sábado, 25 de fevereiro de 2023

Sábado depois das Cinzas - A murmuração.

 A murmuração

(roxo – ofício do dia)

Atendei-nos, Senhor, na vossa grande misericórdia; olhai-nos, ó Deus, com toda a vossa bondade (Sl 68,17).

A liturgia nos exorta à prática da justiça e da caridade: “Se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas tua luz”. Nossa adesão a Jesus exige de nós o amor ao próximo, sem omitir o devido culto a Deus.

Primeira Leitura: Isaías 58,9-14

Leitura do livro do profeta Isaías – Assim fala o Senhor: 9“Se destruíres teus instrumentos de opressão e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; 10se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. 11O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão. 12Teu povo reconstruirá as ruínas antigas; tu levantarás os fundamentos das gerações passadas: serás chamado reconstrutor de ruínas, restaurador de caminhos, nas terras a povoar. 13Se não puseres o pé fora de casa no sábado nem tratares de negócios em meu dia santo, se considerares o sábado teu dia favorito, o dia glorioso, consagrado ao Senhor, se o honrares, pondo de lado atividades, negócios e conversações, 14então te deleitarás no Senhor; eu te farei transportar sobre as alturas da terra e desfrutar a herança de Jacó, teu pai”. Falou a boca do Senhor. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 85(86)

Ensinai-me os vossos caminhos / e na vossa verdade andarei.

1. Inclinai, ó Senhor, vosso ouvido, / escutai, pois sou pobre e infeliz! / Protegei-me, que sou vosso amigo, † e salvai vosso servo, meu Deus, / que espera e confia em vós! – R.

2. Piedade de mim, ó Senhor, / porque clamo por vós todo o dia! / Animai e alegrai vosso servo, / pois a vós eu elevo a minha alma. – R.

3. Ó Senhor, vós sois bom e clemente, / sois perdão para quem vos invoca. / Escutai, ó Senhor, minha prece, / o lamento da minha oração! – R.

Evangelho: Lucas 5,27-32

Glória a vós, Senhor Jesus, / primogênito dentre os mortos!

Não quero a morte do pecador, diz o Senhor, / mas que ele volte, se converta e tenha vida (Ez 33,11). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 27Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. 28Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu. 29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?” 31Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”. – Palavra da salvação.

Reflexão
 

O Evangelho deste sábado nos narra a conversão de São Mateus, também chamado Levi. Após converter-se e abandonar a sua coletoria de impostos, Mateus oferece um banquete a Nosso Senhor. Hipócritas e maledicentes, os fariseus passam então a murmurar contra Jesus: "Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?", dizem aos discípulos do Mestre. Com sabedoria e serenidade inigualáveis, Cristo lhes responde: "Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão", porque, afinal de contas, é o doente quem precisa de médico, e não os que são sadios. Muitos são os detalhes e os ensinamentos que esta passagem encerra; hoje, porém, vamo-nos deter no pecado que vemos escorrer da língua bífida dos fariseus: a murmuração. Façamos, pois, um bom exame de consciência e vejamos se não é essa mais uma das muitas faltas em que nos habituamos a cair.

O pecado da murmuratio, ao contrário do que se costuma pensar, não consiste nem na maledicência (pela qual anunciamos aos quatro ventos os defeitos alheios) nem na calúnia (que nos leva a atribuir aos demais imperfeições ou pecados que eles não têm ou não cometeram). A murmuração é, fundamentalmente, a tentativa de destruir o relacionamento entre as pessoas. Ora, vejamos o que fazem hoje os fariseus. Não vão eles até os seguidores de Jesus com o único propósito de desmerecer o Mestre aos olhos dos discípulos? "Como podeis sentar-se com pecadores?", afetam-se de indignação. "Acaso não vos envergonhais de seguir os passos de alguém que frequenta a casa de cobradores de impostos, que se dirige a leprosos e prostituas? Por que, afinal, não vos afastais de quem vos leva por tão mal caminho?" Eis aí a malícia desses sepulcros caiados, que com ardis, com perguntas dúbias, com falsos escândalos querem minar a amizade de Cristo com os discípulos.

Ora, não são as amizades coisa mais preciosa do que os mais preciosos bens? Portanto, não é a murmuração falta mais grave, mais daninha, mais perniciosa do que o próprio furto? Por que então tanto nos comprazemos em separar amigos, em afastar de Jesus quem dele se vai achegando? Não é isso o que fazemos ao criticar a Igreja, o Papa, o pároco, o ministro, a secretária, a faxineira e quantos estão dentro de nossas paróquias? Quantas almas já não teremos escandalizado e impressionado ao descobrir-lhes faltas que em nós mesmos não temos a coragem de reconhecer? E assim vamos dilacerando o tecido de nossas comunidades, vamos espantando da Igreja os que, se não fossem os nossos comentários inoportunos, poderiam agora fazer parte do rebanho de Cristo. Que o Senhor nos tire da língua este mal terrível e nos leve a reconhecer sobretudo as nossas próprias e tão inumeráveis misérias!

 

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