Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo poder é eterno.
Jesus se fez “em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso, digno de confiança nas coisas referentes a Deus”. Desfrutemos, nesta celebração, da misericórdia daquele que nos liberta de todo mal.
Leitura da carta aos Hebreus – 14Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para assim destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão. 16Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. 17Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18Pois, tendo ele próprio sofrido ao ser tentado, é capaz de socorrer os que agora sofrem a tentação. – Palavra do Senhor.
O Senhor se lembra sempre da Aliança.
1. Dai graças ao Senhor, gritai seu nome, / anunciai entre as nações seus grandes feitos! / Cantai, entoai salmos para ele, / publicai todas as suas maravilhas! – R.
2. Gloriai-vos em seu nome que é santo, / exulte o coração que busca a Deus! / Procurai o Senhor Deus e seu poder, / buscai constantemente a sua face! – R.
3. Descendentes de Abraão, seu servidor, / e filhos de Jacó, seu escolhido, / ele mesmo, o Senhor, é nosso Deus, / vigoram suas leis em toda a terra. – R.
4. Ele sempre se recorda da Aliança, / promulgada a incontáveis gerações; / da Aliança que ele fez com Abraão / e do seu santo juramento a Isaac. – R.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Minhas ovelhas escutam minha voz, / eu as conheço e elas me seguem (Jo 10,27). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos – Naquele tempo, 29Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, para a casa de Simão e André. 30A sogra de Simão estava de cama, com febre, e eles logo contaram a Jesus. 31E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu, e ela começou a servi-los. 32À tarde, depois do pôr do sol, levaram a Jesus todos os doentes e os possuídos pelo demônio. 33A cidade inteira se reuniu em frente da casa. 34Jesus curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios. E não deixava que os demônios falassem, pois sabiam quem ele era. 35De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36Simão e seus companheiros foram à procura de Jesus. 37Quando o encontraram, disseram: “Todos estão te procurando”. 38Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim”. 39E andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios. – Palavra da salvação.
O Evangelho de hoje nos narra a cura da sogra de São Pedro. Este episódio ocorre logo após a expulsão do demônio na sinagoga de Cafarnaum, conforme ouvimos na Liturgia de ontem. Há, portanto, uma continuidade essencial entre esse dois eventos e, por isso, é importante lembrarmo-nos de alguns detalhes que a leitura desta 4.ª-feira dá por pressupostos. Jesus e seus quatro primeiros discípulos estão, pois, em Cafarnaum, cidade às margens do Mar da Galileia. Encontramo-los na sinagoga da cidade num dia de sábado. Ali, o Senhor cura um homem possesso por um espírito impuro. Além de romper o preceito sabático de descanso, Cristo gera grande espanto nos circunstantes, que se interrogam entre si: "Que é isso? [...] Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!" (Mc 1, 28) Logo em seguida, dirige-se com os apóstolos à casa de Pedro e André, onde sucedem os acontecimentos que ouvimos há pouco.
Se bem considerado, o conjunto desta narrativa nos faz voltar às primeiras páginas do Livro do Gênesis, em que vemos registrado todo o drama da Queda. Deus, tendo criado o mundo em seis dias, consagra o sétimo ao repouso. O homem, porém, por sugestão da serpente, se entrega ao pecado e, assim, leva o Senhor a romper o sábado para vir resgatá-lo. A iniquidade como que tira o Senhor do seu repouso, fazendo-o descer até ao homem a fim de o curar da miséria em que ele mesmo se colocou. São Beda, o Venerável, percebe a perfeita harmonia que, sob uma perspectiva mística, existe entre o relato do Gênesis e os acontecimentos dessa página do Evangelho. Com efeito, uma vez que o pecado entrou no mundo pela serpente e pela mulher, era conveniente que Cristo, após expulsar o demônio num dia de descanso, curasse logo em seguida uma mulher dos males que, pelo pecado, a serpente introduziu na história.
De fato, que é esta febre que retém na cama a sogra de Pedro senão
aquela sanha, aquele desejo febril com que Eva, desejando a doçura do
fruto, levou a humanidade toda, figurada na sogra de Simão, a desejar
não mais a Deus, mas as criaturas por Ele feitas? É uma febre que macula
o coração, que tira o juízo da alma, entorpecendo-a, prendendo-a aos
prazeres mesquinhos da vida, à "cama" deste "jardim de delícias"
proibidas. Por isso, tão logo Jesus a cura da febre da avidez e da
concupiscência, a sogra de Pedro, esquecida de si e do seu egoísmo,
passar a servir a todos, com um coração livre e desapegado.
Peçamos, pois, que o Senhor se digne vir também à nossa casa e,
rompendo com amor o seu sábado, nos livre deste sezão que nos leva a
esquecer de amar o maior e mais deleitável bem que pode haver: o próprio
Deus. Que a Virgem Santíssima, nova e imaculada Eva, nos proteja das
investidas da serpente e, com zelo de mãe, cuide de nossas febres e
feridas.
https://padrepauloricardo.org
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