as parábolas serviam como instrumento não de punição, mas de iluminação; b) aos escribas e fariseus, que buscavam qualquer palavra mal colocada para acusarem o Mestre, essa pregação enigmática tinha como efeito ocultar de facto a verdade, para que não fossem atiradas aos porcos as pérolas da doutrina divina (cf. Mt 7, 6).

E as turbas? Também delas escondeu Cristo a verdade revelada? Acaso lhes falou por parábolas tendo em vista algum outro fim que não o de as instruir e iluminar? À primeira vista, parece que não. Se, com efeito, lermos a versão de S. Marcos, que refere neste ponto as intenções de Cristo em termos mais duros que os demais evangelistas, não veremos nas turbas indícios de infidelidade e obstinação, mas, pelo contrário, de docilidade e desejo de escutar o Evangelho. Como, pois, o mansíssimo Jesus seria capaz de esconder a verdade das turbas que a Ele acorriam? Observe-se que: 1.º) as turbas acudiam a Jesus movidas não tanto por desejo de justiça e verdade como pela ânsia desordenada de bem-estar terreno; 2.º) os evangelistas fazem questão de notar que, naquele dia, Jesus não ensinou o Evangelho a não ser por parábolas (cf. Mt 13, 34; Mc 4, 33s); 3.º) isto supõe, nas diferentes classes de ouvintes, diferentes luzes e capacidades, como se diz logo em seguida: “Porque a vós é dado compreender” etc. (Mt 13, 11); 4º) esta dissimulação da verdade não era, como diz o próprio Marcos (4, 33), penalidade, mas misericórdia: “Era por meio de numerosas parábolas desse gênero que ele lhes anunciava a palavra, conforme eram capazes de compreender” (καθὼς ἠδύναντο ἀκούειν), isto é, de modo imperfeito, por uma revelação algo obscura, segundo o exíguo entendimento deles. Cristo, portanto, ocultou de certo modo a doutrina do Reino, não para deixar cegas as turbas, mas para lhes insinuar a verdade e estimular o desejo de uma compreensão mais plena. Assim, não lhes revelando abertamente os mistérios, como no Sermão da Montanha, evitava a um tempo lançar o que é santo aos cães e induzir os ouvintes, crendo-se já suficientemente instruídos, a maior soberba e infidelidade [1]. É mais correto dizer, pois, que Cristo falava às turbas em parábolas, não para que não entendessem e ficassem cegas, mas porque já eram cegas e pouco dispostas para acolher as verdades do Reino.

 

Referências

  1. Tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 204-205, n. 132.https://padrepauloricardo.org/episodios/sob-o-manto-de-parabolas

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